Geologia com letra maiúscula

Existe entre os geólogos um sentimento de revolta sempre que vemos uma falsa representação daquilo que são as explorações de recursos minerais metálicos, não metálicos e energéticos. A revolução eco-friendly deve ser feita, mas não nos esqueçamos dos meios para atingir os fins.

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ADRIANO MIRANDA / PUBLICO

Por estes dias a Geologia anda de luto. De luto pelos mais recentes e trágicos acontecimentos; de luto pela falta de informação transmitida pelos meios de comunicação social; de luto pelo desrespeito pela profissão e por quem luta para um avanço do conhecimento geológico nacional.

Enquanto jovem geólogo e investigador, tal como muitos outros colegas geólogos, existe entre nós um sentimento de revolta sempre que vemos uma falsa representação daquilo que são as pesquisas e explorações de recursos minerais metálicos, não metálicos e energéticos. Fazendo parecer que se trata de algo que devemos abolir o mais rapidamente possível das nossas vidas.

Os recursos minerais são as fundações da sociedade em que vivemos e arrisco-me a dizer que isso nunca mudará. Irá com certeza evoluir e é para isso que todos nós trabalhamos; para uma utilização cada vez mais consciente e regrada dos recursos que esta nossa finita terra nos reserva.

No entanto, não posso deixar de me revoltar com a revolta generalizada dos “contra tudo”. Os que numa semana se mostram contra a prospecção (e friso prospecção para separar as águas) de recursos energéticos, como o petróleo e gás, em Portugal, querendo alternativas “verdes”. E, na semana seguinte, estão contra a prospecção e exploração de lítio. Ora, isto revela uma clara dualidade de pensamento, não acham? Estas alternativas “verdes” não surgem das árvores, como se fosse um fruto de Eva e Adão.

A factura de recursos necessários para uma revolução eco-friendly é grande e deve ser feita, mas não nos esqueçamos dos materiais que constituem os veículos e infra-estruturas denominadas como amigas do ambiente. Não nos esqueçamos dos meios para atingir os fins. Lamentavelmente parece preferir-se a perpetuação da exploração em países de terceiro mundo, em condições de trabalho deploráveis e sem regulamentação de exploração. Veja-se o exemplo da extracção de coltan (columbite e tantalite) a qual envolve exploração infantil na República Democrática do Congo. Depois de vermos algumas imagens destas explorações, todos nós preferiríamos ver este tipo de actividade num país com leis e regulamentação firmes e mão-de-obra qualificada.

Portugal é um país rico em recursos minerais e a sua pesquisa deve ser fomentada para que tenhamos pleno conhecimento do que este cantinho à beira-mar plantado nos reserva. É urgente contribuir para a redução da dependência nacional e europeia em recursos minerais importados para aplicação nas mais diversas indústrias. Por isto, a Geologia deve ser olhada como um aliado económico e um aliado na transição entre combustíveis fósseis e energias “limpas”. Convençam-se que sem ela não existirão alternativas sustentáveis.

As prospecções e explorações devem ser olhadas com cuidado e planeadas ao mais ínfimo pormenor com todos os pareceres que a lei exige, para que caminhemos para uma exploração cada vez mais sustentável.

Para que a opinião pública seja esclarecida e sejam tomadas decisões de forma consciente é necessário que os meios de comunicação social convoquem, de facto, geólogos e outros profissionais da área das geociências para dar a o seu parecer. Isto infelizmente não tem acontecido, dando voz a opiniões claramente tendenciosas. Enquanto geólogos temos também o dever de educar porque não temos de ser todos a favor, mas temos de saber por que é que somos contra.

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