Presidente defende “alguma limitação de soberania” para problemas globais

Perante alunos do secundário, Marcelo criticou as decisões de países como os EUA e o Brasil de abandonarem o Acordo de Paris, mas sem nunca os nomear.

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Marcelo na primeira edição do programa Cientistas no Palácio Nuno Ferreira Santos

O Presidente da República alertou esta terça-feira para o “retrocesso” que o planeta vive hoje em matéria de combate às alterações climáticas, apontando o dedo àqueles países que têm vindo ou ameaçam abandonar o Acordo de Paris e a Agenda 2030 das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável. Defendeu mesmo que “tem de haver alguma limitação de soberania” quando se trata de resolver problemas globais, como as alterações climáticas, que dependem da responsabilidade de todos.

Depois de ouvir o presidente do Conselho Nacional do Ambiente e do Desenvolvimento Sustentável, Filipe Duarte Santos, falar sobre a evolução do clima da terra e o actual dos recursos naturais globais aos alunos do secundário que participavam nesta sessão dos Cientistas no Palácio, Marcelo Rebelo de Sousa puxou pelo lado mais político da questão. “Não é possível traçar fronteiras [no ambiente], é preciso trabalhar em conjunto”, alertou, referindo-se à necessidade de lutar contra as alterações climáticas no quadro das Nações Unidas e das organizações internacionais.

“A Agenda 2030 é mundial, demorou muito tempo até os países se colocarem de acordo para reconhecerem a importância de trabalhar em conjunto, mas hoje estamos a assistir a um retrocesso”, alertou, referindo-se genericamente aos “países que hoje dizem que o ambiente é um problema nacional” da sua indústria e economia. Sem nomear os EUA, que rasgaram o Acordo de Paris, ou ao Brasil, que ameaça explorar os recursos da Amazónia sem limite, Marcelo avisou que esta visão é “gravíssima”.

Para o chefe de Estado português, esta “troca de uma visão multilateral por uma visão unilateral é atraente, mas um apelo ao egoísmo”. Um “estado de espírito” que está a multiplicar-se e significa “questionar o trabalho conjunto, o papel das Nações Unidas e o trabalho dos cientistas”.

“É um recuo”, insistiu: “É perder em três ou quatro anos o que demorou décadas a construir, numa matéria em que não há empates, empatar é perder e estamos todos a perder tempo”. Quanto a Portugal, elogiou o facto de, independentemente dos governos, haver metas assumidas pelo país.

A segunda edição do programa Cientistas no Palácio teve início esta terça-feira, 8 de Janeiro e decorre até 27 de Fevereiro de 2019. Estarão envolvidos nove cientistas e sete centenas de alunos matriculados no ensino secundário, representando 28 escolas de 27 concelhos de Portugal continental. Na primeira edição, que se realizou entre 24 de Outubro e 12 de Dezembro de 2017 participaram oito cientistas.

Depois desta primeira sessão da segunda edição dos Cientistas no Palácio, o Presidente da República recebeu os presidentes dos tribunais superiores - Constitucional, de Justiça, de Contas e Administrativo - que lhe foram apresentar cumprimentos de ano novo, mas não fizeram declarações aos jornalistas. Na quarta-feira, será a vez da provedora de Justiça e da procuradora-Geral da República serem recebidas no Palácio de Belém, a poucos dias da abertura do Ano Judicial, que se realiza a 15 de Janeiro.

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