Finanças assumem disponibilidade para dar transparência à escolha de dirigentes

A Fesap diz que secretária de Estado da Administração Pública falou na necessidade de dar transparência aos concursos. PSD chama Centeno ao Parlamento para discutir intromissão do Governo nas decisões da Cresap.

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Fátima Fonseca, secretária de Estado da Administração Pública, abriu polémica com a Cresap Rui Gaudencio

A Federação de Sindicatos de Administração Pública (Fesap) defende que o recrutamento dos altos dirigentes do Estado deve ser mais escrutinado e assegura que na reunião desta quinta-feira a secretária de Estado da Administração Pública, Fátima Fonseca, mostrou disponibilidade para dar mais transparência aos processos de selecção.

José Abraão, dirigente da Fesap, colocou o assunto em cima da mesa por causa da polémica em torno do concurso para o lugar de director-geral da Administração e do Emprego Público. “Levantámos o problema e encontrámos disponibilidade por parte da secretária de Estado para introduzir transparência no recrutamento de dirigentes” de topo, adiantou.

O PÚBLICO questionou o Ministério das Finanças sobre se há intenção de reformular o processo de recrutamento de dirigentes através da Cresap, que medidas serão tomadas e por que razão se considera que o processo de selecção dos dirigentes é pouco transparente. Mas fonte oficial optou por não fazer comentários sobre o assunto.

José Abraão defende que a selecção dos dirigentes máximos dos organismos públicos deve seguir os trâmites de um concurso público, permitindo saber quem se candidatou e a forma como o processo decorreu. Mas também não poupou o Governo que, num diploma aprovado em Conselho de Ministros nesta quinta-feira, vai permitir que alguns funcionários públicos com mais de 70 anos permaneçam no activo com autorização prévia do ministro das Finanças, algo que os sindicatos criticam. “Essa abertura [para dar mais transparência ao processo de recrutamento dos dirigentes] é importante, mas ao mesmo tempo o Governo quer manter alguns insubstituíveis depois dos 70 anos”, criticou.

Tal como o PÚBLICO noticiou, a secretária de Estado rejeitou a lista final apresentada pela Comissão de Recrutamento e Selecção para a Administração Pública (Cresap) para o lugar de director-geral da Administração e do Emprego Público, pondo em causa a forma como o concurso decorreu. No despacho, a responsável justifica que nas entrevistas realizadas a todos os finalistas (dos três concursos que estavam a decorrer para aquele organismo) foi identificado um candidato mais adequado que não fazia parte da shortlist para director-geral.

A presidente da Cresap, Júlia Ladeira, recebeu a decisão com “surpresa” e, numa carta enviada à responsável governamental, considera que a decisão não tem “cobertura legal” e “põe em causa o princípio basilar de independência subjacente à criação e funcionamento" da comissão.

Em reacção a esta polémica, o PSD acusou o Governo de “violar” os procedimentos de recrutamento e entregou um requerimento para chamar ao Parlamento o ministro das Finanças, Mário Centeno, e a responsável da Cresap.

Em declarações aos jornalistas, a deputada social-democrata Carla Barros considerou “inaceitável e pouco transparente” que “o poder político se intrometa nas decisões” da Cresap.

“Temos receio que esteja a acontecer o que sempre acontece nos governos PS: um assalto aos altos cargos da administração pública”, afirmou a deputada, que anunciou um requerimento para ouvir “com urgência” as explicações do ministro das Finanças e da presidente da Cresap sobre os contornos desta “violação” dos procedimentos.

O requerimento foi entregue quinta-feira mas só deverá ser votado na próxima reunião da comissão parlamentar de Trabalho, o que só deve ter lugar no início de 2019.

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