Bonito serviço

No meio de uma tempestade de flores brancas, por baixo de um mar de verde, estava um pedacinho da velha porta...

É uma barraca abandonada que eu conheci quando era nova, usada como armazém. O dono deixou-a cheia de ferro velho e lataria.

Esta manhã passei por lá. Tinha desaparecido. Alguém tinha tido o civismo de tirá-la dali? Senti dar um salto a minha fé no ser humano. Mas espera, olha ali. No meio de uma tempestade de flores brancas, por baixo de um mar de verde, estava um pedacinho da velha porta...

Foram as plantas que tomaram conta da barraca. Já que ninguém a quer, a nós serve-nos de cama onde crescer. Acontece o mesmo com um navio naufragado: os peixes e as plantas aproveitam para fazer casas para a malta toda. E a fealdade do aço enferrujado é encoberta e é tornada linda.

Se as plantas tivessem ficado envergonhadas com o ultraje da barraca e decidissem juntar-se para embelezá-la o resultado seria o mesmo. Onde dantes a Maria João tinha tirado fotografias para protestar contra aquela lixeira, agora fotografava para nos podermos lembrar desta criação, deste espectáculo.

Sei que as azedas são infestantes mas aqui estavam a comportar-se com elegante parcimónia: só uma e outra aqui e ali para fazer sobressaír a cor luminosa dos milhares de flores pequeninas e brancas que não fui capaz de identificar. (Que maravilha, a propósito, o sítio Flora-On da Sociedade Portuguesa de Botânica)!

Ou então nós os seres humanos, com as nossas barracas e crónicas, é que somos os invasores e as plantas não estão a fazer mais nada senão recuperar os territórios que lhe pertencem. Com uma certa vingança talvez.

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