Às costas

É melhor começarmos já a afeiçoarmo-nos àquela dorzinha nas costas, para conhecê-la melhor e arranjar maneira de não a zangar - como fingir que ela se irá embora.

Será a notícia mais deprimente do ano? Reumatologistas americanos acompanharam 13 mil doentes com dores nas costas ao longo de 17 anos e chegaram à conclusão que só 20,5 por cento é que conseguiram recuperar.

Vem no último número da Arthritis Care & Research, caso alguém tenha a coragem de lá ir ver. Fica a consolação que quem sofre das costas está bem acompanhado. Somos 4 em cada 5 a não melhorar ao longo do tempo. Pelo menos sabemos o que temos pela frente.

A esperança dos velhos é que as maleitas piorem devagar. A sorte dos jovens é pensar que tudo passa. Por alguma razão este era o tema da vida e da obra de Samuel Beckett. Reconhecer o declínio não ajuda a sofrê-lo mas, pelo menos, avisa os incautos e inocentes que o que vem aí não é coisa boa.

Quanto ao 1 em 5 que vai ter sorte os autores do estudo confessam que coincide com um uso maior de opiáceos e antidepressivos. Ou seja mesmo os 20,5 por cento que aliviaram as dores tiveram de se encher de comprimidos.

Podemos especular que sem a ajuda dos comprimidos é provável que só 1 em 10 se safasse? Ou nem isso?

Todos estes doentes foram tratados com tudo o que a medicina oferece. Foram operados e medicados. Fizeram fisioterapias. Compraram colchões caros. Dormiram no chão. Mudaram-se para climas mais simpáticos. E, sempre, deslocaram-se, esperaram, tiveram paciência e pagaram as contas.

É melhor começarmos já a afeiçoarmo-nos àquela dorzinha nas costas, para conhecê-la melhor e arranjar maneira de não a zangar - como fingir que ela se irá embora.

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