Partidos testam mensagens para 2019

Nas mensagens de Natal e de Ano Novo, os principais partidos portugueses deixaram algumas pistas sobre os discursos que vão adoptar em 2019, quando a campanha estiver ao rubro. Os motores estão a aquecer. Marcelo Rebelo de Sousa também já deixou os seus recados.

Marcelo Rebelo de Sousa (Presidente)
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Marcelo Rebelo de Sousa (Presidente) LUSA/ANTÓNIO COTRIM
António Costa (GOV e PS)
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António Costa (GOV e PS) LUSA/ANTÓNIO COTRIM
Assunção Cristas (CDS)
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Assunção Cristas (CDS) daniel rocha
Catarina Martins (BE)
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Catarina Martins (BE) rui gaudêncio
Jerónimo de Sousa (PCP)
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Jerónimo de Sousa (PCP) LUSA/Manuel Almeida
Pedro Santana Lopes (Aliança)
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Pedro Santana Lopes (Aliança) Daniel Rocha

O Presidente da República pediu aos portugueses e aos políticos, no dia de Ano Novo, “valores, princípios e saber aprendido com quase nove séculos de História” para dar resposta “a estes tempos muito difíceis” em que se vê “crescerem promessas sem democracia e sem pleno respeito da dignidade das pessoas”. Pediu também “mais credibilidade, mais transparência, mais verdade às nossas instituições políticas”. No início de um ano com três eleições, Marcelo Rebelo de Sousa exigiu uma “economia mais forte”, uma “sociedade mais justa” e ainda “política e políticos mais confiáveis”.

Ainda o Presidente não tinha começado a enviar os seus recados e alertas e já o Governo e os principais partidos testavam, nas suas próprias mensagens de Natal e de Ano Novo, os discursos políticos que hão-de levar a eleições. António Costa (e o PS) apresenta-se mais ponderado e cauteloso, explicando que é preciso continuar a melhorar a vida dos portugueses, sem comprometer sucessos passados. Rui Rio insiste na fábula da cigarra e da formiga, como quem diz, de outra forma, que é preciso olhar para o futuro a bem da lógica do interesse nacional. Assunção Cristas repete que a única verdadeira alternativa ao PS é o CDS e só parece ter Pedro Santana Lopes a disputar o título. E Jerónimo de Sousa e Catarina Martins lembram que os méritos das conquistas não são todos do Governo e que os respectivos partidos, PCP e BE, deixaram marcas na governação.

A campanha oficial pode ainda não ter começado, mas os líderes partidários já fazem o aquecimento, experimentando ideias e revelando as estratégias que vão usar no futuro próximo. Afinal, o que vamos ouvir, repetidamente, em 2019?

Governo e PS: continuidade sem retrocessos

António Costa já o tinha dito no último debate quinzenal de 2018: “Não podemos ir além do limite, sob pena de que PSD e CDS se fiquem a rir de nós e digam que tinham razão”. E repetiu-o, por outras palavras, nos seis minutos e meio que durou a sua mensagem de Natal: “Virada a página dos anos mais difíceis, há agora duas questões essenciais que se colocam. Por um lado, como conseguimos dar continuidade a este percurso, sem riscos de retrocesso; por outro lado, como garantimos que cada vez mais pessoas beneficiam na sua vida desta melhoria”.

O primeiro-ministro não quer dar motivos à oposição para se ficar a rir e, por isso, o discurso que levará para a campanha será bem mais realista do que o esperado – e o PS mostra-se confortável com isso. Palavras ou expressões como “contas certas”, “credibilidade internacional”, “justiça fiscal”, “desafios”, “eliminar o défice”, “reduzir a dívida”, “responsabilidade” e “equilíbrio” deverão ser repetidas pelo líder do PS quando se dirigir aos eleitores, no período de campanha eleitoral.

E se estas palavras parecem dirigidas à cabeça dos eleitores do centro – que normalmente decidem a maioria absoluta – outras houve que foram direitinhas ao coração da “geringonça”. “Menos precariedade, salário justo, expectativa de carreira, possibilidade de conciliação com a vida pessoal e familiar”, como ouviram dizer os 499,3 mil telespectadores que sintonizaram as televisões na RTP1, na noite de 25 de Dezembro.

PSD: a cigarra e a formiga

À medida que as eleições se forem aproximando, poucos ajustamentos se esperam no discurso de Rui Rio. No último tempo de antena do ano, ficaram as ideias principais que o líder do PSD deverá explorar. Primeiro: “o Governo e os seus parceiros gabam-se do crescimento da economia portuguesa”, mas “crescemos muito menos do que os países com que antes nos comparávamos”. Segundo: “o Orçamento do Estado mostra que o Governo não vai corrigir o rumo” e vai continuar a pensar mais “no presente do que no futuro”. E terceiro: “amanhã ou depois a economia mundial vai crescer menos” e Portugal não se preparou para isso. “Não quero dizer que estejamos em situação parecida, nem nada que se pareça [com os anos da troika], mas não estamos no caminho certo”, concluiu Rio.

