União Africana espera que resultados eleitorais "correspondam à verdade dos votos"

Observadores regionais dizem que as eleições na República Democrática do Congo correram "relativamente bem", mas congressista dos EUA considera que a votação “não foi nem livre mem democrática”.

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Os votos começaram a ser contados assim que as urnas encerraram, no domingo STEFAN KLEINOWITZ/EPA

Organizadas com dois anos de atraso, as eleições de domingo na República Democrática do Congo (RDC) permitiram “que a maioria da população congolesa exercitasse o seu direito de voto”, considera a Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral (SADC) num comunicado. Para esta organização, “os desafios eram tantos” que “as eleições foram relativamente bem geridas”.

Os observadores não comentam a falta de acesso à Internet nas principais cidades da República Democrática do Congo (RDC) desde segunda-feira – o Governo justifica este bloqueio com a necessidade de evitar que se espalhem resultados não oficiais, até que sejam divulgados os resultados finais, na data prevista, 6 de Janeiro.

A campanha do opositor Martin Fayuku, no entanto, acusa as autoridades de quererem esconder a sua “vitória esmagadora” nas eleições. Não é a primeira vez que o Presidente Joseph Kabila corta o acesso à Internet, em momentos de tensão e protestos.

Os responsáveis pelas missões diplomáticas em Kinshasa da União Europeia, dos Estados Unidos, do Canadá e da Suíça emitiram uma declaração conjunta apelando ao restabelecimento da Internet, noticia a BBC. A enviada da Rádio France International foi entretanto proibida de trabalhar na RDC, porque as autoridades congolesas a acusaram de estar a divulgar resultados parciais das eleições.

As autoridades da RDC não permitiram à União Europeia enviar observadores nem acreditaram os enviados do Centro Carter, dos Estados Unidos – ambos consideraram que houve irregularidades generalizadas nas eleições de 2011.

Tanto essas como as anteriores, em 2006, viram os resultados contestados pela oposição ao Governo de Joseph Kabila e desencadearam protestos violentos: teme-se que uma nova disputa de resultados possa desestabilizar as voláteis fronteiras do país com o Ruanda, o Uganda e o Burundi, onde há dezenas de milícias activas.

Por agora, não há resultados e a contagem só deverá acabar no dia 6. Sabe-se apenas que, nas contas da SADC, 59% dos centros de votos abriram a tempo, que o policiamento das urnas foi profissional e que a contagem está a decorrer de forma transparente no maior país da África Subsariana, com 80 milhões de habitantes (último censo oficial é de 1984).

Uma primeira vitória

Já para a União Africana, o dia da votação foi pacífico ainda que perturbado por uma série de problemas logísticos, diz outro comunicado,

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A campanha de Martin Fayuku reclama uma "vitória esmagadora" STEFAN KLEINOWITZ/EPA

“A realização destas eleições constitui, em si mesmo, uma primeira grande vitória para os congoleses”, diz a UA. “A missão deseja fortemente que os resultados que sejam declarados correspondam à verdade dos votos do povo congolês.”

Os Estados Unidos manifestaram ao longo dos últimos meses a sua preocupação com as máquinas de voto electrónico usadas nestas eleições, que Washington considerou representarem “um risco colossal”.

De acordo com o presidente do Comité dos Negócios Estrangeiros da Câmara dos Representantes, o republicano Ed Royce, um milhão de eleitores viu-se impedido de votar em “bastiões da oposição”, sem mencionar as cidades de Butembo e Beni, na província de Bukavu, onde a eleição foi anulada. Conflitos entre facções, problemas logísticos e o surto de ébola explicam grande parte das dificuldades que muitos tiveram para votar.

Royce garante que as máquinas não funcionaram bem e que houve gente a passar horas em filas sem que estivesse disponível material de voto suficiente. Independentemente do que aconteceu no domingo, o congressista recorda que as forças de segurança passaram os dois últimos anos a reprimir jornalistas e activistas democráticos, matando dezenas e prendendo centenas. Para Royce, o escrutínio não é “nem livre nem democrático”.

Estas eleições eram esperadas como a primeira transferência democrática de poder em 59 anos de independência no país. Kabila deveria ter deixado o poder em 2016, quando chegou ao fim o seu mandato oficial. Agora, deverá ceder a presidência ao vencedor no dia 18 de Janeiro. Mas deverá continuar a exercer influência no poder.

Entre 21 candidatos, sondagens pré-eleitorais mostravam o favorito de Kabila, Emmanuel Ramazani Shadary, ex-ministro do Interior, atrás dos dois principais opositores: Felix Tshisekedi, presidente do maior partido da oposição, a União para a Democracia e o Progresso Social, e Fayulu, empresário que já foi administrador na Exxon Mobil.

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