Projecto de divulgação digital da música portuguesa só em 2019

Em Maio, uma resolução do Conselho de Ministros aprovou a constituição do Projecto Meridiano, uma iniciativa de João Gil para a exportação e divulgação da música portuguesa.

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A missão daquele que por agora continua a chamar-se Projecto Meridiano é ambiciosa. Não é só ajudar na exportação da música portuguesa. É também, segundo a resolução de Conselho de Ministros que a aprova e foi publicada a 2 de Maio em Diário da República, "conceber e testar o uso das novas tecnologias e plataformas de informação e comunicação para divulgar as criações, na diplomacia pública e na acção cultural externa".

Impulsionado pelo músico João Gil, de quem partiu a proposta e é o coordenador da estrutura de missão do projecto suportado por verbas do Instituto Camões, o Projecto Meridiano tem também uma série de objectivos a cumprir até 2020. Estes incluem "contribuir para a projecção internacional de Portugal", fazer um inventário de músicos portugueses e luso-descendentes, criar uma plataforma digital, "contribuir para a consolidação do duplo traço que caracteriza a emigração portuguesa (...) através da partilha de uma linguagem universal como é a música" e ajudar a preservar "o património da criação musical portuguesa".

Porém, ainda não houve, por enquanto, grandes notas públicas do projecto, nem da sua acção. Este mês, foi anunciado que o festival e convenção MaMA, em Paris, iria ter Portugal como país convidado em 2019. Segundo o Instituto Camões, é um convite que vem "na sequência de contactos realizados" pelo próprio João Gil na edição deste ano, em Outubro. Em Novembro, o próprio João Gil, numa intervenção que não foi anunciada, discursou num evento da plataforma Why Portugal em Leiria, onde chamou "revolucionária" e "inovadora" à proposta do projecto. Mas pouco mais.

A culpa desta falta de visibilidade até agora admite João Gil ao PÚBLICO, é do próprio. "É prematuro falar de coisas que ainda não estão construídas. É melhor trabalhar mais, fazer o mais possível e falar o menos possível", continua. Menciona, na conversa, parcerias que estão a ser estabelecidas com entidades como a SPA, a GDA ou a AICEP, bem como o evento internacional WOMEX e a RTP e RDP. A ideia, explica, é potenciar e articular colaborações entre todas essas estruturas.

Tudo demora tempo: "A nossa acção tem de ser aprovada pelos representantes dos ministérios e depois passar pelo Instituto Camões, que responde ao Ministério dos Negócios Estrangeiros", sustenta. É por isso que, por exemplo, ainda não existe presença online do projecto, uma plataforma que incluirá uma rádio online e um inventário de músicos portugueses. Isso, prevê o coordenador, deverá acontecer no início de 2019. O músico afirma que sabe que isso poderá trazer especulação sobre o projecto, mas garante que tem "as costas quentes". Mesmo que, em teoria, a missão acabe em 2020, João Gil quer alargar o prazo. "Três anos, em termos de procedimentos de Estado, não é assim tanto", comenta. 

Até porque o projecto deverá mudar de nome. No próprio dia da publicação da resolução, uma notícia da agência Lusa anunciava a mudança do nome para Portugal Maior. Só que, de momento, a plataforma continua a chamar-se, oficialmente, Projecto Meridiano. É que "Portugal Maior", uma mudança que não chegou a ser efectivada, é a mesma denominação de um evento na Feira Internacional de Lisboa​ para pessoas acima dos 50 anos. "Portugal Muito Maior" é então o novo nome, que já foi enviado para aprovação.

Dos colaboradores da estrutura constam nomes como António Miguel Guimarães e Ana Mafalda Fevereiro. O primeiro, agora organizador do festival Sol da Caparica, foi manager dos Trovante, a banda de João Gil. "O que é que uma coisa tem que ver com a outra?", pergunta o músico. Realça o papel que o colaborador teve na internacionalização dos Madredeus, um dos exemplos mais felizes de exportação da música portuguesa. "Não somos tantos quanto isso ao longo dos anos a ter feito coisas, é inevitável que nos cruzemos", justifica. Ainda assim, o coordenador assevera que o projecto "não é é feito para os amigos", para a "tribo" ou para o "gosto do João Gil", mas "para todos os portugueses, sem excepção".

Apesar da ligação ao Instituto Camões, a língua portuguesa não é um factor. "O que é determinante é que sejam portugueses, filhos de portugueses, podem até ser alemães. Também não fechamos as portas aos inúmeros artistas que vivem em Portugal", afirma. Volta às ambições do projecto: "Um dos nossos grandes objectivos é juntar as comunidades de portugueses que cá vivem e os portugueses espalhados pelo mundo, não só de primeira e segunda geração, mas dos filhos e netos que já nem falam português. Se comunicarmos com a diáspora portuguesa estamos a alargar Portugal", declara.

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