Mosteiro de Lorvão espera há quatro anos por museu. Deve ter de esperar mais dois

Depois de obras no valor de 1,7 milhões de euros, o edifício ficou vazio. Associação Pró-Defesa do Mosteiro de Lorvão e autarquia de Penacova apontam abertura para 2020.

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Do Mal o Menos — Eduardo Nascimento, João Fôja

As obras de requalificação dos claustros do Mosteiro de Lorvão, no concelho de Penacova, terminaram em 2014. Quatro anos depois, o espaço continua vazio. Era suposto servir de casa a um museu cujo projecto de instalação até já está feito, mas que terá de esperar pelo menos mais um ano até abrir portas ao público.

O Estado, através da Direcção Regional de Cultura do Centro (DRCC) investiu 1,7 milhões de euros para requalificar e adaptar parte do Mosteiro de Lorvão com vista a acolher um espólio de arte sacra, num projecto desenhado pelo arquitecto João Mendes Ribeiro. Os trabalhos no edifício classificado como monumento nacional foram concluídos em 2014, mas o passo seguinte não foi dado.

Fábio Nogueira, da Associação Pró-Defesa do Mosteiro de Lorvão, explica que “nestes quatro anos, houve dois em que nada foi feito. Ficou terminado e não se absolutamente passou nada. Enquanto dona [do espaço], a DRCC não assegurou a implementação do projecto de musealização”.

Só em Outubro de 2016 a DRCC assinou um protocolo com a Câmara Municipal de Penacova (CMP), para que esta passasse a estar à frente do projecto. Conforme refere ao PÚBLICO o vice-presidente da autarquia, João Azadinho, a candidatura a fundos comunitários para a musealização do espaço foi feita há um ano. Neste papel, a CMP terá de assegurar 15% de contrapartida nacional dos cerca de 380 mil euros. “Mal seja aprovada”, será lançado o concurso público para levar a cabo a organização das salas que rodeiam os claustros do mosteiro e instalação do material. Uma vez que “as peças estão desenhadas”, será “uma obra relativamente rápida”. O autarca com o pelouro da cultura acredita que será possível abrir as portas do museu em 2020.

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A mesma convicção tem Fábio Nogueira, autor do projecto de musealização daquele que será o Centro Interpretativo do Mosteiro de Lorvão. “Seria desejável que em 2020 abrisse ao público”, afirma, admitindo a hipótese de que possa acontecer ainda em 2019. O membro da associação que salvaguarda e dinamiza a componente cultural do mosteiro adianta que não se tratará de “um museu puro e duro”, mas que vai haver um trajecto com uma componente interactiva. “Dentro desse percurso, vão aparecendo peças de arte que vão pontuando historicamente a evolução do mosteiro”, prossegue. Fábio Nogueira acrescenta ainda que só falta a verba ser desbloqueada para que se possa avançar com a montagem do centro interpretativo: “os programas já existem, só falta o meio físico para ele estar exposto e todas as peças de arte já estão escolhidas”.

O responsável falava ao PÚBLICO à margem do lançamento do concurso de concessão de parte do Mosteiro de Lorvão ao abrigo do programa Revive, que decorreu nesta terça-feira de manhã, na igreja do edifício. Até Maio de 2019, investidores privados poderão visitar o espaço e apresentar propostas para transformar o antigo mosteiro num espaço turístico. De fora deste pacote que inclui a cerca do mosteiro com cerca de quatro hectares ficam a igreja e os claustros.

De acordo com a secretária de Estado do turismo, Ana Mendes Godinho, o edifício a concessionar por cinquenta anos pode ter capacidade para albergar um estabelecimento de hotelaria de 90 camas, com a possibilidade de atingir a classificação de cinco estrelas. Para instalar ali um estabelecimento do género, o vencedor do concurso de concessão terá de investir perto de seis milhões de euros, estima.

A cerca de meia hora de Coimbra, o Mosteiro de Lorvão torna-se assim no 14.º imóvel lançado a concurso no âmbito do programa Revive. Ana Mendes Godinho afirmou que o governo espera lançar os concursos de todos os imóveis do Revive até ao final de 2019.

Gestão por definir

Questionada pelo PÚBLICO sobre a demora no processo do museu, a directora regional da Cultura do Centro, Celeste Amaro, também presente no lançamento do concurso, remeteu para o que já tinha dito sobre o assunto. Em 2015, em declarações à Agência Lusa, a directora explicava que a DRCC "não tem tido dinheiro para fazer a musealização". Refere agora que a responsabilidade está do lado da autarquia, afirmando que é um “espaço que está funcional, pronto” e onde “se gastou muito dinheiro”.

Resolvido o primeiro entrave, está ainda por saber como vai ser feita a gestão do espaço. João Azadinho refere que essa questão “ainda não está definida”, sendo que “será de ser algo em parceria com a própria diocese”.

As origens de uma instalação religiosa em Lorvão remontam ao século VI, mas o edifício actual é resultado das alterações levadas a cabo ao longo dos séculos XVII e XVIII. O mosteiro foi fundado em 878 pelos monges de Cluny, mas passaria no século XIII a ser feminino, com a conversão à Ordem de Cister.

Com a extinção das ordens religiosas, a propriedade do edifício passou para o Estado em 1834. A maior parte do mosteiro viria a ser utilizada como um hospital psiquiátrico público, encerrado em 2012. O Hospital Psiquiátrico do Lorvão tinha sido criado em 1959. Já em 2018, um movimento cívico tinha apresentado um manifesto pela reconversão das antigas instalações do hospital e a sua integração na Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados.  

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