Enigmática nudez para First Breath After Coma

No ano passado, aquando do lançamento do último vídeo a partir de temas do álbum Drifter, afirmávamos, indicando o critério, que o Nagmani era um dos mais belos videoclipes portugueses recentes. Depois dele, em ano e meio, os First Breath After Coma atingiram uma interessante visibilidade e projeção além fronteiras com a sua “melodiosa expansividade” de um “pós-rock coral, delicado e volúvel”.

Porém, esta semana alguém adiciona em VIDEOCLIPE.PT este Heavy, com o qual anunciam novo álbum (para março de 2019) de nome NU — assim em português, mas com o inglês nas letras. E, de repente, esse romantismo melancólico e ambiental da sua música evolui para uma turbulência perturbadora: batidas tensas e opressivas, vozes sufocadas, sons entorpecidos e, em vídeo, uma enigmática e exacerbada performance teatralizada. No fundo, aquilo que era liberto, esperançoso, aberto, dá lugar a um fechamento, à introspeção, à sinuosidade.

Podendo desiludir alguns, não deixa de se poder tirar o chapéu ao espírito aventureiro do som e do seu conceito: a procura de uma saída libertadora. Para o interesse desta galeria do P3 importa o facto de o videoclipe, produzido e realizado pelo projeto criativo e paralelo à banda, o coletivo CASOTA, tentar fazer das fraquezas força. Isto é, tentar com os recursos mínimos, mas não fáceis (corpos nus, plano sequência), desenvolver um conceito metafórico do som, apesar da extensão da cena poder provocar desistência no espetador online, dada a volatilidade que o carateriza neste contexto. Será interessante saber como esse NU se vai desvelar, sobretudo, sabendo que este videoclipe é apenas a primeira cena de um filme maior. Corajosos, os de Leiria.

Texto escrito segundo o novo Acordo Ortográfico, a pedido do autor.