Cartas ao director

A revolta dos coletes amarelos

Ainda não foi uma revolução aquilo que aconteceu na França insubmissa. Foi uma revolta porque a revolução pressupõe uma mudança de regime. Mas o caso assume características inéditas porque não se trata de uma simples reivindicação de uma classe profissional, nem de um sindicato. Os próprios partidos políticos ficam à margem. Este tumulto protestativo provocado pelas redes sociais, não tem nenhum cabecilha a comandar. Por isso, não tem forças representativas que se possam apresentar a reivindicar junto do governo ou com os quais o governo possa negociar. A razão do tumulto que atingiu níveis inconcebíveis e desacatos incontroláveis de toda a espécie vai muito além do protesto conta o aumento dos combustíveis que fez despoletar a revolta. Apesar de Macron ter desistido desse aumento dos combustíveis e de ter aumentado o ordenado mínimo 100 euros, nem isso apaziguou os ânimos que continuam exaltados. Desta vez, trata-se de uma revolta inédita porque depressa arregimentou uma multidão de gente que luta contra as desigualdades das classes mais desprezadas e ignoradas, até aqui sem voz, provocadas pelo Estado que dividiu os franceses entre os protegidos e os expostos, isto é, entre as elites e as camadas da população que têm dificuldades económicas e pouco poder de compra.

Por outras palavras, os revoltosos sentem que a riqueza está mal distribuída. Não se pode resolver a crise económica sem lutar contra as desigualdades e contra um sentimento colossal de injustiça e desprezo. É a recusa de um mundo moldado pelas desigualdades sociais, salariais ou estatutárias. No auge da revolução de Abril, com o governo cercado pelos revolucionários, Pinheiro de Azevedo, ao tempo primeiro-ministro, disse: "O povo é sereno." E continua sereno. Até um dia!

Artur Gonçalves, Sintra

As fobias propagandísticas na era global

É notável como os pesos e as medidas vão variando consoante as conveniências da globalização. Agora, com sanções a torto e a direito ao país A e ao país B, a livre concorrência do mercado já é ditada por conveniências particulares unilaterais segundo interesses geopolíticos pouco confessáveis. Assim, nesta época da regência Donald Trump, acordos internacionais são rompidos unilateralmente pelos Estados Unidos, tanto comerciais como políticos,  energéticos e ambientais. A chantagem passa a linguagem natural, pela implícita lei da força, não pela força da lei. E, entretanto, para condimento ideológico, exacerbam-se fobias propagandísticas interesseiras, como a russofobia tradicional, acrescentada agora de uma sinofobia ascendente. Uma névoa densa cobre o planeta Terra para os astronautas em órbita na estação internacional.

José Manuel Jara, Lisboa 

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