Cartas ao director

Cartão amarelo

Em Portugal, diariamente, está sempre algum sector profissional em greve. Isto regista-se com um Governo social-democrata, apoiado pela esquerda e cujo desempenho tem ido ao encontro dos interesses da população. Ora, partindo do princípio de que a maioria dos sindicatos estão à esquerda, parece um paradoxo.

A banalização do recurso à greve é de tal modo que pela primeira vez, e bem, se questiona  se a greve pode ser usada e abusada pelos funcionários públicos em estritos horários administrativos e encostada a fins-de-semana e feriados. Em alguns países há limitações no sector público. Em muitos estados americanos, proibida mesmo. A justificação tem a ver com o indiscutível primado: o Estado tem de assegurar aos mais desfavorecidos direitos em matéria de saúde, transportes e educação por exemplo. Será que os funcionários públicos têm o direito de negar os direitos elementares aos outros concidadãos? E quem não estiver para se sujeitar a não ter prerrogativas como sindicalista ou não puder fazer greve indiscriminadamente, tem ou não a liberdade de escolher trabalhar num privado?

Nos últimos anos, os doentes, os estudantes e os passageiros têm sido fustigados sistematicamente pelas greves da função pública. O exemplo de França, embora por outras razões, mostra que as pessoas não estão para comer e calar. Em Portugal, tivemos o nosso momento amarelo. Em 1994, os camionistas barraram a ponte 25 de Abril contra o aumento das portagens e a luta alastrou-se aos pescadores de Leixões e aos estudantes. Depois tudo empalideceu. Não estará na altura de mostrarmos o cartão amarelo através da opinião e sonoros protestos contra o desrespeito dos funcionários públicos por quem, afinal de contas, lhes paga o ordenado?

Aristides Teixeira, Almada

As vacas já não sorriem

Acabou-se o sorriso das vacas que tanto encantou o professor Cavaco Silva! Vão deixar de sorrir, pela condenação à morte anunciada pelo ministro do Ambiente e não sei de quantas pastas mais.

Vamos comer menos carne de vaca. A seguir menos carneiro, depois menos cabra. Mas senhores, as vacas sempre existiram, carneiros e cabras idem, desde os tempos mais bíblicos. Estrumavam campos e eram sustento de milhares de humanos. Só que não havia automóveis, nem desflorestação, nem celuloses, nem Bayers, Monsantos etc., etc..

Não existem alternativas? Ou caninamente andamos todos a reboque dos interesses dos accionistas das multinacionais, vendedoras de produtos alimentares? Qualquer um sabe que árvores absorvem carbono. Mas arrasar a Amazónia é prioritário ao negócio. Florestas imensas em África vão sendo desbastadas para fornecerem a madeira. Alguém acredita que as multinacionais dos EUA, Brasil, Argentina, produtoras de gado vão abatê-lo? Não façam de nós estúpidos. Tenham pudor, ao menos.

Transportes públicos não poluentes não serão uma alternativa viável?  Pois são. Mas a WV, Fiat, BMW, Toyota, Renault, Peugeot, ESSO, Shell, Mobil, etc., têm de amortizar os investimentos e são eles que mandam. E carneiros querem que sejamos nós todos, não para abate, mas para trabalhar por salários de sobrevivência. Que mundo é este?

João Eduardo Coutinho Duarte, Lisboa

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