Nikola Tesla: "A Europa nunca poderá pagar a grande dívida que tem para com o povo sérvio"

Dizer que Nikola Tesla era croata representa uma mentira imprudente, até mesmo um insulto para com ele e todas as vítimas da sua família.

Nikola Tesla nasceu a 10 de Julho de 1856 na aldeia sérvia de Smiljan, no Império Austríaco, e morreu a 7 de Janeiro de 1943, em Nova Iorque, EUA.

Os pais de Tesla, Milutin e Georgina Draganic, mudaram-se do oeste da Sérvia para o Império Austríaco em 1852. Muitos sérvios mudaram o seu apelido quando chegaram à Áustria (às vezes eram forçados), obtendo uma alcunha como novo apelido e foi esse o caso da família de Nikola Tesla. Os seus antepassados eram sacerdotes da Igreja Ortodoxa Sérvia e/ ou soldados do Império (alguns deles realizavam a liturgia pela manhã e à tarde defendiam a fronteira dos ataques turcos ao território cristão). Ele e a sua família conheciam canções do folclore sérvio e a Grinalda da Montanha de Njegoš de cor e Tesla conhecia mesmo o Fausto de Goethe.

Numa entrevista, dada em 1894, a uma das mais prestigiadas revistas literárias e culturais daquele tempo, a Century Magazine, Nikola Tesla afirma: "Não há no mundo destino mais triste e duro que o do povo sérvio. Do ponto culminante de sua glória, em que o Estado sérvio abrangeu a maior parte da Península Balcânica e certas províncias que hoje pertencem à Áustria, o povo sérvio mergulhou após a fatídica batalha do Kosovo numa dura escravidão nas hordas asiáticas, então derrubadas: a Europa nunca poderá pagar a grande dívida que tem para com o povo sérvio, que com pesadas baixas sucumbiu à luta contra a intrusão bárbara. Os polacos, comandados por Viena, concluíram o que os sérvios não puderam e, tal como estes, também eles viram os seus préstimos ser ignorados.

No Kosovo, Miloš Obilić, o mais nobre herói sérvio, caiu morto no campo de batalha, depois de estripar o sultão Murat II, quando este irrompeu pelo meio do exército. Se isso não fosse uma verdade histórica, ter-se-ia a tentação de considerar este evento como um mito, emergido das culturas grega e romana. Em Milos, vemos Mucius Scevola e Leonid, e ainda mais do que aos dois, vemos nele um mártir, porque ele não morre com a morte leve no campo de batalha como um herói grego, mas paga pelo seu corajoso trabalho em vida com um terrível martírio. Não é de admirar, portanto, que a poesia do povo esteja impregnada deste espírito de nobreza, heroísmo e generosidade... ”

“Desde essa batalha fatal até recentemente, os sérvios apenas conheciam uma noite escura com uma estrela no horizonte, Montenegro. Nessa escuridão não poderia haver nenhum pensamento ou esperança de ciência, comércio, competências ou economia. O que mais poderia essa brava nação fazer nessas circunstâncias senão lutar contra o seu opressor? E os seus filhos fizeram realmente isso, embora cada um deles tivesse que lutar contra vinte. Para esta sua luta não bastou os seus impulsos ásperos, havia mais que poderiam fazer e que realmente fizeram: colocaram em canções imortais as obras nobres dos seus ancestrais, o heroísmo e pesar por aqueles que caíram na luta pela liberdade. Essas circunstâncias e traços inatos fizeram dos sérvios um povo pensador e uma nação poética, e assim as suas magníficas canções folclóricas foram-se desenvolvendo gradualmente, tendo sido pela primeira vez reunidas pelo mais prolífico escritor sérvio Vuk Stefanovic Karadzic, que, ao mesmo tempo, compilou um dicionário da língua sérvia, com mais de 60.000 palavras. Estas canções folclóricas podem, na opinião do próprio Goethe, ser comparadas às mais belas obras gregas e romanas. Que diria ele sobre estas se fosse um sérvio?"

