A alimentação não é um dado garantido para 30% dos algarvios

Estudo serve de base ao lançamento de O Prato Certo, projecto que pretende “ajudar as famílias da região a tomarem as melhores decisões alimentares” e propõe receitas saudáveis a 1 euro por pessoa.

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Perto de 30% das famílias participantes de um estudo da Universidade do Algarve apresentam algum grau de insegurança alimentar, seja ele ligeiro, moderado ou grave. O estudo Avaliação da (In)Segurança Alimentar em Agregados Familiares no Algarve, de Maria Palma Mateus e Ezequiel Pinto, serve de base à iniciativa O Prato Certo, apresentada nesta sexta-feira no Mercado de Arroios, em Lisboa, cuja ideia é divulgar instrumentos que permitam ter uma alimentação saudável, seguindo o modelo da Dieta Mediterrânica, e com um custo baixo.

De entre aquela percentagem, a grande maioria (24%) apresenta insegurança alimentar ligeira, 3,1% moderada e apenas 2,1% apresenta insegurança alimentar grave. O modelo aplicado é o da Escala Brasileira de Insegurança Alimentar (originalmente desenvolvida pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos), que define a insegurança ligeira quando num agregado familiar existe preocupação ou incerteza quanto ao acesso aos alimentos no futuro, a moderada quando se verifica uma redução de alimentos entre os adultos e a grave quando essa redução afecta já as crianças.

Dos 384 participantes dos 16 municípios algarvios, 25,8% disseram sentir-se preocupados “pelo facto de os alimentos em casa poderem acabar antes que tivessem dinheiro suficiente para comprar mais” e 14,1% afirmaram que tiveram “que consumir apenas alguns alimentos que ainda tinham em casa por terem ficado sem dinheiro”.

Os dados recolhidos permitiram, segundo Maria Palma Mateus, estabelecer algumas correlações. O número de desempregados no agregado familiar assim como o número de fumadores parecem estar associados a maior insegurança alimentar. Quanto ao Índice de Massa Corporal (IMC), aqui usado como indicador do estado nutricional, constata-se que 40,2% dos inquiridos está em situação de pré-obesidade e 16,8% já sofrem de obesidade.

Há, por outro lado, dados positivos: a maioria dos participantes (90,9%) diz comprar habitualmente alimentos para o agregado familiar, confeccionar refeições (85,4%) e utilizar azeite para o fazer (97,7%), além de usar produtos hortícolas (88%) e leguminosas (72,8%). Apesar disso, uma das conclusões do estudo é a de que “apenas 24,7% dos participantes apresenta uma boa adesão ao padrão alimentar mediterrânico”.

O que o projecto O Prato Certo – desafio lançado pela Direcção-Geral da Saúde à associação algarvia In Loco, que criou o Observatório da Segurança Alimentar no Algarve – pretende, é, partindo destes dados, ajudar a combater a insegurança alimentar sobretudo entre as populações mais vulneráveis.

O Algarve foi escolhido para lançar este projecto-piloto, que poderá ser alargado ao resto do país caso os municípios mostrem abertura para isso. “Quisemos criar um modelo sustentável que não terminasse quando o projecto terminasse”, explicou Artur Gregório, responsável da In Loco. “O objectivo foi construir algo que possa ser replicado em qualquer região do país.”.

O resultado desse trabalho é o livro O Prato Certo, com receitas criadas pelo chef Abílio Guerreiro e pela nutricionista Catarina Vasconcelos, que, além de indicar as calorias e composição nutricional de cada prato, inclui conselhos sobre como planear as refeições, uma lista de alimentos e doses diárias recomendadas e um plano alimentar para o dia.

Para tornar esta ajuda mais efectiva, foi desenvolvido um trabalho de formação com técnicos de acção social do Algarve, que fizeram depois sessões de educação alimentar junto das famílias.

Está também já disponível o site www.pratocerto.pt  com uma série de informações úteis. Por exemplo, na página dedicada aos produtos sazonais e locais pode-se consultar uma lista de pescado, hortícolas e fruta disponíveis na Primavera, no Verão, no Outono e no Inverno.

As receitas aparecem divididas entre pequenos-almoços, refeições principais, refeições para dias de festa, lanches, para levar para a escola ou o trabalho e snacks para ter em casa, com os respectivos graus de dificuldade e as estações em que devem ser confeccionadas (em função da disponibilidade dos produtos). As receitas de almoço e jantar têm um custo médio que não ultrapassa 1€ por pessoa e as especiais e de dias de festa não ultrapassam os 2€.

Por fim, existe uma listagem (que vai sendo actualizada com novos dados sempre que se justificar) dos mercados e produtores junto dos quais se podem adquirir os ingredientes (com respectivos contactos, produtos que têm e a indicação de se fazem, ou não, entregas)​, e ainda informação sobre os cabazes alimentares já disponíveis na região.

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