Rui Rio: “É legítimo” que portugueses não confiem no Estado para garantir segurança

O presidente do PSD afirmou ainda que “nunca, na história recente de Portugal, o Estado falhou tanto”.

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Rui Rio na visita que fez a Borba LUSA/NUNO VEIGA

Um dia depois de o Presidente da República ter mostrado preocupação com situações que podem minar a confiança dos portugueses nas instituições, aparece Rui Rio e junta mais alertas e mais achas à fogueira. “Neste momento, é legítimo que a população portuguesa, como um todo, não confie na capacidade do Estado para garantir a sua segurança. O expoente máximo até pode ser Tancos, que é tocar na debilidade do Estado ao nível da segurança, enfim, de uma forma quase incompreensível, mas depois sucederam-se muitas situações", disse o presidente do PSD aos jornalistas, nesta quarta-feira em Borba, dia em que faz um mês que a estrada, que fazia a ligação a Vila Viçosa, ruiu.

À comunicação social e referindo-se não só à tragédia de Borba, mas também à queda do helicóptero – situações que admitiu terem contornos diferentes no que toca ao apuramento de responsabilidades –, Rio foi peremptório: “Nunca, na história recente de Portugal, o Estado falhou tanto quanto está a falhar neste momento. O Governo que temos é este e não é outro, e o Governo tem de responder por todas estas situações, independentemente de poder ter mais responsabilidade directa, ou menos, num caso ou noutro."

Mesmo considerando o apuramento de responsabilidades mais difícil no caso de Borba, Rui Rio deixou o aviso ao executivo liderado por António Costa: "Aquilo que é inequívoco e é isto que o Governo tem de pensar muito bem: está a falhar aos mais diversos níveis, particularmente naquilo que é a segurança às pessoas”.

No dia anterior, tinha sido Marcelo Rebelo de Sousa a deixar clara a sua preocupação com diferentes casos que sucederam. O Presidente espera que não se confirmem as conclusões do relatório preliminar da Protecção Civil à queda do helicóptero, que vitimou quatro pessoas – o documento aponta falhas à NAV Portugal, ao 112 e ao Comando Distrital de Operações de Socorro do Porto. “É tudo Estado. NAV e 112 é Estado”, notou Marcelo, defendendo que é preciso olhar “a sério” para a questão, “porque, às tantas, os portugueses vão perdendo confiança nas instituições.” O Presidente da República disse mais: disse que o país retirou lições relativamente aos incêndios de 2017, mas "está visto que ainda não retirámos lições quanto a estradas que caem e dificuldades de comunicação como quando há acidentes como estes. Convém retirar lições".

"Maus resultados"

Nesta quarta-feira em Borba, Rui Rio seguiu o rasto deixado por Marcelo, insistindo que o Governo tem “de meter a mão na consciência” e “encetar uma política” que faça as pessoas voltarem a confiar “naquilo que é o Estado”. Apesar de admitir que estes desgastes acontecem num tempo mais lato, o social-democrata considerou que, “nestes três anos, tem sido pior”. “E o que é que o Governo fez, para lá de, em muitas circunstâncias, procurar chutar um pouco a responsabilidade mais para o lado? Não fez nada, que eu saiba”, disse, insistindo que é “um problema de Estado muito importante”.

O apuramento de responsabilidades sobre o que se passou em Borba tem sido um longo processo e Rio sabe-o. Por isso, fez questão de ressalvar que não está a “apontar o dedo” a ninguém, até porque o sucedido naquela estrada é “complexo”. Mas isso não o impediu de lançar vários ataques ao Governo, apontando problemas na segurança, na saúde, e na área social: “[O executivo] tem falhas aos mais diversos níveis. Sinceramente, pensei que iam aparecer, mas não tão cedo quanto estão a aparecer. Os maus resultados da governação estão a aparecer mais cedo do que aquilo que imaginava que viesse a acontecer. Pensei que ia demorar mais. E é por todo o lado”, afirmou, sublinhando que tem de se apoiar as famílias que perderam pessoas naquela tragédia e que “o Estado tem de estar à altura”. “Em primeiro lugar, tem de estar o Estado a responder por isto”, declarou.

Nas declarações que fez à comunicação social, Rui Rio ainda teve tempo para deixar bem clara a sua oposição às manifestações com o lema "Vamos parar Portugal", inspiradas nas dos coletes amarelos em França e previstas para sexta-feira em Portugal: “Uma coisa é nós, de forma democrática e civilizada, alertarmos, como eu estou a alertar. Coisa completamente diferente é tentar aproveitar este descontentamento social para, depois, ter manobras de ordem política de extrema-direita, ou seja o que for. Para isso não contam comigo, de certeza absoluta. Não estou cá para isso, bem pelo contrário, estou cá para combater isso”, afirmou, esperançado de que não atinjam uma dimensão significativa. 

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