É aqui que entra a referência à conhecida fábula. “Aquilo que nós devíamos ter feito era termo-nos preparado em épocas de crescimento económico, como as que vivemos, para nos defendermos na época de não crescimento. É um pouco como na história da cigarra e da formiga. A cigarra, no Verão, canta e dança, e no Inverno não tem meios para se alimentar e a formiga tem de ajudar”, concluiu o social-democrata.

Rui Rio tem insistido, e deverá continuar a fazê-lo, que o PSD defende o “rigor e a sustentabilidade, mas também a educação, a saúde, as empresas e a justiça social”. Porque “defendemos a social-democracia”, afirmou Rui Rio, criticando o Governo que “não trata do futuro, trata do presente, trata de colher algumas simpatias no sentido de maximizar os votos”.

CDS e Aliança: o lugar da alternativa

Assunção Cristas começou o ano de 2018 a dizer, ao Expresso, que se via no papel de primeira-ministra e acabou-o, no Parlamento, a responder a António Costa que, “se um dia os portugueses” lhe “derem a confiança para ser primeira-ministra”, estará “presente para as notícias boas, mas também para as más”.

Pelo meio, em Março, no 27.º Congresso do CDS que se realizou em Lamego, deixou a mensagem que mais tem repetido desde então. “Quem não acredita no PS, quem não se revê nas esquerdas encostadas, tem uma escolha clara, uma escolha segura, uma escolha inequívoca. E essa é só uma: nós, o CDS. O CDS é o partido mais apto a governar o nosso Portugal”.

Ninguém pode dizer que a mensagem de Assunção Cristas é pouco clara ou equívoca. Não é. "É preciso haver uma alternativa de centro-direita para Portugal, que explique que há outra forma de construir o nosso futuro, com ambição. Na verdade, essa alternativa eu vejo hoje no CDS”, insistiu, à margem de uma cerimónia evocativa do 25 de Novembro de 1975, na Amadora.

Se é ou não possível centrar toda uma campanha eleitoral nesta mensagem é o que se verá nos próximos tempos, mas Cristas também tem feito referência a outra estratégia. “Tudo faremos para conquistar uma maioria de 116 deputados para o espaço de centro-direita nas próximas eleições”, assumiu, logo em Lamego. E vaticinou: “Hoje o voto útil acabou. Hoje o voto de cada português é mais livre do que nunca. Acabou o voto para o primeiro lugar. Em 2019, para governar, não é preciso ficar em primeiro lugar, é preciso garantir o apoio de um conjunto de 116 deputados!”

Nas duas mensagens, é seguida de perto por Pedro Santana Lopes que não só disputa o título de alternativa a António Costa, como também tem feito referência à necessidade de criar um bloco, à direita, para fazer face à “geringonça”.

BE: contributos no passado e no futuro

Dois minutos de mensagem de ano novo bastaram para que Catarina Martins revelasse um pouco da táctica que o Bloco de Esquerda vai seguir em 2019, um ano de “decisões”, de eleições em que se escolherá o “futuro”.

Os bloquistas vão continuar a pedir mais votos, mais força, para influenciar ainda mais a governação do futuro executivo, para o qual o BE já se predispôs a entrar. A líder do Bloco deixou claro que o partido se baterá por explicar aos eleitores que o mérito das coisas boas que aconteceram não foi todo do PS e que está ainda muito por fazer.

“Conhecem o BE. Nas eleições de 2015, tivemos apenas 10% dos votos, mas, nestes anos, transformámos cada voto que nos deram em mudanças concretas”, disse Catarina Martins antes de dar o ano político de 2018 por encerrado. A seguir, enumerou as conquistas que tiveram o contributo do BE: “fim dos cortes, recuperação das pensões e apoios sociais, aumento do salário mínimo, menos impostos sobre o trabalho, contrato efectivo para milhares de vítimas da precariedade, tarifa social da energia, moratória sobre os despejos, respeito pelas carreiras contributivas, manuais escolares gratuitos, redução das propinas, mais abono de família.”

PCP: a lutar pelo fim da submissão

Sem falar em eleições, Jerónimo de Sousa também se referiu, na sua mensagem de Ano Novo, a 2019 como “um tempo de escolhas em que o povo será confrontado com opções decisivas quanto ao seu futuro”. E é sobre essas escolhas que o secretário-geral do PCP vai falar nos próximos meses.

Há frases-chave na mensagem do PCP que será impossível pôr de parte em 2019, como foi em 2015. Jerónimo de Sousa nunca as deixa de fora do seu discurso: a defesa de uma política patriótica e de esquerda e o combate à política de submissão a Bruxelas são duas ideias que fazem parte da mensagem que o PCP levará aos eleitores. Na mensagem de ano novo, o comunista criticou a política “ao serviço dos monopólios, de submissão ao euro e às imposições da União Europeia, que a acção convergente do PS, PSD e CDS tem imposto ao país”.

Mas Jerónimo de Sousa, que tal como António Costa ou Catarina Martins reconhece haver ainda muito por fazer, também continuará a fazer as contas aos “avanços” conseguidos pela “geringonça”, reclamando para o seu partido alguns dos louros, incluindo na reposição de direitos e na promoção do crescimento económico e do emprego.

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