Quinze mortos nas estradas: a mais negra operação de Natal dos últimos anos

Em seis dias, a GNR registou quase sete mil infracções nas estradas, a maioria por excesso de velocidade. 144 condutores tinham taxa de alcoolemia considerada crime.

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PAULO PIMENTA

Nos últimos seis dias, 15 pessoas morreram nas estradas portuguesas patrulhadas pela GNR. Durante a Operação Natal Tranquilo, que decorreu entre sexta e quarta-feira, registaram-se 1360 acidentes, nos quais 29 pessoas ficaram gravemente feridas e 449 tiveram ferimentos ligeiros. Os militares voltam esta sexta-feira a intensificar o patrulhamento nas vias mais movimentadas a propósito do Ano Novo.

Esta quarta-feira, último dia da operação, registaram-se 176 acidentes. Uma pessoa morreu e três ficaram feridas com gravidade, de acordo com os dados provisórios da GNR. Sexta-feira foi o dia mais grave, com 319 acidentes, nos quais cinco pessoas morreram e dez ficaram gravemente feridas.

Segundo a GNR, a operação deste ano, que durou mais um dia do que a do ano passado, foi mais negativa a todos os níveis: mais 313 acidentes rodoviários, mais oito vítimas mortais, mais cinco feridos graves e mais 112 feridos ligeiros do que em 2017.

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Nos últimos dez anos, a GNR nunca registou tantas vítimas mortais nesta quadra como este ano – há, no entanto, que ter que em conta que os dias em que se realiza e a duração desta operação varia de ano para ano. É preciso recuar até 2014 para se encontrar uma operação de Natal igualmente negra, com 14 mortos. Não entram nesta contabilização os feridos que acabaram por morrer no hospital.

Excesso de velocidade e de álcool no sangue, manobras perigosas, fadiga, uso de telemóvel são, há vários anos, apontadas como os principais causas para os acidentes rodoviários. Juntar a isto viagens mais longas e mais gente na estrada explica que o Natal, como outros momentos festivos, seja uma quadra difícil, o que leva a GNR a reforçar a fiscalização nas vias mais movimentadas sob a sua jurisdição. Este ano foram destacados mais de 1400 militares.

Para o director-geral da Prevenção Rodoviária Portuguesa (PRP), Alain Areal, o problema da fiscalização não está, no entanto, nas estradas, mas no trabalho de tratamento das contra-ordenações. “Há uma redução substancial dos condutores que são punidos. As pessoas são autuadas mas nunca recebem a multa para pagar. Isto cria um sentimento de impunidade que é difícil de controlar”, afirma Alain Areal. “Contribui para que as pessoas corram mais riscos ou, pelo menos, não contribui para a inibição de comportamentos incorrectos.”

Sinistralidade dentro das localidades

Estes dados, embora possam ser lidos dentro da quadra, devem ser também enquadrados no resto do ano, diz o responsável da PRP. Até 21 de Dezembro, este foi um ano de aparente estagnação na sinistralidade rodoviária, de acordo com os últimos dados disponibilizados pela Autoridade Nacional de Segurança Rodoviária (ANSR).

Numa comparação com o mesmo período dos últimos dois anos, houve este ano um ligeiro aumento dos acidentes (129.066), face a 2016 (123.896) e 2017 (126.813). O número de mortos e feridos graves tem sido semelhante. “Mas o agravamento nesta quadra contribuirá, certamente, para um balanço mais negativo este ano”, nota Alain Areal.

Este ano, até ao início da Operação Natal Tranquilo, tinham morrido 494 pessoas no local do acidente ou a caminho do hospital, 2046 ficaram feridas com gravidade, segundo a ANSR (são consideradas vítimas graves aquelas cujos ferimentos implicaram mais de um dia no hospital).

A PRP defende a redução obrigatória da velocidade dentro das localidades e normas “rígidas e obrigatórias” para a construção de infra-estruturas municipais. “A sinistralidade dentro das localidades é muito superior à média da União Europeia”, reforça Alain Areal, que defende que a má concepção de uma estrada pode contribuir para isso: “Uma estrada com três vias num sentido e que tenha um sinal a indicar 50 km/hora como o limite máximo está a dar informações contraditórias ao condutor.”

Pede também medidas concretas para inibir a condução sob efeito de álcool – dado que “mais de 30% dos condutores que morreram na estrada tinha taxa de alcoolemia acima do limite legal” (0,5g/l para quem conduz veículos particulares) – e o uso de telemóvel ao volante. Além de campanhas de sensibilização “muito específicas e integradas numa estratégia” de três a cinco anos. “Não é uma campanha completamente isolada que vai mudar comportamentos”, defende.

Pessoas detidas: 218

Durante esta operação, a GNR fez 218 detenções e registou 6912 infracções. A maioria (4079) por excesso de velocidade, 408 por falta de inspecção periódica. Houve também 304 condutores sob efeito de álcool, entre os quais 144 com taxa de alcoolemia considerada crime (igual ou superior a 1,2 g/l).

A GNR detectou ainda situações de anomalias nos sistemas de iluminação ou sinalização (263), incorrecta ou não-utilização do cinto de segurança ou de sistemas de retenção (202), uso de telemóvel ao volante (189) e falta de seguro de responsabilidade civil obrigatório (126). Foram ainda detidas 25 pessoas por estarem ao volante de veículos para os quais não estavam legalmente habilitadas a conduzir.

Com o mesmos objectivos de prevenir a sinistralidade rodoviária, garantir a fluidez do tráfego e apoiar quem circula nas estradas, a GNR volta esta sexta-feira, dia 28 de Dezembro, e até ao final da próxima quarta-feira, 2 de Janeiro, a intensificar o patrulhamento nas principais vias. Estará “particularmente atenta às deslocações para e dos locais de diversão e de grande concentração de pessoas”, com o intuito de evitar comportamentos de risco por parte de condutores, nota em comunicado. Com Lusa

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