Se conduzires, não estejas no Facebook, no Instagram, no Snapchat, no WhatsApp

Como se não bastasse conduzir ao telefone, agora há o hábito, mortal, de conduzir enquanto se publica uma foto no Instagram ou um comentário no “Face”, sem esquecer o FaceTime, conversas e imagens no WhatsApp e as brincadeiras do “Snap”.

Foto
neg nelson garrido

Entretanto já morreram 14 pessoas nas estradas, 14 famílias cujo Natal ficará marcado para sempre pelas piores razões. Na RTP um oficial da GNR insiste na ausência de álcool e respeito pelos limites de velocidade durante esta época, mas não só. Este ano há uma novidade: as redes sociais.

As redes sociais? Sim, ouvi bem, as redes sociais. Como se não bastasse conduzir ao telefone, agora há o hábito, mortal, de conduzir enquanto se publica uma foto no Instagram ou um comentário no “Face”, sem esquecer o FaceTime, conversas e imagens no WhatsApp e as brincadeiras do “Snap”.

Conclusão, conduzir não basta, a vida é um circo e uma hora na auto-estrada uma tarefa ciclópica onde a capacidade de concentração de quem vai ao volante é zero e a necessidade de distracção uma constante imperativa, não, urgente.

Os alunos com quem trabalho todos os dias têm, por norma, dificuldades de concentração. Vítimas dos telemóveis e de famílias desestruturadas onde não moram regras, relações sociais e amor, têm uma necessidade de atenção e uma incapacidade de manter a atenção crónicas. É neste estado que preenchem os dias e as noites de escolas onde, literalmente, os miúdos marinham parede acima.

Os miúdos com quem trabalho são isso mesmo, miúdos, ainda não adultos, mas um dia serão adultos. E, se nada fizermos, serão incapazes das tarefas mais simples como ir ao médico e preencher uma ficha de inscrição, saber o caminho para chegar a casa de alguém ou fazer um teste, quanto mais conduzir um automóvel — tudo tarefas onde a concentração é um requisito mínimo para quem pretende fazer parte desta sociedade.

É, portanto, com surpresa que constato ver nas estradas portuguesas condutores cuja capacidade de concentração e necessidade de atenção, disfarçadas pelo narcisismo implícito das redes sociais, acabam por estar a par e par com os alunos com quem trabalho.

Este Natal já morreram 14 pessoas na estrada… e ainda falta o ano novo. Vítimas desta necessidade constante de estímulos, likes, emojis e feedback, acabamos a tirar uma selfie com uma mão enquanto a outra conduz. Sem olhar para a estrada. Os olhos estão no espelho do telemóvel no momento exacto em que o carro sai da via, entra pela valeta e capota a viatura e uma família inteira. Aturdido, antes de perder a vida e os sentidos, ainda há tempo para partilhar no “Insta”: venham os likes...

Se conduzires não bebas, respeita os limites de velocidade, descansa de duas em duas horas e, por favor, não estejas no Facebook, no Instagram, no Snapchat, no WhatsApp, entre outras redes sociais. Pensa nos outros que pensam mais em si do que no seu perfil do Facebook. E quando te quiseres distrair, podes sempre ouvir música ou a velhinha, mas ainda actual e sempre fiel, rádio. 

Sugerir correcção
Comentar