Serviços secretos de Seul dizem que diplomata da Coreia do Norte em Itália desertou

A confirmar-se será a mais importante deserção desde a fuga do ex-embaixador adjunto do regime em Londres. Roma terá dado protecção ao responsável e à sua família.

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Pyongyang, novo complexo residencial. Kim Jong-un obriga os diplomatas colocados no estrangeiro a deixar os seus filhos para trás, procurando evitar deserções Damir Sagolj / REUTERS

Até Novembro, Jo Song-gil dirigia a embaixada norte-coreana em Roma. Oficialmente, foi substituído no final da sua missão e recebeu ordens para regressar a casa. De acordo com um deputado sul-coreano, desapareceu com a mulher e os filhos — a confirmar-se será a primeira deserção importante desde a do embaixador de Pyongyang em Londres, em 2016.

“Eles deixaram a missão diplomática e desapareceram”, disse aos jornalistas em Seul Kim Min-ki, um deputado que cita informações que lhe foram transmitidas pelos Serviços Secretos Nacionais da Coreia do Sul. Horas antes, o diário JoongAng Ilbo, um dos maiores jornais do país, noticiava que Jo, de 48 anos, pediu asilo a um país ocidental e está com a família num “lugar seguro”, sob protecção do Governo italiano.

“O embaixador em funções chegou ao fim do seu mandato em Novembro e escapou do complexo diplomático no início desse mês”, especifica Kim Min-ki. Jo estava em Roma desde 2015 e era o principal responsável da embaixada desde Novembro de 2017, quando a Itália expulsou o então embaixador Mun Jong-nam, em protesto contra o (sexto) teste nuclear e o disparo de mísseis de longo alcance realizados pela Coreia do Norte no mês anterior.

Desde que chegou ao poder, em 2011, Kim Jong-un obriga os diplomatas colocados no estrangeiro a deixar os seus filhos para trás, procurando assim evitar deserções de um dos países mais fechados e repressivos do mundo. Mas há excepções, quando em causa estão pessoas vistas como especialmente leais a Kim — segundo o JoongAng Ilbo, Jo é “filho ou genro de um dos mais altos responsáveis” do regime.

Autoridades "angustiadas"

Roma é um posto importante para a Coreia do Norte — é na capital italiana que está a sede da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO) e o país de Kim Jong-un sofre de faltas crónicas de alimentos.

O jornal de Seul diz que depois de alguma hesitação, Roma aceitou proteger o diplomata e a sua família. As autoridades italianas, descreve um responsável ouvido pelo diário, ficaram “angustiadas” com a situação até aceitarem protegê-lo na fuga.

O Governo da Coreia do Sul, que ao longo de 2018, ensaiou uma aproximação à Coreia do Norte (ao mesmo tempo que Donald Trump e Kim Jong-un trocavam cartas e se reuniam para discutir a desnuclearização do Norte), não confirmou ainda a deserção. O Ministério dos Negócios Estrangeiros italiano também diz não saber nada sobre Jo e adiantou à Reuters que Pyongyang anunciou no fim do ano que iria chegar um novo enviado, num “procedimento perfeitamente normal”.

Um "esquema de rapto" 

A confirmar-se, Jo integraria a longa lista de responsáveis que desertaram ao longo dos anos. O diplomata mais importante a desertar foi Thae Yong-ho, que em 2016 fugiu para a Coreia do Sul, quando era embaixador adjunto em Londres. Vive desde então em Seul, sob protecção permanente dos serviços secretos.

Nas memórias que publicou, em 2018, Thae explica que um dos motivos para a sua decisão foi a obrigatoriedade dos responsáveis norte-coreanos deixarem os filhos no seu país, no que descreve como um “esquema de rapto”. Mas tal como Jo, Thae tinha consigo os seus três filhos — na altura em que desertou explicou que o fazia essencialmente para lhes oferecer um futuro melhor.

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