A 1 de Junho de 1892 (no 10.º aniversário do estabelecimento das relações entre Portugal e a Sérvia), durante uma visita a Belgrado, capital do Reino da Sérvia, Tesla declarou: "Sinto muito mais do que aquilo que posso dizer. Portanto, peço que não meçam a força dos meus sentimentos pela fraqueza das minhas palavras. Fui impelido a vir e não consigo livrar-me dos meus pensamentos e ideias, que me perseguem aqui também. Há algo em mim que pode ser um engano, como é frequente nos jovens entusiastas, mas se eu for feliz e concretizar pelo menos alguns dos meus ideais - será uma dádiva para toda a humanidade e as minhas esperanças serão satisfeitas; o pensamento mais doce será para mim: que é o trabalho de um sérvio. Viva a ‘serbianidade’!”

A 2 de Junho, o rei Alexandre Obrenovic recebeu-o, estando o ministro da Educação, Andra Mitrovic, também presente. Nesse mesmo dia, Tesla dirigiu-se a professores e estudantes da Grande Escola de Belgrado (precursora da Universidade) e, entre outras coisas, afirmou: "Eu, tal como podem constatar, permaneci um sérvio mesmo estando do outro lado do oceano, onde estou a realizar a minha pesquisa. Vocês também devem fazer o mesmo, e através dos vossos conhecimentos e trabalho, irão elevar a glória dos sérvios no mundo."

Em homenagem à visita de Tesla a Belgrado, Jovan Jovanovic Zmaj, grande poeta sérvio, dedicou-lhe uma canção, a qual Tesla traduziu dois anos mais tarde, assim como outros poemas de Zmaj, para inglês. O poeta, escritor e diplomata americano Robert Underwood Johnson (director e fundador do Hall of Fame da Universidade de Nova York e secretário da Academia Americana de Artes e Letras) converteu-os em poesia e publicou esta colecção, em Maio de 1894, na Century Magazine:

"A eletricidade circula/ o ar será uma junção/ possivelmente também como éter;/ É Tesla, você sussurra/ Há correntes mais fortes por ano/ Na Colômbia distante/ que o raio desmorona;
Haverá uma conexão entre nós/ e não há distância, não/ Ele entenderá o conto/ toda a árvore de sua própria árvore,/ (Eletricidade dos nossos corações)/ sem fios e sem cabos."

Tesla informou Zmaj, o seu poeta favorito, sobre isto numa carta de 15 de Junho de 1894 (a carta está guardada na Biblioteca Nacional da Sérvia) e Politika (o mais antigo e prestigiado jornal sérvio, ainda publicado actualmente), por ocasião do 80.º aniversário de Nikola Tesla, publicou-a como novidade a 31 de Maio e 1 e 2 de Junho de 1936. Por ocasião do mesmo jubileu, Vlatko Macek, político croata do Reino da Jugoslávia, líder do Partido Camponês Croata (HSS), escreveu a Tesla: “Dirijo-me a si como filho de uma ascendência sérvia e pátria croata...” Foi Macek quem convocou os partidários do HSS a respeitar e cooperar com o Estado Independente da Croácia, estado nazista durante a Segunda Guerra Mundial, que cometeu os crimes mais horríveis contra sérvios e judeus.

Depois da Segunda Guerra Mundial, a propaganda do novo Estado jugoslavo (sob a ditadura do croata Tito), por forma a absolver a Croácia dos mencionados crimes, repetiu várias vezes a mentira de que Tesla afirmou estar orgulhoso da sua origem sérvia e pátria croata. Tendo em conta que os EUA lhe concederam a cidadania norte-americana em 1891 (50 anos antes da fundação do Estado independente da Croácia) e que literalmente Tesla nunca viveu na Croácia, ele só poderia dizer que tinha orgulho da sua origem sérvia e pátria americana!

