Um tapete inspirado em Stanley Kubrick com música, movimento e ilusões de óptica

Stitchomythia, que tem a sua estreia mundial este domingo em Serralves, é um concerto/instalação de Nadia Lauro e Zeena Parkins, em que um tapete anamórfico é a personagem principal.

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Paulo Pimenta
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Quando Nadia Lauro e Zeena Parkins foram juntas, pela primeira vez, a uma retrosaria em Nova Iorque para comprar pedaços de rendas, perceberam que estavam de acordo na escolha dos padrões, mas que viam neles coisas distintas. “Eu via a possibilidade de criar uma anamorfose, enquanto a Zeena via música”, recorda Nadia Lauro. E isso concretizou-se. Foi precisamente a partir dessas duas ideias – a primeira de uma artista visual e cenógrafa, a segunda de uma compositora e harpista – que nasceu Stitchomythia, um concerto/instalação performativa em estreia mundial no Auditório de Serralves, este domingo, às 18h, numa co-produção com várias entidades, entre elas o Centre Pompidou e o ICI – Centre Chorégraphique National Montpellier.

Há corpos em Stitchomythia, mas a personagem principal é um tapete anamórfico que cobre o palco. Concebido por Nadia Lauro a partir de fragmentos de rendas, que a artista digitalizou para depois fazer “tricô no Photoshop”, este tapete provoca uma série de ilusões ópticas graças à sua topografia em anamorfose: quanto mais longe o espectador estiver na plateia, melhor conseguirá ver as ondas, os sulcos e as dobras que, na realidade, não estão lá. É tudo um jogo de percepção e ilusão – um jogo que é muito diferente para performers e público. Volmir Cordeiro, Latifa Laâbissi e Stephen Thompson, os três bailarinos que partilham o palco com Zeena Parkins, vêem o tapete tal como ele é: completamente plano. Mas também são eles que nos ajudam a ver o que não está lá. “Para os performers, isto é um mapa”, diz Nadia Lauro. “Eles sabem que, para o público, está ali uma onda. Podem jogar com isso, intensificando a topografia, ou podem até negá-la. É muito interessante este conflito, este desfasamento perceptivo.”

Tanto Nadia Lauro como Zeena Parkins preferem chamar os performers de “visitantes”. Apesar de serem “bailarinos incríveis” – Volmir Cordeiro e Stephen Thompson já tinham passado por Serralves, tal como as duas criadoras –, isto não é “uma peça de dança”, sublinha Zeena. “Os três constituem o espaço psicológico desta instalação.” Para Nadia, trazem “uma dimensão ficcional”, “uma outra camada de entendimento deste mundo”, sem nunca ocuparem o lugar de protagonismo que pertence ao espaço. “Vejo-o enquanto bailarino”, assinala Nadia Lauro, que começou a trabalhar nesta perspectiva do espaço “como personagem” aquando da instalação visual Anamorphic Rug (Tapete Anamórfico), inspirada no Hotel Overlook de The Shining, de Stanley Kubrick, em particular na alcatifa geométrica do filme. “O próprio hotel funcionava como uma personagem.”

Este tapete criado por Nadia, que pode ser considerado o prólogo de Stitchomythia, foi usado na peça Augures, de Emmanuelle Huynh, e em Chut, de Fanny de Chaillé. Entretanto, as suas pesquisas encontraram eco em Lace, projecto em curso de Zeena Parkins em que as rendas e os respectivos padrões são interpretados enquanto partituras para composição musical e improvisação – o que para a criadora, considerada pioneira da prática da harpa contemporânea (e que já colaborou com uma série de músicos, entre eles Björk, Sonic Youth ou Pauline Oliveros), são dois territórios inseparáveis. “A improvisação é uma parte enorme do meu trabalho, não faço distinção entre improvisação e composição. Posso levar a improvisação para ideias mais concretas, ou ao contrário. Não é um binário.” E é isso que acontece também nesta nova peça, em que cada padrão do tapete “dá uma informação”, uma nova pista a explorar. “Tem muito a ver com a relação entre a composição e a geometria”, aponta Zeena Parkins.

Também os performers se relacionam com o tapete como se de uma partitura se tratasse, e com diferentes níveis de improvisação, nota Nadia Lauro. “Dentro da partitura, ou das várias partituras dadas pelas rendas, há uma improvisação, mas não é fazer o que lhes apetece. É muito específico, estratégico, com vários tempos.” O que Stitchomythia traz definitivamente de novo a Zeena Parkins, comparativamente com os vários capítulos de Lace, é “o espaço psicológico, fantasmático”, “uma noção de perda de tempo cronológico”. Essa ambiência está intimamente conectada com as pesquisas das duas artistas sobre comunidades de mulheres que fazem manualmente rendas para acessórios de luxo, com pequenos paus de madeira e em movimentos sucessivos de cruzar e enrolar, num modus operandi semelhante ao da renda de bilros. “É um processo muito intricado, muito do espaço interior. Há uma espécie de enfeitiçamento.” E aí entram os “visitantes”. “Os performers são como fantasmas que dialogam com essa dimensão”.

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