Ilustração científica ou como contar histórias para comunicar ciência

Ilustração para série de selos das Nações Unidas sobre espécies ameaçadas. Representa o papagaio-tigre. Diana Marques
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Ilustração para série de selos das Nações Unidas sobre espécies ameaçadas. Representa o papagaio-tigre. Diana Marques

Diana Marques acredita que para comunicar ciência é preciso, também, criar histórias. E é isso que tenta fazer com o seu trabalho. "Já se começa a chegar à conclusão que mostrar os factos e os números não funciona para algumas pessoas", contou, em entrevista à Lusa. "Cada vez mais, temos de recorrer a histórias, à criação de personagens para tentar criar essas dimensões que são futuras, mas que nos vão tocar a todos, para tornar as ideias menos abstractas", considera a ilustradora científica que colabora com o Museu de História Natural do Instituto Smithsonian, nos EUA, e que já desenhou uma colecção de selos para as Nações Unidas.

Como contava ao P3 em 2012, mais que um processo criativo, a ilustração científica assume-se como uma ferramenta de comunicação, que passa por "escolher uma estratégia para chegar às pessoas e dizer o que a ciência pretende dizer". Para a ilustradora, encontrar uma forma de comunicar a ciência visualmente para superar a abstracção de alguns conceitos é, neste momento, "o desafio" na sua área: "O problema de temas como as alterações climáticas ou até as vacinas é a abstracção. 'Não estou doente, porque é que preciso de uma injeção? O tempo está na mesma, porque é que tenho de mudar os meus hábitos de vida?' São conceitos muito difíceis de passar", nota. 

Não é fácil comunicar ciência. Por isso, antes de tudo deve-se colocar uma pergunta: "Com quem é que estou a falar?". Depois, por vezes, é preciso "procurar a simplificação" dos conceitos, através de mecanismos visuais como uma metáfora, uma analogia ou uma comparação, entre outros. "Há tantos conceitos abstractos que é difícil puxar para a realidade e às vezes facilita fazer uma comparação com o número de horas por dia ou com a dimensão de um campo de futebol, por exemplo", salienta.

Hoje com 39 anos, Diana descobriu a ilustração científica enquanto estudava Biologia. Na verdade, sempre equilibrou as duas vocações: as ciências e as artes. Em 2003, estudou nos Estados Unidos e, desde então, tem trabalhado com várias instituições portuguesas, mas também europeias e americanas, em regime de freelancer. E para o seu doutoramento em media digitais criou uma aplicação móvel com tecnologia de realidade aumentada no Smithsonian.

No seu trabalho, aplica técnicas tradicionais e digitais — tudo depende da mensagem que está a tentar passar. "Uma ilustração a aguarela comunica de uma forma muito diferente de um modelo digital 3D", conta, por escrito ao P3. Tanto ilustra espécies nunca antes descritas, como temas de medicina, espaço, palentologia e outros. Tanto usa fotografias como referência, como cria ilustrações, animações e infografias a partir de observação directa, leitura de artigos científicas ou consultas com cientistas. O que importa é contar a história certa.

Ilustração animada que acompanha o artigo “Como Matar Um Peixe” da autoria de Cat Ferguson para a revista online Topic.
Ilustração animada que acompanha o artigo “Como Matar Um Peixe” da autoria de Cat Ferguson para a revista online Topic. Diana Marques
Ilustração do musaranho-de-cauda-curta-do-norte no seu habitat.
Ilustração do musaranho-de-cauda-curta-do-norte no seu habitat. Diana Marques
Prancha ilustrada para artigo científico sobre uma lagarta ginandromorfa (o mesmo indivíduo é macho e fêmea) que resultou do cruzamento de duas espécies de borboleta.
Prancha ilustrada para artigo científico sobre uma lagarta ginandromorfa (o mesmo indivíduo é macho e fêmea) que resultou do cruzamento de duas espécies de borboleta. Diana Marques
Infografia utilizada como material educativo e de divulgação por cientistas do Museu Nacional de História Natural do Instituto Smithsonian especializados no estudo de formigas. Representa o sistema social complexo das formigas-cortadeiras e o processo através do qual cultivam material vegetal para cultivar o fungo do qual se alimentam.
Infografia utilizada como material educativo e de divulgação por cientistas do Museu Nacional de História Natural do Instituto Smithsonian especializados no estudo de formigas. Representa o sistema social complexo das formigas-cortadeiras e o processo através do qual cultivam material vegetal para cultivar o fungo do qual se alimentam. Diana Marques
Ilustração utilizada num jogo interactivo sobre o bisonte americano no Museu de História do Estado do Texas.
Ilustração utilizada num jogo interactivo sobre o bisonte americano no Museu de História do Estado do Texas. Diana Marques
Ilustração que acompanha o texto “The Glow Worm” da autoria de Jean Henri-Fabre (1823-1915) e representa uma fêmea e vários machos de uma espécie de pirilampo, no seu habitat.
Ilustração que acompanha o texto “The Glow Worm” da autoria de Jean Henri-Fabre (1823-1915) e representa uma fêmea e vários machos de uma espécie de pirilampo, no seu habitat. Diana Marques
Reconstrução de uma vaca-do-mar-de-Steller no seu habitat, espécie descrita por um naturalista alemão em 1741 e dada como extinta 27 anos depois.
Reconstrução de uma vaca-do-mar-de-Steller no seu habitat, espécie descrita por um naturalista alemão em 1741 e dada como extinta 27 anos depois. Diana Marques
Reconstrução de uma vaca-do-mar-de-Steller no seu habitat, espécie descrita por um naturalista alemão em 1741 e dada como extinta 27 anos depois.
Reconstrução de uma vaca-do-mar-de-Steller no seu habitat, espécie descrita por um naturalista alemão em 1741 e dada como extinta 27 anos depois. Diana Marques
Ilustração incluída na exposição “Chapéus” do 4º Encontro Nacional de Ilustração em São João da Madeira. O tema da exposição foi a inspiração para retratar animais cujo pêlo ou penas são usados na fabricação e decoração de chapéus.
Ilustração incluída na exposição “Chapéus” do 4º Encontro Nacional de Ilustração em São João da Madeira. O tema da exposição foi a inspiração para retratar animais cujo pêlo ou penas são usados na fabricação e decoração de chapéus. Diana Marques