Xi Jinping avisa: "Ninguém pode dizer ao povo chinês o que ele deve ou não deve fazer"

Num discurso sobre os 40 anos de abertura ao sistema capitalista, o Presidente chinês evitou avançar pormenores sobre o futuro da economia.

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O Presidente chinês reafirmou também o controlo do partido sobre o país Reuters/JASON LEE

O Presidente da China, Xi Jinping, declarou esta terça-feira que "ninguém pode dizer ao povo chinês o que ele deve ou não deve fazer", num discurso a marcar o 40.º aniversário das grandes reformas na economia do país.

Enquanto os analistas esperavam ouvir indicações claras sobre os passos que podem tirar a China de um relativo abrandamento económico nos últimos anos, o Presidente chinês usou o seu discurso para enaltecer os resultados das reformas das últimas décadas e reafirmar o protagonismo do país no plano internacional.

"Os tormentos da fome, da falta de comida e de vestuário, e as dificuldades que afligiram o nosso povo durante milhares de anos, praticamente desapareceram e não vão voltar", disse Xi, para quem as imagens passadas de senhas de alimentação, de combustíveis e de roupa "foram atiradas para o museu da História".

No dia 18 de Dezembro comemoram-se os 40 anos da abertura da economia chinesa protagonizada pelo Presidente Deng Xiaoping, que liderou a transição do país de uma economia fechada para uma economia de mercado – ou um "socialismo com características chinesas".

Desde então, milhões de chineses foram tirados da pobreza extrema e o país desenvolveu-se a uma grande velocidade, até se afirmar com a segunda maior economia do mundo. Mas esse crescimento tem abrandado nos últimos anos, e a este problema juntam-se as críticas internacionais sobre o tratamento dos direitos humanos no país e a recente disputa económica com os Estados Unidos, que pode vir a prejudicar a economia de ambos os países.

No seu discurso, o Presidente Xi Jinping prometeu continuar a reformar a China, mas fê-lo de uma forma vaga, sem os pormenores que os mercados internacionais esperavam: "Temos de reformar de forma resoluta o que pode ser mudado, e resolutamente não reformar o que não deve e não pode ser mudado", disse o Presidente chinês.

"O Presidente Xi foi longo na retórica e curto em detalhes, talvez sem surpresa", disse ao jornal Guardian Tom Rafferty, director para a Ásia da empresa britânica Economist Intelligence Unit. "Vamos ter alguma sensação de desilusão, tanto entre os investidores locais como internacionais, pelo facto de Xi não ter dado sinais claros sobre a direcção das futuras reformas económicas, numa época em que o compromisso do Governo chinês com a liberalização do mercado parece estar a diminuir", disse o mesmo analista.

Reforço do poder

Depois de Mao, Xi Jinping é visto como o líder chinês mais influente, e tem consolidado o seu poder mais depressa do que os seus antecessores. Desde que chegou à presidência da China, em Novembro de 2012, tem reafirmado o controlo do partido sobre todo o país, com as campanhas de luta contra a corrupção que os seus críticos dizem ser, ao mesmo tempo, uma forma de afastar os opositores.

"Quer seja o partido, o governo, as forças armadas, as pessoas comuns ou os estudantes, o Este, o Oeste, o Sul, o Norte ou o centro, o partido lidera tudo", disse Xi.

Em Setembro, a alta comissária da ONU para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet, denunciou a violação dos direitos humanos de comunidades muçulmanas na província chinesa de Xinjiang, com base num relatório da organização Human Rights Watch.

A antiga Presidente do Chile disse que a Comissão para a Eliminação da Discriminação Racial verificou a existência de "alegações perturbadoras" sobre as condições de detenção de comunidades muçulmanas na China, com o intuito de serem "reeducadas politicamente".

A China reconhece a existência destes campos, mas as autoridades locais dizem que servem para "educação vocacional e de treino, de acordo com a lei", com o objectivo de "erradicar o solo onde cresce o terrorismo e o extremismo religioso".

"Construtor da paz mundial"

No seu discurso, esta terça-feira, o Presidente chinês não se referiu directamente à disputa económica com os Estados Unidos, mas não faltaram referências à posição do país no plano internacional.

Apesar do aviso de que "ninguém está na posição de dizer ao povo chinês o que ele deve ou não deve fazer", Xi tentou acalmar o receio de que o objectivo do país, através do reforço da sua influência na região e no mundo, é alcançar uma "hegemonia global".

"A China está a aproximar-se do centro do palco do mundo e tornou-se um reconhecido construtor da paz mundial, um contribuinte para o desenvolvimento global, um defensor da ordem internacional e tem um papel de liderança no combate às alterações climáticas", disse o Presidente chinês.

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