Para tirar a Andaluzia ao PSOE, PP e Cidadãos distribuem cargos. Até pelo Vox

Liberais ficam com a chefia do parlamento e populares com a presidência da Junta – detida pelos socialistas há quatro décadas. Acordo à direita inclui oferta de cargos na mesa da assembleia a todos os partidos, incluindo a extrema-direita.

Foto
Susana Díaz (PSOE) deverá ceder o cargo de presidente da Andaluzia a Juan Manuel Moreno (PP) Reuters/JON NAZCA

Partido Popular (PP) e Cidadãos anunciaram esta quarta-feira ter chegado a um compromisso para pôr um ponto final em 36 anos de governação ininterrupta do Partido Socialista (PSOE) na Andaluzia. O segundo e o terceiro partidos mais votados nas eleições do início do mês acordaram que caberá aos Cidadãos assumir a presidência da mesa do parlamento e ao PP ficar com a presidência da Junta da mais populosa comunidade autónoma de Espanha.

A solução terá a bênção do Vox, o primeiro partido de extrema-direita a entrar num parlamento autonómico espanhol, a quem foi oferecido um cargo na mesa do parlamento – o órgão responsável pela definição, calendarização e controlo dos trabalhos na assembleia andaluz, à volta do qual se centraram nos últimos dias as negociações entre partidos.

O PSOE foi o vais votado das eleições autonómicas (33 deputados), seguido por PP (26), Cidadãos (21), Adelante Andalucía (17) – uma coligação de esquerda que inclui o Podemos – e Vox (12). A proposta dos populares e dos liberais para alcançar os 55 votos necessários para a maioria, essenciais para impedir a renovação do mandato da socialista Susana Díaz, investir um novo presidente da Junta e aprovar a nova composição da mesa, passa pela distribuição de pelouros, neste último órgão, por todos os partidos.

Para além de presentear o Cidadãos com a liderança da mesa, o plano prevê a distribuição das suas vice-presidências por PP, PSOE e Adelante Andalucía e das secretarias por PSOE, PP e Vox. 

E confirma a opção dos partidos de direita de não erguer um cordão sanitário para afastar a extrema-direita do diálogo e dos cargos políticos. Até porque sem os 12 deputados do Vox, será praticamente impossível a PP e Cidadãos conseguirem uma maioria – teriam de virar-se para a esquerda em busca de votos.

O Vox logrou entrar na arena política espanhola sem apresentar uma única proposta para a Andaluzia. Em vez disso, divulgou um programa de “100 medidas urgentes para Espanha”, que abarca, entre outras propostas, a supressão dos poderes autonómicos, a deportação imediata de todos os imigrantes ilegais, a revogação da lei sobre a violência de género ou o fim do imposto sucessório.

“A proposta garante que toda a gente fica representada na mesa do parlamento, com voz e voto, em conformidade com os resultados das eleições andaluzes”, justificou Juan Marín, cabeça-de-lista do Cidadãos nas eleições, na linha do líder do partido Albert Rivera, que já tinha defendido ser “irresponsável descartar seja quem for” das negociações, incluindo o Vox. 

Em conferência de imprensa, Marín sublinhou que o pacto com o PP, tornado público esta quarta-feira, “não é sobre o presidente” da Junta, mas apenas sobre a mesa. Porém, afiançou que o Cidadãos não será “um obstáculo” à investidura de um presidente popular. E deixou uma certeza: “Haverá governo de mudança. E o PSOE vai para a oposição”.

Pouco depois destas palavras, o próprio Juan Manuel Moreno, candidato do PP ao cargo de Susana Díaz – que também se vai apresentar à investidura – assumiu: “É mais do que previsível que o próximo presidente da Junta seja eu”.

Moreno e Marín pretendem agendar o debate de investidura para o dia 16 de Janeiro do próximo ano e esperam apresentar a composição do governo “cinco ou seis dias antes” dessa data. 

Fontes dos dois partidos disseram ao El País que as negociações sobre o executivo “estão muito avançadas”, mesmo não tendo arrancado “oficialmente”. Até porque na terça-feira foi divulgado um programa de governo conjunto, assente em 90 medidas que, de acordo com Rivera, “desmantelarão a rede clientelar montada pelo PSOE durante 40 anos”. 

“É o projecto reformista mais ambicioso nesta terra deste a transição democrática [pós-1975]. Espero que os restantes partidos estejam à altura dos andaluzes e não bloqueiem a legislatura”, escreveu o líder do Cidadãos no Twitter.

A resposta do PSOE foi célere e de olhos postos na ‘aliança’ com a extrema-direita. “Esse acordo só é possível com os votos do Vox. Sem a extrema-direita não têm governo. Porque é que o esconde? Envergonha-o?”, questionou Susana Díaz na mesma rede social.

Sugerir correcção
Ler 17 comentários