Claire põe animais à mesa para nos pôr a olhar por eles

©Claire Rosen
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O famoso quadro A Última Ceia, de Leonardo da Vinci, serve de mote e inspiração para a série fotográfica The Fantastical Feasts, da norte-americana Claire Rosen; ao retratar animais de diversas espécies e origens num cenário “tipicamente humano”, a fotógrafa convida o espectador a olhá-los de forma humanizada e a repensar o seu papel perante as criaturas com que partilha o planeta. 

Em entrevista ao P3 via Skype, a jovem fotógrafa conta que cada imagem é realizada in loco, com recurso a adereços e animais reais. “Cada fotografia difere dependendo do animal retratado, da forma como se comporta junto a seres humanos, do ambiente em que está inserido e da fome que sente no momento em que é fotografado”, explica. A maioria das sessões decorreu enquanto Claire realizava trabalhos para terceiros noutras paragens, ou enquanto dava aulas. Sempre que viaja, a fotógrafa procura os animais mais relevantes do local, quer do ponto de vista simbólico, quer do ponto de vista do risco de extinção. “E à medida que o projecto foi evoluindo, fui focalizando a minha atenção em santuários de animais em risco e em organizações não-governamentais de natureza ambientalista. Sempre que me garantiram acesso, não hesitei.” 

De forma a obter o melhor resultado no mínimo período de tempo possível, a fotógrafa mantém com os tratadores longas conversas sobre o comportamento dos animais em questão. “Depois disso, vou ao mercado local mais próximo e começo uma busca delirante pelos alimentos e pelos acessórios que darão vida às minhas imagens.” Claire adapta cada mesa à dimensão de cada animal. Uma mesa de abelhas é seguramente diferente de uma destinada a elefantes. “Gosto da parte em que procuro os objectos certos para cada cenário, desde miniaturas até pratos e copos de grandes dimensões.”

Fotografar flamingos foi o desafio mais difícil até hoje. “Eles simplesmente não estavam interessados no que eu tinha colocado na mesa e estavam dentro de água”, explicou. “Estive sentada num lago cerca de seis horas, à espera que eles se aproximassem da mesa.” Desconfia que as aves "fizeram de propósito", diz, deixando escapar um sorriso. “Sempre que eu começava a desistir, elas aproximavam-se; quando eu retrocedia, elas tornavam a afastar-se. Elas sabem, compreendem. E os pavões também se comportaram da mesma forma, por isso acho que é um código partilhado por aves de grande porte.”

As hienas que também se revelaram desafiantes. “Tiveram de ser retratadas num espaço fechado, do outro lado de uma rede. Tive de ser muito cuidadosa.” Mas os animais que, surpreendentemente, mais assustaram Claire foram as abelhas — a quem serviu, em tabuleiros miniatura, flores de néctar. “Os elefantes foram muito fáceis de fotografar”, refere. “A sessão durou dois minutos (...) Pareciam aspiradores de amendoins”, gracejou. Cabras da Bósnia-Herzegovina, gibões da Tailândia, estrelas-do-mar da Noruega, bisontes dos Estados Unidos, preguiças do Peru, ursos da Índia, corujas da África do Sul, coelhos de Filadélfia foram alguns dos animais que retratou, mas a lista é bem mais extensa. “Juro que muitos deles percebem o que estás a tentar fazer e, de certo modo, compreendem o que queres que façam. Tem sido muito interessante contactar com as suas personalidades e ver quão humanos são no seu comportamento. Sinto-me muito afortunada por poder usufruir deste tipo de experiência.”

Claire Rosen é uma verdadeira animal lover, motivo por que The Fantastical Feasts é um convite à reflexão acerca da relação que os seres humanos estabeleceram com os seus companheiros terrestres. “Assisto a muitas situações – a maioria com base na ignorância – em que os animais são tratados de forma pouco simpática, algo que é totalmente desnecessário. Actualmente, também assisto a demasiadas discussões sobre a legitimidade do consumo de carne e sobre o custo que a sua produção comercial acarreta. Não acredito que devamos assumir posições polarizadas acerca deste tema, mas sim tentar promover interacções positivas entre nós e os restantes animais. As pessoas devem compreender, sem serem pressionadas pelo ódio, que os animais merecem ser protegidos e que o planeta merece ser poupado. As nossas acções têm consequências.”

Claire tem esperança de, com o projecto, conseguir amolecer alguns corações e assim promover a mudança. “Quero que as pessoas sonhem, que sintam que é possível mudar o mundo, que existe esperança. Quero que sintam empatia pelos animais que retratei e que tentem incluir os animais de forma mais positiva no seu quotidiano.”

Claire Rosen (@claire__rosen, no Instagram) foi considerada pela Forbes, em 2011, um dos talentos mundiais abaixo dos 30 anos na área da arte e design; já foi distinguida em concursos como o Sony Awards, IPA, PDN, Prix de la Photographie. Enquanto fotógrafa, dedica-se sobretudo a temas relacionados com o mundo animal e viaja sempre acompanhada de uma máscara de um rato — que se tornou protagonista da conta de Instagram @followthemouse. É também autora do livro Imaginarium: The Process Behind the Pictures, em que reflecte sobre a origem do processo criativo e os seus mecanismos.

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