Constituído grupo de trabalho que vai estudar insucesso a Matemática

Grupo de trabalho com dez professores, coordenado pelo matemático Jaime Carvalho e Silva, vai analisar as duas últimas décadas de ensino da Matemática nas escolas básicas e secundárias e fazer recomendações.

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Paulo Pimenta

Matemáticos, professores de ensino básico e secundário, especialistas em educação. No total, dez professores integram o grupo de trabalho, formalmente constituído esta sexta-feira através de um despacho publicado em Diário da República, que vai estudar o “fenómeno do insucesso” a Matemática no ensino básico e secundário e fazer recomendações para melhorar o ensino, aprendizagem e avaliação desta disciplina.

Anunciado em Março, o grupo é coordenado pelo matemático Jaime Carvalho e Silva, professor na Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra.

O despacho define que parte do trabalho será de análise à evolução dos resultados a Matemática nas duas últimas décadas: o histórico de taxas de sucesso, das taxas de recuperação, dos programas da disciplina, da eficácia de medidas de apoio e das metodologias de ensino, entre outros parâmetros. Importa perceber se foram, afinal, eficazes e eficientes os diferentes planos e medidas dirigidas à melhoria das aprendizagens e à promoção do sucesso escolar adaptados nos últimos anos.

Este ponto de situação deverá ser feito nos próximos três meses, sendo depois o relatório disponibilizado em consulta pública.

Não há referência no despacho à revisão dos programas da disciplina – algo que a actual equipa do Ministério da Educação tem dito que não irá fazer. No entanto, como fez notar ao PÚBLICO em Abril, para Jaime Carvalho e Silva é claro que das recomendações que o grupo deve apresentar até ao final de Junho do próximo ano “sairá inevitavelmente a alteração dos actuais programas e metas curriculares”, aprovados durante o mandato de Nuno Crato. Aquando do anúncio da criação do grupo de trabalho, o secretário de Estado da Educação, João Costa, também considerara que o “problema passa pelos programas”.

No despacho, João Costa recorda agora que os dois grupos de trabalho de Matemática criados em 2016 (um para o ensino básico, outro para o secundário) apontaram “inúmeros constrangimentos” nos currículos em vigor: entre outros, a dimensão dos programas, impossíveis de cumprir por falta de tempo, e as “metas curriculares demasiado ambiciosas”, prejudiciais para a aprendizagem da generalidade dos alunos.

“Elevadas taxas de retenção”

Para o governante, “apesar das inúmeras iniciativas e medidas desenvolvidas ao longo do tempo”, as “elevadas taxas de retenção” a Matemática nos 12 anos da escolaridade obrigatória continuam a ser preocupantes. Este ano, mais de metade dos alunos teve negativa no exame nacional do 9.º ano e um terço ainda termina o ensino básico com negativa à disciplina. Chegados ao secundário, as dificuldades têm persistido e estão mesmo a afastar jovens de cursos – a maioria das engenharias, por exemplo – considerados importantes para o país. A média no exame do 12.º ano manteve-se este ano na positiva (10,9 valores), um terreno onde se chegou apenas no ano passado (com média de 11,5 valores), após quatro anos abaixo do dez.

Além do coordenador, integra o grupo de trabalho – não remunerado – Luís Gabriel, da Direcção-Geral da Educação, e os professores universitários Ana Paula Canavarro, do departamento de Pedagogia e Educação da Universidade de Évora, Carlos Albuquerque, do departamento de Matemática da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, e Maria Leonor dos Santos, do Instituto de Educação da Universidade de Lisboa. Mais os professores de Matemática de 3.º ciclo e secundário Helder Martins, da Escola Secundária António Damásio (Lisboa), João Almiro, da Secundária de Tondela, e Paulo Correia, da Secundária de Alcácer do Sal. Ainda Célia Mestre, professora de ensino básico na escola de Vale Flores (Feijó), e Olga Seabra, docente de Matemática e Ciências da Natureza do 2.º ciclo na Escola Básica do Sobrado (Valongo).

Define o despacho que em qualquer altura podem ser ouvidos outros intervenientes com experiência e conhecimento no sector.

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