Só equipamento, e não tropas dos EUA, estão a sair da Síria

Responsáveis militares norte-americanos contrariam anúncio vago feito por porta-voz das forças de Washington que colaboram com os curdos. Impera a confusão.

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Um veículo militar norte-americano na cidade de Amuda, no Norte da Síria Rodi Said/REUTERS

Os Estados Unidos fizeram declarações contraditórias sobre a retirada das suas forças na Síria. O coronel Sean Ryan, o porta-voz das forças norte-americanas no país, anunciou que se tinha iniciado o processo de retirada, para ser mais tarde desmentido por responsáveis militares dos EUA, que asseguraram que nenhumas tropas americanas tinham ainda saído da Síria. Confirmaram no entanto que algum equipamento estava a ser retirado daquele país, diz a Reuters.

O anúncio do início da retirada feito pelo coronel Ryan causou surpresa, porque ainda no domingo o conselheiro da Segurança Nacional norte-americano, John Bolton, garantiu que a saída das tropas norte-americanas é condicional – vai basear-se nas circunstâncias, que podem deixar as forças americanas na Síria ainda durante meses ou até anos. E na terça-feira sugeriu que garantir a protecção dos curdos, aliados regionais dos EUA, é uma pré-condição para a saída das forças de Washington da Síria.

Recep Erdogan, o Presidente turco, considerou esta intenção “um sério erro” – o seu maior interesse na retirada norte-americana da Síria é precisamente avançar contra as zonas curdas no Norte, que a Turquia considera factores de instabilidade por oferecerem refúgio e apoios ao PKK, o partido ilegalizado que luta pela autonomia das zonas de maioria curda do sudeste da Turquia.

As forças curdas apoiadas por Washington combateram o Daesh no Norte da Síria. Sem o respaldo norte-americano no terreno, as Forças de Defesa do Povo (YPG) receiam ser um alvo fácil para a Turquia, e também para os jihadistas do Daesh, que resiste em algumas bolsas do território. Após o anúncio de retirada feito por Donald Trump no mês passado, por considerar que os jihadistas do Daesh foram derrotados, que os curdos iniciaram conversações com o regime de Assad.

O coronel Ryan não tinha adiantado calendários de retirado, nem dado pormenores sobre que forças estavam a sair da Síria. “Por preocupação com a segurança operacional, não iremos discutir prazos específicos, localizações, nem movimentação de tropas”, disse.

A retirada tinha sido no entanto confirmada pelo Observatório Sírio dos Direitos Humanos, que tem uma rede de informadores espalhados pela Síria. “Na quinta-feira, algumas forças americanas abandonaram a base militar de Rmeilan, na província de Hasakeh [nordeste]”, disse o director da organização Rami Abdel Rahman, citado pela Al-Jazira.

Dirigentes militares contrariaram as declarações do coronel quando começaram a surgir notícias baseadas nas suas declarações, explica a Reuters – mas só falaram na condição de não serem identificadas, sublinha a agência noticiosa. Ao confirmarem que havia equipamento a ser retirado da Síria, no entanto, dão um sinal de que Washington está mesmo a preparar a retirada das suas tropas, apesar de existirem declarações contraditórias.

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