Primeira equipa de basquetebol em cadeira de rodas do Porto prestes a entrar em campo

Depois de um processo complexo, equipa, que tem jogadores dos 14 aos 24 anos, começa a competir em Janeiro.

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Nuno Ferreira Santos

A primeira equipa de basquetebol em cadeira de rodas de clube do Porto é coordenada a partir de Itália, tem atletas de São João da Madeira e da Póvoa de Varzim e começa a competir em Janeiro.

Depois de um hiato de cerca de cinco anos criado pela desistência da equipa da Associação Portuguesa de Deficientes do Porto, uma iniciativa do atleta internacional Pedro Bártolo, em sintonia com o Basket Clube de Gaia (BCG), quer fazer história, competindo na recém-criada II Divisão nacional.

Em 2016, um crowdfunding angariou 6700 euros para a compra de dez cadeiras de rodas para a prática de basquetebol e respectivos acessórios, naquele que foi "o primeiro passo para o arranque da equipa", disse à agência Lusa Pedro Bártolo.

Num projecto recheado de singularidades, o treinador e também jogador profissional português, então a jogar em Espanha, transferiu-se para o Handicap Sport Varese, passando a ser o coordenador técnico do projecto, enquanto a equipa foi entregue a Bruno Silva, o actual treinador/jogador.

Desde então, no Pavilhão Municipal de Grijó, sete jogadores juntaram-se à equipa que, à boleia da recém-criada II Divisão nacional da modalidade, vai entrar em competição a partir de Janeiro. "Além disso, a Federação Portuguesa de Basquetebol abriu a participação, nesta divisão, a pessoas sem deficiência, ou seja, o nosso treinador pode também praticar", salientou o coordenador.

Uma gestão complexa

Numa equipa sem escalão definido, com idades entre os 14 e 24 anos, a entrada em competição pode trazer o atractivo que falta para cativar mais jogadores, segundo Pedro Bártolo. O projecto conta com o apoio da Câmara de Gaia para o transporte dos atletas, elogiando também a ajuda prestada pela Junta de Freguesia de Grijó.

E se o seu exemplo como jogador internacional e a jogar em Itália "constitui uma motivação extra" para os jogadores que "acalentam o sonho de chegar à selecção nacional, de jogar profissionalmente ou em alta competição", a sensibilização feita em escolas, hospitais, centros de reabilitação e clínicas de fisioterapia do Porto a Santa Maria da Feira "ficou aquém do esperado", reconheceu.

"O grande problema passou por as pessoas não perceberem que o basquetebol em cadeira de rodas pode ser praticado por indivíduos com uma limitação motora, desde a mais imperceptível que a impede de jogar em pé até ao paraplégico. Nas escolas, por exemplo, imediatamente associam ao ensino especial quando nem sempre é esse o nosso público", lamentou.

Também o treinador Bruno Silva reconhece que a gestão é difícil e as famílias, diz, desempenham um "papel muito importante, no capítulo de transportes". Por outro lado, o entusiasmo nos treinos, associado ao facto de os atletas não terem sensibilidade nos membros inferiores, provoca-lhes "úlceras de pressão, também conhecidas por escaras, que não cicatrizam e depois só com cirurgia são resolvidas, obrigando a paragens longas". Antevendo a entrada em competição, Bruno Silva reconheceu que "ter oito jogadores seria um número bom para gerir a equipa, num grupo pode incluir atletas do sexo feminino."

Rúben Teixeira, de 15, anos, faz mais de 200 quilómetros por semana, entre São João da Madeira e Vila Nova de Gaia, para treinar e admite que o aproximar da competição o deixa "muito entusiamado". "Chegar aqui teve um impacto muito profundo na minha vida e quero ser jogador profissional", relatou à Lusa o atleta do BCG, testemunhando que o basquetebol em cadeira de rodas o "ajudou a amadurecer, a estar mais focado e, no geral, a melhorar os resultados escolares".

Para João Reis, 18 anos, de Vila Nova de Gaia, o treino permitiu-lhe "sair de casa", além de lhe trazer "mais confiança e mais auto-estima"."Somos tão poucos talvez porque as pessoas se fecham e não querem arriscar, depois os pais também não ajudam", lamentou.

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