Presidente do Deutsche Bank nega necessidade de ajuda estatal

Depois de o título ter caído em 2018 quase 57%, o chairman Paul Achleiner veio garantir que o gigante alemão entrou no bom caminho e que apresenta sinais de recuperação, devendo regressar aos lucros brevemente.

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Reuters/Kai Pfaffenbach

O presidente não executivo do Deutsche Bank (DB) veio este domingo, mesmo em cima da passagem do ano, afastar a necessidade do gigante alemão ter de recorrer a “ajuda estatal” ou de entrar num “movimento de concentração”. A iniciativa pouco habitual visa acalmar os investidores e os clientes, que em 2018 assistiram à derrapagem em bolsa do título, que sofreu uma desvalorização de quase 57%.

As afirmações de Paul Achleitner ao jornal Frankfurter Allgemeine Sonntagszeitung (citadas pela Reuters) foram proferidas este domingo, 30 de Dezembro, depois de, na recta final de 2018, os investidores terem atirado a cotação do DB para níveis mínimos históricos. Sexta-feira passada, o banco transaccionou-se em bolsa abaixo dos sete euros por acção, a 6,97 euros (em Janeiro de 2018, negociou-se acima dos 16 euros, enquanto em Janeiro de 2015 valia 30 euros).

Apesar desta espiral negativa, o chairman do grupo veio sublinhar, em tom positivo, que o gigante alemão está hoje mais “robusto” do que antes e que a estratégia que está a ser seguida está a dar frutos: “Vamos olhar para os factos: o Deutsche Bank tem um capital forte se comparado com os rivais.” A 2 de Novembro, soube-se que ultrapassara os testes europeus de resistência do capital a cenários extremos, com um rácio confortável de 13,5%. Mas continua sem se saber como se comportou o Deutsche Bank noutros exames, os designados AQR, que incluem as avaliações a preços do momento, mark-to-market, ao portefólio dos activos de risco (em full-in core Tier 1). Um tema que Achleitner não clarificou nas declarações citadas pela Reuters.

Para o banqueiro, o novo CEO do Deutsche Bank, Christian Sewing, está a conseguir controlar os custos, o que vai possibilitar colocar o banco, já ni exercício relativo a 2018 em terreno positivo e quebrar, deste modo, um ciclo de três anos a acumular perdas.

Ainda assim, e mesmo se em Novembro se ficou a saber que o grupo mostrou capacidade para resistir a choques económicos agressivos (os testes de stress de capital), as dúvidas sobre a sua sustentabilidade financeira não desapareceram completamente. É o que se depreende da sucessão de notícias e de rumores de que estaria a ser preparado um plano de resolução que poderia passar pela injecção de fundos públicos e pela concentração do DB com o seu rival Commerzbank, este detido directamente em 15% pelo Estado alemão. Ao ser interpelado directamente sobre se o Deutsche Bank vai necessitar de apoio financeiro, Achleitner retorquiu: “Esse cenário não foi equacionado.”

Para além da evolução negativa em bolsa, o gigante alemão sofre danos reputacionais graves devido ao seu envolvimento em todos escândalos financeiros desencadeados com crise financeira de 2008: grande exposição ao subprime e aos produtos derivados, especulação das taxas de juro e de câmbio, ou branqueamento de capitais. Na sequência, o banco foi obrigado a pagar pesadas multas, da ordem dos 10 mil milhões de euros, na maior parte aos EUA. 

Os analistas e investidores consultados pelo PÚBLICO lembram que o FMI considera o Deutsche Bank de risco sistémico, isto é, uma ameaça para todo o sistema financeiro internacional, o que torna o dossiê de “extrema sensibilidade” para as autoridades alemãs (Governo e Bundesbank​, o banco central), mas também para o Banco Central Europeu. Estes especialistas reconhecem mesmo que “dificilmente serão adoptadas soluções de ruptura”, havendo tendência para "empurrar o problema com a barriga", durante mais algum tempo.

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