Três ex-banqueiros do Credit Suisse detidos pelo escândalo da dívida moçambicana

Detenção foi feita ao abrigo de um mandado de captura internacional emitido pelos EUA, tal como a de Manuel Chang, ex-ministro das Finanças do Presidente Armando Guebuza.

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O banco Credit Suisse nega ter conhecimento do caso, e a instituição não é parte acusada Reinhard Krause/REUTERS

As autoridades britânicas prenderam esta quinta-feira, em Londres, a pedido da Justiça dos Estados Unidos, três antigos banqueiros do Credit Suisse acusados de envolvimento numa fraude bilionária em torno da concessão de empréstimos a empresas públicas moçambicanas, às escondidas do FMI, que fizeram disparar a dívida pública moçambicana.

O caso da chamada dívida oculta moçambicana levou os doadores do Orçamento do Estado de Moçambique a suspender a ajuda internacional ao país, depois de o Fundo Monetário Internacional (FMI) ter concluído que lhe tinham sido ocultados empréstimos no valor de dois mil milhões de dólares. 

O escândalo das dívidas ocultas rebentou em Abril de 2016. Uma auditoria feita pela consultora internacional Kroll deixou por esclarecer o destino de empréstimos no valor de dois mil milhões de dólares contraídos por três empresas estatais (Ematum, Proindicus e MAM) entre 2013 e 2014, anunciou então a Procuradoria-Geral da República (PGR).

Andrew Pearse, um antigo director do banco Credit Suisse; Surjan Singh, director no Credit Suisse Global Financing Group, e Detelina Subeva, vice-presidente deste grupo, foram detidos agora em Londres – e libertados sob fiança – e estiveram envolvidos na concessão dos empréstimos. Pela parte moçambicana, está envolvido Manuel Chang, antigo ministro das Finanças na presidência de Armando Guebuza, que foi detido na África do Sul no dia 29 de Dezembro, quando tentava embarcar para o Dubai, na sequência de um pedido de extradição das autoridades norte-americanas.

Todas estas pessoas enfrentam agora um pedido de extradição para os Estados Unidos, sob a acusação de conspiração para fraude electrónica, conspiração para fraude com valores mobiliários e lavagem de dinheiro. A pena cumulativa máxima por estas acusações é de 45 anos de prisão.

Manuel Chang foi ministro das Finanças de Moçambique durante o Governo do Presidente Armando Guebuza, entre Fevereiro de 2005 e Dezembro de 2014. Então com o pelouro das Finanças, foi ele quem avalizou dívidas de mais de dois mil milhões de dólares (1760 milhões de euros) secretamente contraídas a favor da Ematum, da Proindicus e da MAM, empresas públicas ligadas à segurança marítima e pescas, entre 2013 e 2014. A mobilização dos empréstimos foi organizada pelos bancos Credit Suisse e VTB.

O banco de investimento suíço diz ter sido enganado pelos seus próprios funcionários e nega ter tido conhecimento da fraude – a instituição não é mencionada na acusação, diz a Bloomberg. 

De acordo com a acusação, citada pela Reuters, as três empresas estatais foram usadas como fachadas para que Chang e os banqueiros pudessem enriquecer. Pelo menos 200 milhões de dólares foram desviados para os acusados e outros responsáveis governamentais moçambicanos.

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