Factura sem papel é “caminho inevitável”

"Estas coisas não se fazem de um dia para o outro", diz a distribuição. Associação ambientalista afirma ser "crucial" garantir "confiança" dos consumidores no sistema.

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Nuno Ferreira Santos

O Governo promete criar condições para reduzir a emissão de facturas em papel, decidiu o Conselho de Ministros esta quinta-feira. Ambientalistas e o sector da distribuição concordam que este é o caminho a seguir, mas pedem gradualismo na aplicação da transformação.

A iniciativa – a medida 51 das 175 do projecto Simplex+ – vai surgir no projecto E-factura 2.0 e vai alterar alguns procedimentos relacionados com a facturação física de serviços e compras.

O PÚBLICO avançou, na semana passada, que o projecto avança no início de 2019 e os consumidores vão poder optar se querem receber factura no acto de uma compra.

Para o presidente da associação ambientalista Zero, "é inevitável" que a passagem das facturas em papel para meios digitais seja "o caminho" a seguir.

Nas contas desta associação, se as facturas em papel acabassem por completo isso significaria menos 281 mil árvores cortadas por ano, o equivalente a uma floresta do tamanho de 281 campos de futebol.

O papel das facturas que se utiliza nos hipermercados é denominado de papel térmico. Normalmente, uma folha A4 equivale a quatro recibos de tamanho normal, refere o director-geral da Associação Portuguesa de Empresas de Distribuição (APED), Gonçalo Lobo Xavier.

Jumbo gasta 250 mil euros por ano em papel

A Auchan, dono dos hipermercados Jumbo e da cadeia de lojas de electrodomésticos Box, disse ao PÚBLICO que gasta cerca de 250 mil euros por ano em papel, fabricado na Alemanha e em Espanha, e fornecido por uma empresa portuguesa.

O caminho da redução do uso de papel “é muito interessante e tem de ser feito", refere o director-geral da APED.

"Não há qualquer dúvida do interesse dos nossos associados nesse sentido. Estamos alinhados com o Governo e a Secretaria de Estado dos Assuntos Fiscais. Tudo isto faz parte do ADN da distribuição, mas estas coisas não se fazem de um dia para o outro", acrescentou.

Também Francisco Ferreira, da Zero, defende que a mudança deve ser gradual. "É crucial que as pessoas percebam que devem ter confiança no sistema. Muitas pessoas pedem o recibo para ver o extracto do cartão multibanco porque duvidam se uma transacção não é declarada ou registada correctamente”, diz. E exemplifica com o serviço de facturação da Uber, que é feito por e-mail após cada viagem realizada.

O ambientalista aponta ainda algumas “desvantagens” ecológicas da medida: Gastamos mais energia para garantir a transmissão de dados e o seu processamento, utilizamos mais equipamentos, que já existem e são garantidos por fontes renováveis”.

O pacote de medidas vai ter impacto na vida das empresas em 2019. O prazo de envio das facturas à Autoridade Tributária vai ser feito mais cedo todos os meses – até ao dia 20 de cada mês, segundo o Expresso.

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