Cidadãos garante presidência do parlamento andaluz com a ajuda da extrema-direita

Marta Bosquet foi eleita presidente do parlamento da região autonómica, com os votos do PP e do Vox, no primeiro passo para a tomada da Andaluzia ao PSOE. Extrema-direita terá um lugar na mesa.

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Apoiante do Vox na Andaluzia RAFA ALCAIDE/EPA

Os partidos da direita deram esta quinta-feira o primeiro passo para tirar a Andaluzia das mãos do Partido Socialista (PSOE), ao unir forças para eleger Marta Bosquet para a presidência do parlamento da região autonómica espanhola, controlada pelos socialistas há 36 anos. A deputada do Cidadãos contou com o apoio do Partido Popular (PP) e do Vox para dirigir a mesa, que terá um membro da extrema-direita como secretário. O passo seguinte é a formação de um governo liderado pelo PP.

Segundo e terceiro classificados nas eleições regionais do dia 2 de Dezembro, ganhas pelo PSOE, populares e liberais já tinha anunciado na véspera ter chegado a acordo para dar a mesa ao Cidadãos e a presidência da Junta ao PP. Um compromisso que só seria possível com o apoio do Vox, o primeiro partido de extrema-direita a entrar num parlamento autonómico em Espanha.

Juntos, PP (26 deputados), Cidadãos (21) e Vox (12) somam 59 lugares – quatro acima da maioria –, precisamente o número de votos que Bosquet obteve na eleição desta quinta-feira, na inauguração da legislatura no parlamento em Sevilha, contra Inmaculada Nieto, a deputada da coligação de esquerda Adelante Andalucía (17), que recebeu o apoio do PSOE (33).

A estratégia dos principais partidos à direita para afastar os socialistas e a presidente cessante Susana Díaz dos dois principais órgãos de poder na região, passou por uma proposta que, entre vice-presidências e secretarias, oferecesse a cada uma das formações políticas eleitas um lugar na mesa do parlamento – o órgão responsável pela definição e controlo dos trabalhos.

O Vox aceitou e o deputado Manuel Gaviria foi eleito terceiro secretário da mesa, convertendo-se no primeiro membro da força de extrema-direita a deter um cargo institucional em Espanha. Um triunfo histórico para o partido que defende a supressão dos poderes autonómicos, a deportação de todos os imigrantes ilegais e a revogação da lei sobre a violência de género, e que elegeu 12 deputados sem apresentar uma única medida para a Andaluzia – divulgou apenas um programa de “100 medidas urgentes para Espanha”.

Por outro lado, a Adelante Andalucía rejeitou a oferta do eixo Cidadãos-PP e não apresentou qualquer candidato à mesa. Ao fazê-lo, a coligação que integra o Podemos e a Esquerda Unida quis tornar ainda mais evidente que o plano dos partidos à direita só foi possível graças ao conluio com a Vox. 

“Por coerência não participamos em alianças entre as direitas e as extremas-direitas andaluzas. Têm de apresentar-se como são: uma aliança tripla. E nós seremos a sua oposição mais firme durante os próximos quatro anos”, justificou Teresa Rodríguez, coordenador do Podemos na Andaluzia, citada pelo site Publico.es.

Estratégia semelhante foi adoptada pelo PSOE, quando optou por não apresentar ninguém para competir com Bosquet pela presidência do parlamento. Até porque, mesmo sem os 55 votos necessários para o efeito, os socialistas vão propor a investidura em Susana Díaz e forçar os partidos à direita a terem de depender, novamente, do apoio da extrema-direita. Que já anunciou que não facilitará o processo.

“Não nos sentimos responsáveis nem obrigados pelos acordos que tenham sido alcançados PP e Cidadãos. As negociações [para a formação do governo] serão claras, transparentes e leais, mas também serão difíceis, porque queremos tratar de muitos temas”, afiançou o secretário-geral do Vox Javier Ortega, citado pelo El País, sem revelar, no entanto, se vão ser exigidas mudanças ao programa de governo conjunto revelado na terça-feira pelos dois partidos.

A votação do presidente da Junta da Andaluzia deverá acontecer em meados de Janeiro e terá, quase seguramente, como candidatos, a actual presidente socialista e Juan Manuel Moreno, do PP. “É mais do que previsível que o próximo presidente da Junta seja eu”, afirmou na quarta-feira o dirigente popular.

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