Quem é Juan Guaidó, o homem que desafia Nicolás Maduro?

Um líder acidental faz frente ao “chavismo”. Guaidó é um deputado de 35 anos pouco conhecido, que chegou à presidência da Assembleia Nacional na sequência da perseguição aos principais líderes da oposição.

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Juan Guaidó é o actual presidente da Assembleia Nacional venezuelana CARLOS GARCIA RAWLINS/Reuters

Há poucos dias, Juan Guaidó – o homem que já é visto por muitos, dentro e fora da Venezuela, como Presidente interino do país – era um deputado anónimo. A impiedosa perseguição do regime “chavista” aos líderes da oposição catapultou este engenheiro de 35 anos para uma tarefa colossal.

Nicolás Maduro fez questão em pronunciar o seu nome de forma errada, mas Juan Guaidó promete ser a mais recente dor de cabeça do Presidente venezuelano. Depois de assumir a presidência da Assembleia Nacional, este deputado invocou a Constituição para se posicionar como Presidente interino da Venezuela, contra Maduro, a quem chamou de "usurpador".

Ao abrigo do entendimento entre as várias forças políticas que compõem a Mesa de Unidade Nacional (MUD), maioritária na Assembleia Nacional, a liderança da câmara é rotativa a cada ano. Em 2019, é a vez de a Vontade Nacional assumir a presidência do hemiciclo, mas a sua direcção foi praticamente decapitada por Nicolás Maduro. O carismático Leopoldo López está em prisão domiciliária desde Agosto de 2017. Outros líderes experientes como Freddy Guevara, que está refugiado na embaixada chilena em Caracas, ou como Carlos Vecchio, exilado nos EUA, também não puderam assumir a presidência.

A tarefa recaiu em Guaidó, um ex-dirigente estudantil, eleito pela primeira vez como deputado em 2015, pelo estado de Vargas (na costa norte). O seu percurso público começou como dirigente estudantil, enquanto frequentava a Universidade Católica Andrés Bello, onde se formou em engenharia civil. Foi na universidade que ajudou a fundar o Vontade Popular, ao lado de López, em 2009. Tal como muitos líderes da oposição ao “chavismo”, Guaidó também estudou nos EUA, na Universidade George Washington.

Nas eleições de 2010 foi eleito deputado suplente nas listas do partido. Notabilizou-se pela participação numa greve de fome em 2015 organizada para exigir a marcação de eleições legislativas – nas quais acabaria eleito, com quase cem mil votos, fazendo parte da maioria que controla agora a Assembleia Nacional.

É definido como um “centrista” pelos seus colaboradores mais próximos, diz o jornal argentino Clarín. No parlamento, trabalhou em projectos de defesa da soberania da Venezuela sobre Esequibo, uma região disputada com a Guiana, e denunciou as ramificações da Operação Lava-Jato no país.

Na adolescência, Guaidó foi um dos sobreviventes da “tragédia de Vargas”, como ficaram conhecidas as grandes inundações de 1999 no Norte da Venezuela, em que morreram mais de dez mil pessoas. Para a missão que tem pela frente – em que vai enfrentar um aparelho que apesar de enfraquecido mantém o controlo sobre o Governo, os tribunais e as Forças Armadas – este líder acidental terá de apurar ainda mais o seu instinto de sobrevivência.

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