O Canal Parlamento e a transparência na despedida de Campos Ferreira da AR

Deputado do PSD eleito por Braga que ajudou a criar o canal de televisão da Assembleia da República renunciou ao mandato de deputado alegando razões pessoais e profissionais.

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Nesta foto, do tempo em que Pedro Passos Coelho ainda era deputado, Luís Campos Ferreira está sentado do seu lado esquerdo. Miguel Manso

O deputado do PSD Luís Campos Ferreira fez nesta quarta-feira à tarde o seu discurso de despedida da Assembleia da República, onde chegou em 2002, com elogios à transparência e ao Canal Parlamento, que ajudou a criar. “Tomei a decisão de renunciar ao mandato de deputado. Faço-o de uma forma muito reflectida, muito consciente e muito livre”, afirmou Campos Ferreira, numa declaração em nome individual que, no final, foi aplaudida pelas bancadas do PSD, do CDS-PP, que se levantaram em uníssono, tal como alguns deputados do PS. Outros socialistas aplaudiram sentados, mas as bancadas do PCP e Bloco mantiveram-se impávidos.

Campos Ferreira aludiu ao "momento delicado" relacionado com as questões de transparência que se vive na Assembleia da República – sobre o pagamento das viagens dos deputados e a marcação falsa de presenças em plenários -, e deixou a convicção de que, se muito há a fazer, existe em 2018 maior escrutínio e transparência do que quando chegou, em 2002. "Nestes últimos 44 anos, os portugueses já aprenderam que opacidade não rima com democracia", afirmou.

O deputado do PSD apontou o Canal Parlamento, de que foi presidente da direção, como um exemplo de que "a democracia se deve orgulhar". "Foi desde o seu início uma enorme porta aberta à sociedade portuguesa", afirmou, considerando que, graças a este canal, os portugueses sabem melhor hoje que o trabalho dos deputados não se limita a três sessões plenárias semanais e se desenrola por muitas comissões.

"Se é verdade que temos telhados de vidro - e temos mesmo, basta olhar para a clarabóia -, também temos paredes de vidro e uma delas é justamente o Canal Parlamento", referiu, com o bom humor pelo qual é conhecido.

Despedindo-se com agradecimentos aos funcionários parlamentares e com o poema "Viagem" de Miguel Torga, Campos Ferreira garantiu que continuará a acompanhar todos os deputados através do canal Parlamento.
Apenas o presidente da Assembleia da República usou da palavra após a intervenção de Campos Ferreira. "Certamente vamos todos sentir falta das suas intervenções, da sua consistência e do seu sentido de humor", referiu Eduardo Ferro Rodrigues.
Eleito por Viana do Castelo, Luís Álvaro Barbosa de Campos Ferreira é deputado há cinco legislaturas (desde 2002), com uma interrupção durante o tempo em que foi secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros do anterior Governo PSD/CDS-PP liderado por Passos Coelho. No PSD, já foi vice da bancada e secretário-geral adjunto do partido durante a liderança de Durão Barroso.
Quando anunciou que iria renunciar ao cargo de deputado, há quase duas semanas, como noticiou o PÚBLICO, Campos Ferreira justificou a saída com motivos pessoais e um novo desafio profissional, garantindo que se manteria no PSD. O deputado foi constituído arguido em junho deste ano, tal como os ex-líderes parlamentares do PSD Luís Montenegro e Hugo Soares, no âmbito do inquérito-crime que investiga as viagens de ex-governantes a França para assistirem a jogos do Euro2016, por suspeitas do crime de recebimento indevido de vantagem.

Deputada do PS Rosa Albernaz também está de saída

O ano novo também será de vida nova para a deputada socialista Rosa Albernaz, que renunciou ao seu mandato para se dedicar à família. A deputada eleita pelo círculo de Aveiro estava no Parlamento desde a segunda legislatura (1980/1983), sendo substituída por António Cardoso.

Segundo uma nota publicada pelo vice-presidente do grupo parlamentar do PS Filipe Neto Brandão, Rosa Albernaz cessa as suas funções de deputada por motivos familiares. "Fê-lo pela mais feliz das razões: há poucos dias, a sua filha fê-la avó de trigémeos e a sua presença e apoio junto da família passou a revestir-se de uma relevância incompatível com a exigência dos trabalhos parlamentares em Lisboa", refere Filipe Neto Brandão em relação à deputada socialista de Espinho que, ao longo das últimas legislaturas, se destacou pela sua defesa da causa dos direitos dos animais.

Professora de profissão, Rosa Albernaz tem desempenhado as funções de membro das comissões de Negócios Estrangeiros e Comunidades Portuguesas, Defesa Nacional, e Agricultura e Mar, sendo, ainda, coordenadora dos deputados do PS eleitos pelo círculo de Aveiro. Rosa Albernaz é presidente das Mulheres Socialistas do PS de Aveiro, representante do Parlamento na União Interparlamentar (UIP), vice-presidente da Comissão Democracia e Direitos Humanos da UIP e membro da Comissão da União Interparlamentar com as Nações Unidas. Foi vice-secretária da Mesa da Assembleia da República na IX, X e XI Legislaturas.

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