Uma ermida em Ermida para ver a barragem

Alexandre Delmar
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Alexandre Delmar

Como encaixar um edifício contemporâneo numa zona selvagem? Foi esta a questão que Pedro Geraldes, arquitecto de 37 anos, colocou a si próprio enquanto desenhava o POC Ermida, um posto de observação da barragem de Ribeiradio-Ermida, em Sever do Vouga. “Quando visitava o terreno pensava como é que, se eu estivesse do outro lado da margem, poderia olhar para aquele lado e encontrar um edifício contemporâneo sem que ele parecesse uma construção totalmente desagarrada daquilo que é a história daquela paisagem”, conta o arquitecto, ao telefone com o P3.

A resposta chegou através da observação e associação de três factores: o estilo arquitectónico da região, a herança arquitectónica da EDP e o nome da localidade onde o edifício se insere. Resultou numa construção de 140 metros quadrados na qual predomina o betão, com um desenho que faz lembrar o de uma capela moderna no meio da floresta, como mostram as fotografias de Alexandre Delmar. Mas vamos começar pelo início. 

Para Geraldes, desenhar edifícios industriais não é novidade, uma vez que é arquitecto na EDP desde 2010. Mas não gosta de desenhar caixas de cimento — prefere reflectir sobre cada edifício. “Quando começo a desenhar um edifício para um determinado sítio, penso verdadeiramente nas características da paisagem e do local de implantação.” No caso do projecto POC Ermida, o que saltava à vista era “uma zona marcada por uma série de construções tradicionais, onde predominavam os telhados tradicionais, em telha”. E foi isso mesmo que o arquitecto quis reproduzir, mas de uma forma contemporânea.

Ao mesmo tempo que queria que o edifício “absorvesse as influências que o rodeiam”, tinha em mente a utilização do betão como principal elemento. “Grande parte dos edifícios da EDP, bem como a barragem, são construídos em betão. Por isso, a utilização desse material acaba por ser uma associação quase directa”, refere. Nasceu, então, uma construção com “toda a casca em betão, em que as paredes verticais e o telhado fazem parte do mesmo contorno.”

Quem vê ao longe pode pensar que ali está uma capela. Não é descabido. É, aliás, propositado: “O nome ermida, que significa pequena igreja, esteve na origem da forma do edifício. A analogia acaba por não ser directamente identificável, mas está lá implícita a forma de uma capela”, explica Pedro Geraldes. O contexto envolvente, “repleto de árvores”, faz com que as semelhanças sejam ainda mais evidentes, uma vez que o edifício está “pousado na paisagem”, num ambiente de “calma e silêncio.”

Com as fachadas opacas, contrasta um lado todo envidraçado, que permite a observação da barragem. A entrada para o edifício é anunciada pelas portas de vidro no meio de uma outra fachada em alumínio. Lá dentro, além da sala de reuniões, “onde existe uma mesa para que, em caso de emergência, diferentes autoridades possam sentar-se e reunir” com olhos na barragem, existe também uma sala com um gerador que dá suporte ao controlo da barragem e uma instalação sanitária.

Está concluído desde o início de 2017, mas, na verdade, espera-se que este edifício “nunca venha a ser utilizado”, já que foi pensado para situações de emergência. “Ainda assim, há operações de manutenção que têm de ser feitas ao edifício e equipamentos e ele pode vir a ser usado para reuniões pontuais da EDP”, explica o arquitecto. Para qualquer um dos fins está preparado e equipado — e, desde Outubro último, premiado.

Apesar de Pedro Geraldes não ter por hábito candidatar-se a prémios, este ano fê-lo. Recebeu uma chamada da 2A Architecture&Art Magazine — uma revista com foco na arquitectura e design, que promove prémios internacionais — com um convite para a submissão do projecto. O POC Ermida acabou por ser distinguido com o terceiro lugar na categoria de edifícios públicos da Europa.

Alexandre Delmar
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