Devido à lei croata sobre a Pertença Racial (adoptada com o argumento de que as leis de Nuremberga de Hitler eram a base "legal" para o Holocausto), de 30 de Maio de 1941, foram mortos sérvios e judeus. Na Croácia, de 1941 a 1945, muitos membros da família Nikola Tesla foram mortos e 11 dos seus parentes mais próximos, três mulheres e oito homens, foram mortos no campo de concentração de Jasenovac. Somente entre 1 e 10 de Agosto de 1941, na Igreja Ortodoxa de Smiljan, o Exército croata capturou e matou 568 sérvios, incluindo bebés (27 recém-nascidos que sequer eram baptizados, tornando-se assim vítimas sem nome), crianças, mulheres, idosos... Naquela época, na aldeia de Smiljan, de um total de 621 habitantes sérvios, foram contabilizadas 91 vítimas sérvias, parentes de Tesla. Caso ele tivesse permanecido em Smiljan, teria tido o mesmo destino da sua família próxima e distante, com certeza. “O local de nascimento de Nikola Tesla existe hoje”, “Lembre-se disso sempre que ouvir dizer que Nikola Tesla é croata”, escreveu o Prof. Gideon Greif no seu livro Jasenovac - Auschwitz dos Balcãs.

Durante a Segunda Guerra Mundial, Tesla contestou, claramente, a política e os crimes sem precedentes cometidos pelo Estado Independente da Croácia. Nos dias 4 e 5 de Julho de 1942, em Detroit, EUA, numa reunião do Congresso dos Sérvios Unidos contra o fascismo e a Aliança Popular Sérvia, a fotografia de Tesla estava ao lado da do general Draza Mihailovic, ministro da Guerra do Reino da Jugoslávia, que lutou contra a ocupação alemã e o Estado Independente da Croácia. As suas tropas, o "Exército jugoslavo na Pátria", foram chamadas "chetniks" ocidentais. Nos cartazes, espalhados por Detroit (EUA), lia-se: "Através da unidade nacional de aço contra o fascismo, damos todo o apoio a Draza e aos chetniks! Faremos tudo o que pudermos para derrotar o fascismo este ano! Saudações de Nikola Tesla, cientista mundialmente famoso e presidente honorário do Congresso e da Aliança.” No mesmo ano, Tesla encontrou-se com o rei Pedro II (Karadjordjevic) da Jugoslávia no hotel New Yorker e uma foto dos dois foi publicada na imprensa. Este facto nunca lhe foi perdoado pelo poder ditactorial da Jugoslávia da época. No entanto, foram-lhes perdoados crimes indiscritíveis contra sérvios e judeus, nunca tendo existido aqui um tribunal como o de Nuremberga.

Após a morte de Tesla (no Natal ortodoxo, a 7 de Janeiro de 1943, aos 87 anos, e enterro segundo o ritual cristão ortodoxo) e após o término da Segunda Guerra Mundial, o seu primo Sava Kosanovic (que se curvou ao novo regime e foi mais tarde recompensado com posição de embaixador), ordenou que o corpo de Tesla fosse retirado da cripta e cremado e mandou a urna com as cinzas para Belgrado.

Nikola Tesla morreu durante os menos de dois anos de existência do Estado Independente da Croácia, onde ele nunca viveu, e em que os seus compatriotas e a sua família foram mortos com base numa lei de discriminação racial. Consequentemente, dizer que Nikola Tesla era croata representa uma mentira imprudente, até mesmo um insulto para com ele e todas as vítimas da sua família. O Professor judeu Dr. Gideon Greif afirma que o campo de Jasenovac, na Croácia, foi o mais terrível, quando comparado ao de Auschwitz. A propaganda durante a ditadura foi tão poderosa que deixou vestígios, mesmo em Portugal - no Museu de Arte, Arquitectura e Tecnologia de Lisboa (MAAT) pode ler-se, em língua portuguesa e inglesa: "Nikola Tesla, croata, croatian". Quando este grande cientista, ele próprio, se afirmou clara e inequivocamente como sérvio! Deveria, assim, ler-se: “Nikola Tesla, sérvio por origem, norte-americano por cidadania”.

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