Com greve portuária a ajudar, exportações caíram em Novembro

Num momento em que a deterioração da conjuntura internacional ameaça a continuação do crescimento forte das exportações, a quebra abrupta da venda de automóveis prejudicou os resultados no final do ano passado.

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LUSA/RUI MINDERICO

Os efeitos negativos de uma deterioração da conjuntura internacional são, neste momento, o principal risco que enfrenta a economia portuguesa e, em Novembro, os sinais dados pelas exportações de bens, com a ajuda do efeito pontual da greve no porto de Setúbal, não foram os melhores.

Os dados divulgados esta quarta-feira pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) vieram revelar que em Novembro as vendas de produtos portugueses ao estrangeiro registaram a maior queda em termos homólogos desde a crise financeira internacional de 2009.

A diminuição foi de 8,7%, o que é o pior resultado, não só de 2018 (apenas em Março se registou uma descida, de 5,4%), como também desde Outubro de 2009, quando a economia mundial assistia a uma contracção absolutamente extraordinária dos fluxos do comércio internacional, na sequência da crise financeira.

Neste caso, o que é preciso perceber é quais são as explicações para este resultado tão negativo das exportações portuguesas em Novembro. Estaremos perante um percalço pontual ou está-se já a assistir ao efeito negativo da conjuntura internacional?

Os números do INE revelam que uma parte muito significativa da contracção pode ser temporária, estando relacionada com a quebra registada das vendas de automóveis para transporte de passageiros, que caíram 29,4%. O contributo da variação deste bem para a descida global de 8,7% registada nas exportações foi de 5,7 pontos percentuais.

O INE assinala que esta quebra tão acentuada das vendas de automóveis “estará associada à greve dos estivadores no porto de Setúbal”, que se fez sentir durante praticamente todo o mês de Novembro e que dificultou o escoamento da produção da Autoeuropa, de longe a principal empresa exportadora de automóveis do país.

Também em Novembro, foram noticiados outros obstáculos à produção na Autoeuropa, relacionados com a falta de componentes nas fábricas de motores. A empresa anunciou recentemente que em 2018, bateu o recorde do número de automóveis produzidos, mas que o resultado ficou aquém das expectativas.

No entanto, para além destes efeitos negativos sector automóvel, que se esperam ser temporários, é notório nos números do INE que o mês de Novembro não foi positivo para uma série de outros produtos. Nas exportações de bens alimentares e bebidas, a queda registada foi de 5,1%, nas máquinas de 2,1% e nos bens de consumo de 0,3%, contrariando a tendência de crescimento que se tem vindo a verificar na maioria dos meses do ano de 2018.

Os dados são apenas de um mês, não permitindo que se possam tirar conclusões definitivas sobre a existência de uma nova tendência, mas existe o receio que as exportações comecem a ser afectadas pela deterioração da conjuntura económica que se está a assistir na generalidade da economia mundial e, em particular na zona euro. Várias entidades internacionais têm vindo a rever em baixa as suas previsões de crescimento para 2019.

A travagem das exportações no final de 2018 já tinha aliás sido sinalizada pelo Banco de Portugal nas suas previsões mais recentes para a economia portuguesa. O banco central reviu em baixa as suas estimativas de crescimento, apontando precisamente para o desempenho mais fraco das exportações (e também do investimento) relativamente àquilo que era estimado inicialmente, não só por questões pontuais como as do sector automóvel como também pela nova realidade a que se assiste na economia internacional.

Os dados publicados pelo INE revelam ainda que as importações cresceram 11,5% em Novembro face ao mesmo período de 2017, uma aceleração do ritmo que se vinha registando nos últimos três meses. Neste cenário, a balança comercial de bens tornou-se mais negativa, passando-se de um défice de 1157 milhões de euros em Novembro de 2017 para um défice de 2066 milhões em Novembro de 2018.

O INE não divulga os dados das exportações de serviços, que nos últimos anos têm sido decisivos na evolução positiva do comércio internacional português, nomeadamente pela via da venda de serviços de turismo.

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