Uma Sala algarvia para pôr os lisboetas a fazer sala

Nesta antiga marcenaria há comida, bebida e música, mas também há jogos, lápis para escrevinhar e desenhar. Fica em São Bento e "não é um restaurante de comida algarvia" nem "uma galeria de arte". É qualquer coisa de intermédio: “É como uma sala de estar, onde os nossos amigos podem vir”.

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“Fazer sala” é uma daquelas expressões que parecem ter caído em desuso. Ou que só vêm à cabeça por alturas do Natal, quando se recebem familiares afastados lá em casa e há que mantê-los confortáveis e entretidos por um período razoável de tempo. “Fazer sala” tanto pode ser o penoso cumprimento de um dever com data marcada ou a generosa abertura da porta aos amigos e conhecidos, oferecendo-lhes o melhor.

Foi seguramente o segundo significado desta expressão que motivou quatro amigos a abrirem a Sala em São Bento, Lisboa. A Sala não se define facilmente. “Não é um restaurante de comida algarvia, também não é uma galeria de arte”, diz Selma. “É como uma sala de estar, onde os nossos amigos podem vir”, resume Vasco. Eles os dois, juntamente com Daniela e Joseph, são as caras por trás de um espaço que se esconde atrás de uma modestíssima porta em frente ao Parlamento.

Lá dentro, porém, não se evita uma certa surpresa: uma sala branca, luminosa, com balões e fitas de festa de um lado e, do outro, a promessa de um pequeno mas acolhedor pátio coberto por uma grande videira. Para encontrarem este sítio foi um ano, até abrirem passou-se outro. “Queríamos uma coisa que tivesse carácter. Não queríamos ser mais um espaço a abrir em Lisboa”, diz Vasco.

Nesta antiga marcenaria há comida, bebida e música, mas também há jogos, lápis para escrevinhar e desenhar, banda desenhada, revistas, uma programação de workshops, exposições e cinema. Como se disse: a Sala não se define facilmente. “O que nós sentíamos é que não havia nada nesta zona. Um sítio, um bar onde pudéssemos estar a beber um copo e a conversar”, afirma Daniela, que desafiou Selma a embarcar na aventura. “Por isso fizemos finca-pé de procurar espaços aqui.” Vasco complementa. “Não há muita oferta, ou nenhuma, deste lado da cidade. Não estamos muito longe das zonas de animação, como o Cais do Sodré ou Bairro Alto, por isso podemos ser o primeiro poiso da noite.”

Não se julgue, ainda assim, que esta sala de estar é só para noctívagos. “Para quem vem é interessante porque vai experimentando coisas diferentes. As pessoas vêm cá uma, duas, três, quatro vezes e assumem as diferentes valências”, conta Selma. Vamos a elas, então.

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Se a ideia é beber um copo, a Sala tem uma carta relativamente grande. Nos cocktails (5 a 7 euros), a estrela é o Medronho Sour, feito com o típico fruto algarvio, mas a oferta inclui ainda uns divertidos Mula Russa e Cão d’água, entre outros. Na lista de aguardentes e licores destacam-se as bebidas de medronho, figo e dióspiro, tal como se bebem no Algarve, e a carta de vinhos (copo entre os 3 e os 3,5 euros) também tem uma marca desta região: Herdade dos Pimentéis.

Sim, Daniela e Selma são algarvias. Sim, o que se come na Sala é algarvio. “Dá-nos muito prazer mostrar estas coisas às pessoas”, diz Selma, relatando divertida que a maior parte dos clientes pede pratos de polvo porque não reconhece muitas coisas que estão na ementa. Entre os pratinhes (assim mesmo, com sotaque) contam-se muxama, estupeta de atum, cenourinhas à algarvia, lingueirão e biqueirão (entre os 2 e os 8 euros). As tibornas vêm com polvo, paiola e queijo de cabra, carapau com batata-doce ou morcela (entre 10 e 13 euros). E os docinhes são tarte de alfarroba, folar de Olhão e gelados vindos directamente dessa cidade branca (entre os 3 e os 4,5 euros).

Há ainda uma bucha de fim-de-semana, nome castiço para brunch, que custa 14 euros e inclui panquecas de alfarroba e amêndoa e uma saladinha montanheira, além do iogurte com granola e os ovos da praxe. “Fazemos questão de usar coisas mesmo do Algarve, coisas que fazem parte da nossa vida e do nosso ADN”, afirma Selma.

Entre um petisco ou uma bebida é possível ler um Astérix, jogar xadrez ou ver um filme. “Já aqui tivemos dois lançamentos de revistas, algumas projecções de filmes, concertos, noites de jogos”, diz Vasco. Para o início do ano está a ser preparada uma exposição. “Queremos ser um sítio onde as pessoas querem mesmo vir. Um sítio para o dia-a-dia, para fazer um bocadinho de sala”, afirma. “O processo é mais atípico e demorará um pouco mais tempo, mas não tenho dúvidas de que esta oferta é muito necessária”, completa Selma: “Nós queremos que as pessoas venham e digam ‘Estou na Sala’”.

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