Andy Murray já não se diverte no court

O ex-número um mundial gostaria de despedir-se em Wimbledon, mas não sabe se consegue aguentar as dores até lá.

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Andy Murray LUSA/DANIEL POCKETT

No dia em que o mundo do ténis analisava o sorteio dos quadros principais do Open da Austrália e fazia prognósticos sobre os encontros da primeira ronda – entre os quais um interessante duelo entre Andy Murray, regressado a Melbourne, onde há 12 meses foi operado à anca direita, e o espanhol Roberto Bautista Agut, actual 23.º do ranking – caiu a “bomba”: o britânico de 31 anos, ex-número um mundial e detentor de três títulos do Grand Slam, anunciou a retirada do circuito profissional. Muito emocionado, Murray teve mesmo de retirar-se da sala de conferências de imprensa sem conseguir responder à primeira pergunta, sobre como se sentia, antes de recompor-se e voltar para justificar as razões da sua decisão.

“Tenho estado a lutar há muito tempo, com muitas dores nos últimos 20 meses. Fiz praticamente tudo o que podia para a minha anca se sentir melhor, mas os progressos não foram muitos. Estou melhor do que há seis meses, mas ainda com muitas dores. Tem sido duro e não quero continuar a jogar assim. Preciso de colocar um ponto final; já não é divertido continuar assim”, disse Murray, tentando reprimir as lágrimas.

O calvário do escocês começou no Verão de 2017, quando terminou a época, após a derrota nos quartos-de-final de Wimbledon – diante de Sam Querrey (28.º), por 3-6, 6-4, 6-7, 6-1 e 6-1. Depois de seis meses de paragem, tratamentos e recuperação, Murray planeou regressar no Open da Austrália, mas, já em Melbourne, constatou que não havia melhoras significativas e decidiu-se pela intervenção cirúrgica, a 8 de Janeiro de 2018. “Se alguém consegue recuperar de uma operação destas é Andy, uma das pessoas mais motivadas que podemos encontrar”, disse então o cirurgião que o operou, John O’Donnell, um dos maiores especialistas em problemas na anca.

Murray regressou para a época de relva e, entre Junho e Setembro, disputou 12 encontros, vencendo sete, entre os quais duas vitórias auspiciosas sobre Kyle Edmund (14.º) e David Goffin (11.º). Terminou a época mais cedo e foi para Filadélfia, trabalhar com o especialista em reabilitação, Bill Knowles.

Durante a pré-época, foi partilhando nas redes sociais algumas mensagens e imagens de auto-motivação. O regresso à competição aconteceu na primeira semana do ano, em Brisbane, onde ganhou um encontro antes de perder com Daniil Medvedev (16.º). Após a vitória sobre James Duckworth (234.º), as lágrimas escorreram-lhe pelo rosto. “Estou contente por voltar e vou tentar jogar ténis durante o máximo de tempo possível, mas não sei ainda quanto, veremos”, frisou na altura.

Já em Melbourne, posou junto do troféu que lhe falta na prateleira, apesar das cinco finais disputadas no Open. Mas seria num treino realizado na quinta-feira com o actual líder mundial, Novak Djokovic – em que foi dominado por 6-1, 4-1 –, que Murray percebeu que não está em condições para competir como gostaria.

E, logo na ronda inicial do Open, o britânico tem um adversário exigente, o espanhol Bautista Agut. “Quero continuar até Wimbledon, é aí que gostaria de parar, mas não tenho a certeza se consigo fazer isso. Consigo jogar a um determinado nível, mas não ao nível em que já estive”, frisou Murray.

O campeão do US Open (2012) e Wimbledon (2013 e 2016), detentor de duas medalhas de ouro olímpicas e líder da selecção que levou a Grã-Bretanha a conquistar a Taça Davis, após 79 anos de jejum, mostrou-se tão devastado que já pensa na vida pós-competição. “Tenho a opção de uma nova operação, um pouco mais incisiva, que requer a raspagem do osso, o que me vai permitir ter uma melhor qualidade de vida e não ter dores. É uma coisa que estou a considerar seriamente. Alguns atletas fizeram-no e voltaram a competir, mas não há essa garantia”, adiantou.

Depois de cumprir com todos os deveres mediáticos, incluindo várias entrevistas individuais a cadeias de televisão, Murray soltou novamente as lágrimas quando abraçado ao treinador Jamie Delgado. Nesse momento, já eram muitas as reacções à conferência de imprensa transmitida em directo, principalmente dos colegas de profissão, atestando a popularidade do jogador entre os seus pares.

Uma das primeiras que mais se destacou foi a de Juan Martin del Potro. O argentino que foi submetido a quatro operações entre 2010 e 2015 e regressou ao circuito, tendo mesmo atingido o melhor ranking de sempre, o terceiro lugar, no ano passado, sabe do que fala: “Por favor, não deixes de tentar. Posso imaginar a tua dor e tristeza e espero que ultrapasses isto. Tu mereces retirar-te quando quiseres, seja quando for que isso aconteça.”

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