Arriscar um cenário branco

O leitor Afonso Picão Carvalho partilha a sua experiência na estância de Formigal.

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Nelson Garrido

Sendo eu pessoa friorenta, sempre me tentei manter longe de climas frios, de montanhas e de cumes cobertos de neve. Mas este meu desconforto nunca me impediu de dizer que sim a uma viagem. Esta tornou-se, aliás, uma viagem a aconselhar aos amigos, principalmente aos que nunca experimentaram uma estância de esqui.

Tudo começou quando os meus tios me convidaram para ir com eles de férias, numa semana de Março. A motivação não era pouca. A viagem implicava ter a companhia dos meus primos e substituir as aulas escolares por aulas de esqui. Esta última questão implicava ainda conseguir convencer os meus pais das vantagens da troca. Foi difícil, mas possível, ou não estaria a contar-lhes esta aventura.

Após uma viagem que seria de oito horas não fossem as paragens culturais e técnicas em Madrid e Saragoça, chegámos a Formigal, em Espanha, junto da fronteira com a França. O Formigal é uma área urbana, turística o quanto baste, situada nos Pirenéus aragoneses, com paisagens impressionantes sobre as montanhas do Vall de Tena.

A estância Formigal-Panticosa tem seis vales e 180 quilómetros de pistas, o que faz dela um dos maiores destinos de desportos de Inverno em Espanha. Se estiverem a pensar encontrar muita confusão, filas e gente a mais, desenganem-se. O Formigal compete com Andorra para os amantes do esqui ou snowboard, com a vantagem de estar mais organizado, mais cuidado em termos de planeamento, pois é uma estância recente, além de que conta com excelentes infra-estruturas resultantes de investimentos feitos muito recentemente.

Ir com as aulas pré-pagas e o material alugado pode significar podermos aventurar-nos logo no primeiro dia. Porém, se for a sua primeira vez, valerá a pena esperar por uma conversa com quem sabe do ofício, numa das escolas da estância.

Logo à chegada somos recebidos por parques de estacionamento bem sinalizados e gratuitos. Pode contar-se com alojamento para todos os gostos e todas as bolsas. Eu fiquei na modalidade de apartamento, o que nos permitiu também cozinhar e rentabilizar o tempo e os recursos financeiros. Há também inúmeros bares e restaurantes onde se come qualquer coisa leve e rápida durante a hora de almoço, para aproveitar as pistas, ou refeições agradáveis e completas, ao jantar, para recuperar as forças para o dia seguinte. Aconselho-os a passarem pelo Marchica, o mais famoso bar après-ski dos Pirenéus. As lojas, as escolas de esqui e os jardins de Inverno completam a mancha colorida, envolvida por um cenário branco que nos deixa sem respirar.

Percam-se nas pistas e aventurem-se nas cadeiras que os transportam aos pontos mais altos. Vai valer a pena. E, no cimo da montanha, quando estiverem a desfrutar de uma paisagem estonteante e de um cenário idílico, vão perceber como somos tão pequeninos perante o planeta e a sua geografia.

Convém não protelar muito a ida, não vá o galardão recebido de melhor estância familiar em 2016/2017 aliciar demasiados praticantes e turistas que perturbem o equilíbrio de que eu ainda pude fruir.

Afonso Picão Carvalho

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