Venezuelano não entra na tomada de posse de Bolsonaro

Rompendo uma longa tradição, o Presidente eleito deu ordem para que os convites para a cerimónia enviados aos líderes da Venezuela e de Cuba fossem cancelados. Só amigos como Netanyahu são bem- vindos.

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Jair Bolsonaro toma posse a 1 de Janeiro, em Brasília ADRIANO MACHADO / Reuters

Na primeira declaração que fez como Presidente eleito, ainda na noite das eleições, Jair Bolsonaro prometeu “libertar o Itamaraty [sede do Ministério dos Negócios Estrangeiros] do viés ideológico”. No entanto, as preparações para a sua tomada de posse, a 1 de Janeiro, indicam que a política externa brasileira deverá ser guiada mais do que nunca pela ideologia do Governo.

A polémica instalou-se quando Bolsonaro deu ordens ao Ministério dos Negócios Estrangeiros para cancelar os convites enviados aos chefes de Estado da Venezuela e de Cuba. O futuro chefe da diplomacia, Ernesto Araújo, disse que a decisão foi tomada por “respeito ao povo venezuelano”, acrescentando que “não há lugar para [o presidente Nicolás] Maduro numa celebração da democracia”.

São conhecidas as posições de Bolsonaro em relação aos dois regimes latinos. Ambos foram descritos pelo ex-capitão do Exército como ditaduras e essas declarações já tiveram efeitos práticos, com a saída de Cuba do programa Mais Médicos, que durante anos permitiu que milhares de médicos cubanos trabalhassem junto de comunidades brasileiras pobres e isoladas.

Mas a retirada do convite para a tomada de posse vem romper com uma tradição do Itamaraty de convidar todos os chefes de Estado com quem o Brasil tem relações diplomáticas, independentemente da natureza dos regimes.

“Tomamos uma decisão que vai contra a longa tradição brasileira de convidar todo o mundo para a posse”, disse à Veja o ex-embaixador em Londres e Washington, Rubens Barbosa. O especialista do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de São Paulo, Alberto Pfeifer, disse à mesma publicação que a retirada do convite é “uma descortesia”.

A decisão gerou uma reacção dura em Caracas, com o ministro dos Negócios Estrangeiros, Jorge Arreaza, a dizer que Maduro “não iria assistir à posse de um Presidente que é a expressão da intolerância, dos fascismo e da entrega a interesses contrários à integração latino-caribenha”. A presença de chefes de Estado latino-americanos na tomada de posse é sempre uma prioridade dos Presidentes brasileiros recém-eleitos. Na posse de Dilma Rousseff, em 2011, estiveram 13 líderes regionais.

Netanyahu em Brasília

Por contraponto, Bolsonaro irá ter um convidado especial para a tomada de posse: o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu. O líder conservador israelita vai passar vários dias no Brasil e tem um encontro bilateral com o Presidente eleito quatro dias antes da tomada de posse.

A presença prolongada de Netanyahu no Brasil irá selar a aproximação a Israel que Bolsonaro defende. Durante a campanha, prometeu mudar a embaixada brasileira de Telavive para Jerusalém, seguindo os passos da Administração de Donald Trump. Porém, ao contrário dos EUA, o Brasil privilegiava uma posição neutra no conflito israelo-palestiniano, com o objectivo de não hostilizar as comunidades judaicas e árabes no país.

Bolsonaro quer também aprofundar as relações com os Estados Unidos, mas não irá contar com Donald Trump na cerimónia de Brasília – os EUA vão estar representados pelo secretário de Estado, Mike Pompeo. Mas o Presidente brasileiro não terá de esperar muito tempo para apertar a mão a Trump. O encontro deverá acontecer poucas semanas depois, durante o Fórum Económico Mundial em Davos, na Suíça, que servirá também como a estreia de Bolsonaro no palco internacional.

Bolsonaro também convidou o ministro italiano do Interior, Matteo Salvini, para a cerimónia, mas o líder da extrema-direita recusou “para não ser mal interpretado pela imprensa italiana”, segundo a agência ANSA. Salvini e Bolsonaro têm trocado elogios e o dirigente italiano foi um dos primeiros a saudar a sua vitória.

A cerimónia de tomada de posse vai ter um forte dispositivo de segurança, e com a dúvida sobre se Bolsonaro irá desfilar num carro aberto como é tradição. Esperam-se 500 mil pessoas em Brasília e há grupos de apoio ao ex-capitão a organizar excursões que combinam a passagem de ano e a tomada de posse no dia seguinte. A taxa de ocupação dos hotéis ronda os 80%, de acordo com os dados divulgados pela BBC Brasil.

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