Quem trabalha com idosos deve ter formação para a inclusão de pessoas LGBTI

A recomendação consta de um estudo sobre o envelhecimento da população LGBTI em Lisboa.

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CLEMENS BILAN/LUSA

Os profissionais que, ao nível municipal, estão ligados à população idosa — através de áreas como a saúde, cuidados geriátricos, serviços de apoio domiciliário, estruturas residenciais, centros de dia, centros de convívio, universidades sénior e serviços públicos — devem ter formação específica sobre a inclusão de pessoas LGBTI (lésbicas, gays, bissexuais, transgénero e intersexo).

Esta é uma das recomendações que resulta do estudo LGBT seniores: Contrariar tendências, eliminar estigmas. Um trabalho promovido pela Opus Gay - Obra Gay Associação e financiado pela Câmara de Lisboa. Outras das recomendações passam por criar uma estrutura residencial inclusiva para os idosos LGBTI, promover a sua representatividade e contributo na elaboração de políticas públicas dirigidas à população idosa, e integrar campanhas de combate à discriminação de pessoas idosas em função da orientação sexual e identidade de género no Plano Gerontológico Municipal e no Plano Municipal para a Igualdade.

As pessoas “têm pouca sensibilidade para os idosos e para os LGBTI têm muitíssimo menos", lê-se num dos excertos das entrevistas feitas a 15 pessoas homossexuais e bissexuais com mais de 60 anos e residentes em Lisboa. "Nem se sabe ou pretende-se ignorar que existem pessoas LGBTI de idade.”

Porque é que é importante seguir estas recomendações? O sociólogo responsável pelo projecto, Ricardo Loureiro, diz, em respostas enviadas por email, que nesta idade há o risco de “estigma, preconceito e discriminação sobre a orientação sexual em função da idade”. E adianta, que esse “duplo sentido da discriminação” pode ter impactos na saúde mental. O que “revela a necessidade da criação de respostas específicas capazes de promover uma melhor qualidade de vida das pessoas idosas LGBTI”.

Além disso, nesta idade, o preconceito e invisibilidade podem motivar o “regresso ao armário”. Tendência que “evidencia precisamente que a discriminação existe, e que oprime as pessoas idosas LGBTI, ao reprimir que possam viver a sua velhice de forma plena”. Mesmo assim, o fenómeno não deve ser “perspectivado de forma generalizada”, avisa Ricardo Loureiro.

“Maior vulnerabilidade”

Se o envelhecimento é, por si só, um desafio, torna-se ainda maior entre as pessoas idosas LGBTI uma vez que estão sujeitas a “uma maior dinâmica de vulnerabilidade e de maior probabilidade de risco”. Além disso, “a estereotipia sobre o envelhecimento contribui para a invisibilização das pessoas idosas enquanto pessoas assexuadas, ora este estereótipo complexifica-se quando se perspectiva o envelhecimento na diversidade sexual, nomeadamente, de orientações que não a heterossexual”, lê-se no documento.

Apesar de cada um dos entrevistados ter a sua percepção sobre o que se qualifica como discriminação e preconceito, há um reconhecimento da existência de práticas discriminatórias. Por isso, enumeram várias “estratégias de resiliência e acção, que passam por intervir ao nível da informação, educação e da formação”.

Uma vez que o perfil dos entrevistados é caracterizado por uma “grande maioria de homens, idosos, homossexuais e brancos”, ficaram por explorar “narrativas mais plurais”, admite-se no documento. Outra limitação tem a ver com “o circuito social, económico, cultural e político da maioria das pessoas entrevistadas, das quais é possível concluir que têm experiências de vida associadas a situações de privilégio de classe”. A dificuldade em encontrar pessoas idosas LGBTI de contextos “mais vulnerabilizados” revela que “não estão tão próximas dos circuitos das associações e dos movimentos sociais, nomeadamente LGBTI, revelando um maior isolamento e vulnerabilidade no exercício da sua cidadania activa”.

Este trabalho, lê-se no relatório, não “encerra a necessidade de aprofundar conhecimento” sobre o tema e também “não é definidor nem representativo da população idosa LGBTI”.

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