PSD – Clarificar é clarificar!

A busca pela simplicidade das coisas torna natural que se compare o repto de Luís Montenegro a Rui Rio ao de António Costa a António José Seguro.

O PSD sempre foi o partido que melhor traduziu os sentimentos e as aspirações dos portugueses. É, por isso, justamente reconhecido como o partido mais português de Portugal. Que representa o ser português, nos seus defeitos, mas também nas suas imensas qualidades. Composto por homens e mulheres livres, com diferentes pensamentos e sensibilidades, de constante inquietude, com espírito reformista e personalista, apresenta uma história de mais de quatro décadas de mãos dadas com os Portugueses. Por tudo isto, e apesar da incompreensão e estupefação de muitos, existe e resiste.

Hoje o PSD tem um líder eleito. Rui Rio tem a sua legitimidade conferida por mais de 22 mil militantes, após um processo de eleições diretas. Trocaram-se congressos únicos que só o PSD oferecia por uma legitimidade alargada e direta do líder. É este o quadro político (mais do que jurídico) do partido: o líder é eleito pelo universo de todos os militantes.

Face ao desafio lançado por Luís Montenegro à sua liderança, Rui Rio concordou, e bem, que é preciso uma clarificação. Concordou que a sua legitimidade, dada por milhares de militantes, deve ser reconfirmada. E só há duas situações em que um líder sente necessidade de reconfirmar a sua liderança: ou porque entende que tem hoje mais apoio do que ontem e pretende que o mesmo seja demonstrado (como fez Alberto João Jardim em eleições antecipadas na Madeira em 2007) ou porque pretende dissipar quaisquer dúvidas sobre a manutenção da sua base de apoio (o que, creio ser evidente para todos, é o caso atual de Rui Rio).

Se Rio esteve bem em interpretar a realidade política e a necessidade de clarificação, errou absolutamente no meio. Nunca se reconfirma, muito menos se reforça, uma liderança eleita num universo de dezenas de milhares de militantes através de um órgão no qual pouco mais de 100 companheiros têm direito a voto. A clarificação que, sublinho, o próprio presidente do partido entende necessária, só pode ser alcançada por via de diretas e não de indiretas.

O princípio que Rui Rio sempre recorda, e estou seguro de que o faz com convicção, “o país antes do partido, o partido antes da nossa circunstância pessoal”, leva a que questionemos: deste impasse, e desta reconhecida necessidade de clarificação, o PSD sairá mais reforçado com Rui Rio sufragado em Conselho Nacional ou com Rui Rio, Luís Montenegro ou qualquer outro companheiro eleito em eleições diretas? A resposta é, para mim, óbvia. Assim, e por paradoxo, a única possibilidade de Rui Rio reafirmar e reforçar a sua liderança é ver a sua própria moção de confiança reprovada e, de seguida, se for essa a vontade dos militantes, vencer as eleições.

Com uma declaração prévia - a de que, caso seja devolvida a voz aos militantes, apoiarei Luís Montenegro -, deixo duas notas finais. A primeira é de que entendo que, para Luís Montenegro, seria mais confortável que esperasse por uma previsível derrota do PSD. Seria melhor “táctica”, como agora se diz. Teria, em outubro, o partido a clamar por si, sem oposição interna, mas recebendo um partido desmobilizado e diminuído, num país nas mãos de um Governo que, entre cativações, adiamentos, ilusões e anúncios desperdiça oportunidades para o nosso futuro coletivo.

Montenegro preferiu respeitar a história do PSD e tomar a iniciativa. Com espírito inconformista e sentido de responsabilidade. Sujeitando-se a críticas, incompreensões e, lamentavelmente, a adjetivações pessoais. Correndo o risco da adesão e da renúncia, porque sem esse risco a política é mesmo uma chatice. Mas também com ética. Porque não ético seria fazer de conta e não agir.

Por fim, a busca pela simplicidade das coisas torna natural que se compare o repto de Luís Montenegro a Rui Rio ao de António Costa a António José Seguro. Entendo, contudo, que há uma diferença que separa cristalinamente as situações: António Costa desafiou Seguro porque acreditava que o PS venceria as eleições, não se conformando que pudesse ser Seguro e não ele próprio a ser primeiro-ministro. Luís Montenegro desafia Rio porque acredita que o PSD perderá, sem dar luta, as legislativas, não se conformando que o PSD se reduza a uma pequenez que não está no seu ADN nem na sua vocação. É toda uma diferença!

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