Relação de Coimbra confirma absolvição da inspectora da PJ Ana Saltão

Inspectora da PJ acusada da morte da avó do marido tinha já sido absolvida in dubio pro reo, mas Ministério Público recorreu.

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Sérgio Azenha/Arquivo

O Tribunal da Relação de Coimbra confirmou a absolvição da inspectora da Polícia Judiciária Ana Saltão, acusada de matar a avó do marido. Aos jornalistas, o escrivão da secção criminal do Tribunal da Relação de Coimbra, Gil Diz, anunciou nesta quarta-feira que o colectivo de juízes “negou provimento” ao recurso apresentado pelo Ministério Público.

O colectivo de juízes “entendeu que havia dúvidas e, portanto, absolveu segundo o princípio in dubio pro reo” (na dúvida, a favor do réu), referiu aos jornalistas. O mesmo princípio tinha já sido seguido pelo Tribunal de Coimbra para absolver a inspectora da PJ em Maio de 2017. 

Ana Saltão, que tinha sido absolvida no processo em que era acusada de homicídio qualificado e de peculato, vê assim a absolvição confirmada pela Relação de Coimbra, a mesma instância que já a tinha condenado num primeiro julgamento.

A inspectora da PJ era suspeita da autoria dos mais de dez disparos que vitimaram a avó do marido, Filomena Alves, de 80 anos, encontrada a 21 de Novembro de 2012 na sua residência, em Coimbra. O crime de peculato, do qual também foi absolvida, dizia respeito ao furto da arma de um colega da PJ do Porto, do mesmo tipo que a usada para cometer o crime.

O processo da inspectora tem mais de seis anos e conheceu já decisões em sentidos contrários ma justiça. Em 2014, a arguida foi absolvida em primeira instância, mas, após recurso do Ministério Público, o Tribunal da Relação de Coimbra anulou a decisão e condenou Ana Saltão a 17 anos de cadeia em 2015. Novo recurso, desta feita interposto pela sua advogada de defesa, Mónica Quintela, faria com que o Supremo Tribunal de Justiça anulasse a condenação, levando à repetição do julgamento. Em Maio de 2017, teve início novo julgamento e, em Setembro do mesmo ano, tanto a decisão do colectivo de juízes como a do tribunal de júri criado para este julgamento foram unânimes na absolvição, vingando o princípio in dubio pro reo.

Então, na terceira leitura de sentença do caso, o presidente do colectivo de juízes, Miguel Veiga, colocou em causa a tese de Ministério Público, que apontava para motivação económica, e levantou dúvidas sobre a motivação do crime. Se ao longo do julgamento a acusação tentou caracterizar a actuação da arguida como sendo calculista e fria, próprias de quem “arquitectou o plano”, para o tribunal, “a execução do plano arriscou-se a um completo fracasso”.

Ou seja, o facto de a rua onde a vítima habitava em Coimbra, na zona de Montes Claros, ser de sentido único e a arguida ter de deixar o carro longe do local para não ser associada ou a dúvida sobre se Saltão teria tido tempo para chegar a Coimbra à hora do crime iam contra a caracterização do MP.

Também os 14 projécteis recuperados na cena do crime foram alvo de interrogação. “Se a ideia era ser um golpe subtil, despejar 14 tiros não é propriamente muito subtil”, afirmou Miguel Veiga. À saída do tribunal, Mónica Quintela dizia aos jornalista que a investigação não teve sentido, “foi mal feita e deixou por descobrir efectivamente quem terá sido o autor do crime”. O MP recorreu.

A decisão sobre o recurso tinha já estado marcada para 19 de Dezembro de 2018, mas o colectivo da Relação de Coimbra adiou para esta quarta-feira. O presidente do Tribunal da Relação de Coimbra, Luís de Azevedo Mendes, citado pela Agência Lusa, referiu que o adiamento se deveu ao facto de ser necessário mais debate entre o colectivo para tomar uma decisão.

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