Sonangol não distribui dividendos, lucro de 2017 reduz prejuízos acumulados

Petrolífera confirma que vai manter-se no Millenium BCP, onde detém 19,49% do capital.

Foto
Contas dizem respeito ao mandato de Isabel dos Santos na petrolífera angolana Fernando Veludo/NFACTOS/Arquivo

A petrolífera estatal angolana Sonangol não vai distribuir os dividendos do exercício de 2017, usando os lucros para reduzir os prejuízos acumulados de anos anteriores, que ascendiam, no final desse ano, a mais de 2100 milhões de euros. Sobre a participação no banco Millenium BCP, onde a petrolífera detém 19,49% do capital, o relatório da administração afirma que esse investimento de mais de 800 milhões de euros é considerado "um investimento estratégico", confirmando assim que pretende manter essa posição numa altura em que tem em curso um processo de saída de 52 empresas, na banca e noutras empresas do grupo.

“A participação da Sonangol no Millennium BCP é um investimento estratégico, já que é um suporte relevante para a diversificação do seu investimento, em geografias como África e a Europa, e acentua a natureza e vocação internacional da empresa”, lê-se no relatório de gestão. A 31 de Dezembro de 2017, a Sonangol detinha 2.946.353.914 acções do Millennium BCP, avaliadas nas contas da Sonangol em 801,4 milhões de euros, no regime de justo valor (ou preço de mercado).

A manutenção na estrutura accionista do BCP já tinha sido objecto de indicação por parte do Presidente angolano, João Lourenço, aquando da visita de Estado que fez a Portugal no final de Novembro. João Lourenço indicou, na ocasião, que a Sonangol deve alienar as participações em 52 das cerca de 100 em que está presente. Em Portugal, a empresa detém ainda uma participação na Galp Energia.

Prejuízos acumulados de 2100 milhões de euros

Segundo as contas referentes a 2017, divulgadas neste sábado pela Lusa, a Sociedade Nacional de Combustíveis de Angola (Sonangol) registou um resultado operacional positivo de 197.538 milhões de kwanzas (1060 milhões de euros, à taxa de câmbio de 31 de Dezembro de 2017). As contas são do último ano da gestão de Isabel dos Santos na petrolífera, cujo relatório só foi validado pelo accionista Estado neste mês de Dezembro.

Porém, ao abrigo Lei das Sociedades Comerciais, a empresa “não poderá efectuar a distribuição dos resultados, até à cobertura integral dos prejuízos acumulados dos exercícios anteriores”. Esses prejuízos acumulados ascendiam, no final de 2017, a 398.178 milhões de kwanzas (2160 milhões de euros, à taxa de câmbio de 31 de Dezembro de 2017). Isabel dos Santos, filha do ex-Presidente angolano, José Eduardo dos Santos, liderou a Sonangol entre Junho de 2016 e Novembro de 2017, tendo sido depois afastada pelo novo chefe de Estado, João Lourenço.

“Propomos que o resultado líquido do exercício seja integralmente aplicado para a cobertura dos prejuízos de exercícios anteriores, por serem necessários para o efeito. A presente proposta de aplicação de resultados, tem subjacente a necessidade de garantir a sustentabilidade da empresa, de modo a continuarmos a implementação da estratégia de crescimento e solidez definida no Programa de Regeneração da Sonangol”, lê-se no relatório da administração da petrolífera, que desde Novembro de 2017 é liderada por Carlos Saturnino.

Angola é o segundo maior produtor de petróleo em África, produto que representa mais de 95% das exportações do país. João Lourenço considera a Sonangol a "galinha dos ovos de ouro".

Globalmente, o resultado líquido do grupo Sonangol em 2017 foi de 27.250 milhões de kwanzas (147 milhões de euros, à taxa de câmbio de 31 de Dezembro de 2017), correspondente a um aumento de 107% face a 2016, “reflectindo os ganhos da estratégia adoptada pela OPEP [Organização dos Países Exportadores de Petróleo]”, refere a administração da petrolífera, sobre o acordo envolvendo os países produtores para o corte na produção.

As vendas da Sonangol em 2017 – essencialmente petróleo bruto – aumentaram 19% face ao ano anterior, para 2,916 biliões (milhões de milhões) de kwanzas (15.700 milhões de euros, à taxa de câmbio de 31 de Dezembro de 2017).

O custo com o pessoal desceu para 152.952 milhões de kwanzas (826 milhões de euros), fruto da quebra de 1,46% no total de trabalhadores do grupo – que conta com cerca de 20 subsidiárias –, para 8099 colaboradores efectivos no final de 2017.

Sugerir correcção
Comentar