"Aparente uso excessivo da força" em escola do Cacém leva IGAI a abrir processo

Num vídeo posto a circular na sexta-feira vê-se um jovem tranquilo a responder a agentes da PSP. Um dos polícias insulta-o, agarra-o com força, outro lança-o ao chão. A PSP está a investigar agentes da esquadra do Cacém. IGAI também abriu processo.

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Rui Gaudencio

A Inspecção-Geral da Administração Interna (IGAI) abriu um processo administrativo a propósito da detenção de um jovem afrodescendente por três agentes da PSP, à porta de uma escola do Cacém, disse ao PÚBLICO fonte da direcção da "polícia dos polícias".

Na sexta-feira, depois de ter conhecimento de um vídeo que teve milhares de partilhas no Facebook, o comandante do Comando Metropolitano de Lisboa ordenou a abertura de um processo de averiguação interna para apurar as razões “da reacção dos agentes” e do “aparente uso excessivo da força”, disse ao PÚBLICO o porta-voz da PSP, Alexandre Coimbra.

“Tens algum problema psicológico? Então estás a ser burro para quê?”, questiona, nesse vídeo, o agente da PSP apontando o dedo para a cara do jovem, repetindo a pergunta em tom ameaçador. A seguir ordena: “O teu documento!” (referindo-se à sua identificação). O jovem, que está acompanhado de outro que terá a sua idade, não reage, fica a olhar para o agente. E este manieta-o com força e coloca-lhe algemas. O jovem pergunta calmamente: “Por que é que me estão a revistar só a mim?”

Dirigindo-se a uma pessoa fora do campo de visão da imagem, questiona, enquanto dá um passo: “Está a ligar à minha mãe? Ligue, ligue." Aí o mesmo agente grita: “Quieto!” E outro agarra no rapaz, atira-o ao chão e grita-lhe: “Vais para o chão. E do chão não passas."

O episódio passou-se em frente à Escola Secundária Ferreira Dias, em Agualva-Sintra. O vídeo que foi posto a circular na sexta-feira pelas 18h30, pelo utilizador Maneraz Digra, atingiu quase 30 mil partilhas. Não se percebe, pelas imagens, o que leva os agentes a abordar o jovem. A PSP referiu que na escola “tem havido denúncias de alguma insegurança”.

Os agentes são da equipa de intervenção rápida da esquadra do Cacém e, segundo o porta-voz da PSP, a investigação estará concluída num prazo máximo de 15 dias.

Lina Alves, que é directora da Escola Secundária Ferreira Dias há dois anos, mas professora há muitos mais, não quis revelar se o jovem era aluno daquele liceu e informou que não viu o vídeo. Disse, porém, ao PÚBLICO, que não tem registo de anteriores “situações de perturbação” naquela escola como as que se vêem reproduzidas nas imagens. “Aliás, internamente temos muito poucas situações disciplinares”, adiantou.

O contacto que têm com a PSP é através do programa Escola Segura, com quem existe uma “relação boa”. A directora disse também que “muito antes das férias de Natal”, depois de ler em alguns jornais que tinham existido assaltos na zona, ligou à PSP a alertar para a situação e a pedir protecção na área. 

A Comissão para a Igualdade e Contra a Discriminação Racial (CICDR) não informou até agora se receberam queixa. O PÚBLICO tentou, sem sucesso, entrar em contacto com o jovem e com a família. A SIC diz que ele tem 18 anos. À estação de televisão, a família, que não quis dar a voz ou a cara, garantiu apenas que o jovem “não agrediu, não ameaçou ou insultou os agentes” e considerou o comportamento da PSP “excessivo”. 

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