Cardeal francês acusado de encobrir caso de abuso sexual diz estar inocente

Philippe Barbarin é acusado de ter ocultado os crimes do padre Preynat.

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Philippe Barbarin EMMANUEL FOUDROT/Reuters

O cardeal francês Philippe Barbarin disse nesta segunda-feira que nunca tentou encobrir o que qualifica de “factos horríveis” antes de depor no Tribunal Criminal de Lyon no processo em que é acusado de não ter denunciado um caso de abuso sexual.

"Nunca tentei esconder-me", disse Barbarin antes da primeira audiência do julgamento. Há mais cinco acusados.

A 23 de Maio de 2017, o cardeal foi acusado de não ter denunciado agressões sexuais de um padre a um grupo de escuteiros. Desde que o caso eclodiu, o arcebispo de Lyon negou as acusações, reconhecendo apenas erros de apreciação e pedindo desculpas às vítimas de padres pedófilos.

Mas em 2016, em Lourdes, durante uma assembleia de bispos, proferiu algumas palavras que geraram controvérsia. "Graças a Deus, a maioria dos factos" de abuso sexual "prescreveu". Esta segunda-feira, num comunicado divulgado antes de responder às perguntas do tribunal, disse que " nem sempre soube usar as melhores e mais hábeis palavras".

Inicialmente marcado para Abril de 2018, o julgamento desta figura de topo da hierarquia da Igreja Católica foi remarcado para hoje e amanhã.

Apenas Philippe Barbarin e cinco outras pessoas - incluindo o arcebispo de Auch (sudoeste), Maurice Gardes, e o bispo de Nevers (centro), Thierry Brac de la Perrière -, deverão ser julgadas.

O prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé no Vaticano, Luís Francisco Ladaria Ferrer, foi também mencionado no processo, tendo o Vaticano invocado a imunidade do prelado espanhol para justificar a sua falta de comparência em tribunal.

O caso que envolve o cardeal de Lyon eclodiu em Outubro de 2015, quando a diocese de Lyon revelou que tinha recebido queixas contra o padre Bernard Preynat por “agressão sexual a menores” cometida 25 anos antes.

No ano seguinte, o padre Bernard Preynat reconhece os crimes e foi acusado de agressão sexual a quatro escuteiros entre 1986 e o final de 1991.

Numa entrevista ao jornal católico La Croix, em 2016, o cardeal Philippe Barbarin, que era arcebispo de Lyon desde 2002, disse que, através de terceiros, estava ciente dos comportamentos de Preynat.

Na altura recebeu o apoio do Vaticano que considerou que o clérigo geriu o caso “com muita responsabilidade”, apesar de o cardeal não ter informado a justiça e de ter mantido o padre dentro da diocese de Lyon até 2015.

Em 2016, o Ministério Público de Lyon abriu uma investigação preliminar a vários dirigentes da diocese, incluindo o cardeal Barbarin, por “não denúncia do crime” considerando que “pôs em risco a vida de outros”.

Em declarações à imprensa na altura, o cardeal garantiu que nunca tinha encoberto qualquer caso de pedofilia.

E em Agosto de 2016, a investigação por não denúncia dos abusos de Bernard Preynat foi rejeitada pela procuradoria de Lyon.

O processo foi retomado posteriormente por iniciativa das vítimas.

Até o momento, dois bispos foram condenados na França em casos semelhantes, o bispo de Bayeux-Lisieux, em 2001, e o ex-bispo de Orleans, em 2018.

O Papa Francisco convocou para Fevereiro os presidentes de todas as conferências episcopais para uma cimeira no Vaticano sobre o assunto.

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