Ronaldo entra na história do derby de Turim

Português garantiu o triunfo da Juventus no terreno do Torino e registou o golo cinco mil da sua equipa na Serie A. Uma entrada de rompante num clássico centenário

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Cristiano Ronaldo cpontinua a encantar a Juventus Reuters/MASSIMO PINCA

A estreia de Cristiano Ronaldo no escaldante derby de Turim ficará na história da Juventus. O português apontou o único golo da sua equipa no terreno do Torino, na marcação de uma grande penalidade. E não foi um golo qualquer, como é habitual num jogador que é também um autêntico livro de recordes estatísticos. Nada mais que o golo cinco mil da "vecchia signora" no campeonato.

Há muito que o clássico de Turim deixou de ter o mediatismo de outras eras, mas a rivalidade entre os dois clubes da cidade nunca perdeu emoção. O engrandecimento da Juventus nas últimas décadas coincidiu com a lenta agonia do Torino, que continua a ser, apesar de tudo, a quinta equipa com mais títulos italianos.

O clássico perdeu também muita da sua imprevisibilidade, tendo o Torino festejado apenas um triunfo nos últimos 23 anos. É verdade que alguns deles foram passados na Série B, mas mesmo assim as equipas defrontaram-se por 27 vezes neste período. A Juventus venceu 21 destes encontros e empatou cinco, sobrando para o seu rival um único sucesso, a 26 de Abril de 2015, para o campeonato.

Apelidado de derby della Mole - em referência ao mais icónico monumento da cidade, a Mole Antonelliana, um edifício com 167,5 metros de altura, inaugurado em 1893, que coincide com o ano da fundação da Juventus -, este clássico centenário é pródigo em histórias e em capítulos menos edificantes expressivos da grande hostilidade entre os adeptos.

Uma rivalidade que extravasou as fronteiras desportivas e se tornou um espelho das clivagens sociais que se têm feito sentir no último século na capital da região de Piemonte.

No início, a Juventus representava a alta burguesa e a aristocracia. Como a classe trabalhadora piemontesa não se reflectia neste emblema elitista promoveu a fundação do Torino, em Dezembro de 1906, através da união de forças dos já existentes Internazional Torino e Foot-Ball Club Torinense.

Uma estratificação social original nos dois clubes, espelhada por Mario Soldati, escritor, crítico e cineasta italiano (1906-1999), nascido em Turim, no seu romance Le due città (1964): “Atravessaram a Piazza Vittorio, que na penumbra da noite parecia interminável. Já a falarem de futebol. Emilio, naturalmente era da Juventus, a equipa dos cavalheiros, dos pioneiros da indústria, dos jesuítas, dos bem-pensantes, de quem tinha terminado o liceu: os burgueses ricos. Por sua vez, Giraudo era naturalmente apoiante do Toro, a equipa dos operários, dos imigrantes dos países vizinhos ou da província de Cuneo e Alessandria, daqueles que fizeram a escola técnica: os pequeno-burgueses e os pobres.”

O derby teve o seu primeiro capítulo a 13 de Janeiro de 1907, que foi também o jogo de estreia do recém-criado Torino Football Club. Nascia uma rivalidade electrizante no futebol transalpino. A partida original foi ganha pelo Torino, por 2-1.

Desde então muito mudou nas bases dos dois emblemas, especialmente na Juventus. A partir da década de 1960, intensificou-se a migração de trabalhadores provenientes do Sul do país, das regiões da Sicília e Calábria, para o Norte industrializado, tendo muitos como destino as fábricas automóveis da Fiat, empresa da família Agnelli, ainda hoje proprietária da Juventus. A “vecchia signora” popularizava-se em Turim, em toda a Itália e no mundo.

E é precisamente a nível internacional que a Juventus tem a principal aposta esta temporada. A contratação galáctica de Cristiano Ronaldo é a última peça da estratégia que tem na mira a Liga dos Campeões, uma competição que já conquistou duas vezes (1984-85 e 1995-96) e onde quer voltar a reinar.

Entretanto, vai passeando pela Liga italiana, onde se prepara para festejar o oitavo título consecutivo. Um tédio. O triunfo deste sábado coloca a liderança da Juventus a 11 pontos de distância do segundo classificado, o Nápoles, que joga apenas este domingo.

O golo de Ronaldo (70’, após uma falta sobre Mandzukic) coloca o madeirense no topo da lista de melhores marcadores, com 11 golos. E o seu nome entrou definitivamente na história do derby della Mole.

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