Em Coimbra vai soar um concerto que ninguém sabe como vai ser

Projecto junta 200 pessoas de 19 concelhos da região de Coimbra, entre músicos profissionais e amadores.

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Adriano Miranda
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Ainda antes de a orquestra que o enfrenta experimentar uma nota, o maestro Tim Steiner inicia um prelúdio: “Restam três noites de ensaio. Se houver alguma coisa que não consigam tocar, não se preocupem”. As soluções apresentadas vão desde inventar um outro caminho a não fazer nada. “Esta música está em mudança e vai continuar a mudar”. Os conselhos poderão ser úteis a um grupo de pouco menos de 200 pessoas, entre músicos profissionais a amadores, que ensaia em conjunto pela primeira vez a três dias da estreia. 

Nas costas, o maestro britânico tem as 1125 cadeiras vagas do grande auditório do Convento São Francisco, em Coimbra, onde este sábado tem lugar o concerto de estreia da Orquestra Comunitária Nós 19. A iniciativa é da Comunidade Intermunicipal da Região de Coimbra (CIM-RC), no âmbito do programa Coimbra Região de Cultura, que convidou a Onda Amarela, a “desenvolver um projecto que fosse a criação de uma performance que conseguisse por no palco do CSF comunidades musicais dos 19 municípios”, explica Ricardo Baptista, responsável da empresa de gestão cultural. 

O processo de selecção começou com a indicação das 19 autarquias de possíveis comunidades musicais e a abertura de uma chamada a quem quisesse participar. “Queríamos um grupo muito diverso”, conta Ricardo Baptista. O resultado pode encaixar no conceito de diversidade. Na orquestra há membros de ranchos, de bandas filarmónicas, coros e do grupo de samples da Associação de Paralisia Cerebral de Coimbra. Mas há também uma harpa clássica, um piano de cauda, bandolins e 10 crianças de 10 anos que tocam guitarra eléctrica. 

Aos 20 anos, Beatriz Cortesão frequenta o segundo ano da licenciatura em harpa clássica, em Milão. O convite para participar na orquestra chegou-lhe via autarquia da Mealhada, de onde é natural. “Aceitei porque ia ser um projecto completamente diferente, dos oito aos 80 anos”. Também é diferente da formação clássica a que está habituada, em que a margem para o improviso rareia.

Mais atrás, Maria do Carmo Carvalho, de 66 anos, faz parte do coro da APRe!, a associação que junta aposentados, pensionista e reformados. [O facto de] “Ser tudo de improviso desperta curiosidade”, afirma. 

O som da região

Sentado ao piano de cauda Steinway & Sons, Paul van Hasselt vai desentorpecendo os dedos enquanto os restantes membros da orquestra vão assumindo posições. O holandês de 60 anos vive há cerca de seis anos em Pardieiros, uma aldeia de Arganil, e juntou-se ao projecto na companhia de Kin Thiessen, violinista, que vive por perto.

Paul explica que está mais habituado a tocar música clássica e tango e que o trabalho nesta orquestra é uma novidade. “Não temos ideia do que vai acontecer no sábado”.
Um princípio que pode parecer problemático, mas o objectivo é mesmo esse, explica Tim Steiner, que não é novo nestas andanças. Tem trabalhado com a Onda Amarela noutros projectos comunitários, como é exemplo a Operação Big Bang em Guimarães, 2012, quando a cidade foi a Capital Europeia da Cultura. “Queria que soasse singular.

Estou interessado em música que possa apenas ser tocada por pessoas que a estão a tocar naquele instante e não música que possa ser feita por outro grupo de pessoas. Quero que a música soe às pessoas de Coimbra. [Que esteja] infundida com o aspecto, o cheiro, o som e a cultura desta região”, afirma. 

Daí que o processo seja colaborativo. “O tipo de música que eu escrevo é muito aberto. Tudo começa com o improviso e a ouvir os músicos e os tipos de coisas que eles conseguem fazer”, descreve. “Depois, respondo a isso com o tipo de material que escrevo”. As cinco peças do concerto de cerca de 1h30 resultam desse processo. 

No caso da orquestra Nós 19, começou com oficinas regionais em Montemor-o-Velho, Arganil e Vila Nova de Poiares, entre Outubro e Dezembro. “Foi a partir daí que o grupo foi dando ideias, sugerindo o que era mesmo específico desta região.

Descobrimos que o rio, a água, o Mondego e os seus afluentes, é das poucas coisas que liga uma região que vai quase da Serra da Estrela à Figueira da Foz”, refere Ricardo Baptista. Com a junção desses elementos surgiu “o som do grupo”. 

A logística para juntar pessoas de pontos tão dispersos também faz com que a estreia tenha uma sonoridade diferente. “Provavelmente, só no sábado teremos toda a gente”, acrescentava Ricardo Baptista a três dias do concerto. 

António Sabugueiro, do grupo de concertinas de Machio, da Pampilhosa da Serra, também lida com essa margem de incerteza, antecipando que no concerto deverão estar quatro ou cinco concertinas. Aos 78 anos, toca concertina há 60, e explica que é “um bocado difícil” encaixar nos outros instrumentos. “Tentamos adaptar, mas por vezes não se consegue”. Tanto que “uma concertina não é um acordeão, tem um som mais limitado”, explica. 

A entrada para o concerto de hoje é gratuita, mas sujeita a reserva. E depois? “É uma boa pergunta. Este processo faz com se crie uma comunidade. Depois, vamos ver o que acontece para a frente”, afirma Ricardo Baptista. Não estão ainda agendadas novas datas. 

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