Os blockbusters com actrizes como protagonistas são mais rentáveis

Estudo em colaboração com a iniciativa Time's Up conclui ainda que os filmes que passam no teste Bechdel têm ainda melhores resultados de bilheteira.

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Emma Watson em A Bela e o monstro DR

Passar no teste Bechdel parece simples: basta um filme ou série ter uma cena em que duas mulheres falam entre si sobre outra coisa que não sobre um homem. Mas 40% dos filmes avaliados num novo estudo sobre os blockbusters de 2014 a 2017 não passam no teste. Ainda assim, o mesmo estudo mostra que os filmes de grande orçamento com mulheres protagonistas e que passam no teste Bechdel têm melhores resultados de bilheteira do que os blockbusters com homens ao centro.

Dos 350 filmes mais rentáveis de 2014-2017, com orçamentos entre abaixo dos 10 milhões de dólares e acima de 100 milhões de dólares, o estudo das agências shift7 e Creative Artists Agency conclui que aqueles que têm mulheres nos principais papéis ganham mais dinheiro no box-office (independentemente do seu orçamento). Entre os blockbusters que passam o teste Bechdel estão três filmes Star WarsO Despertar da Força, Rogue One e Os últimos Jedi –?, mas também Bela e o monstro, Divertida-mente ou Capitão América: Guerra Civil, entre outros.

Nem todos têm actrizes como principal nome no cartaz – há algumas nuances que têm a ver com a base de dados usada para fazer as contas e que em O Despertar da Força atribuiu papéis de protagonismo a actores como Harrison Ford, o seu mais conhecido rosto e provavelmente o mais bem pago, e não a Daisy Ridley.  

O total de 350 filmes faz-se com 245 filmes com protagonistas homens e 105 com mulheres protagonistas. As contas indicam que os filmes com orçamento acima dos 100 milhões de dólares conseguiram, quando com protagonistas femininas, 516 milhões de euros de receitas brutas de bilheteira em média. Os filmes na mesma categoria orçamental mas com homens nos principais papéis conseguiram uma média de 453 milhões de euros. “São provas poderosas de que o público quer ver toda a gente representada no ecrã”, diz a produtora Amy Pascal. “Os decisores de Hollywood têm de dar atenção a isto.”

O teste Bechdel foi também usado para chegar aos resultados. Originalmente surge a partir de uma tira da cartoonista Alison Bechdel e é uma maneira informal de avaliar se uma obra ficcional reflecte autonomia e interesse individual nas mulheres, sem o filtro do interesse masculino. Tem três elementos: que haja pelo menos duas mulheres no filme; que elas falem entre si; e que falem sobre qualquer outra coisa que não um homem. “É uma fasquia baixa a ultrapassar, mas é surpreendente quantos filmes não a passam”, comenta, num comunicado, a produtora Liza Chasin, um dos rostos do estudo. O mais recente filme que teve receitas acima de mil milhões de dólares e que não passou o teste Bechdel data de 2012 e é O Hobbit: Uma Viagem Inesperada. Todos os filmes recordistas dos últimos três anos, diz o estudo, passaram no teste.

Há décadas que algumas universidades e centros de investigação norte-americanos compilam dados sobre a demografia e a diversidade dos filmes mais rentáveis no país, o centro de produção audiovisual líder no mundo. A ausência de mulheres nos papéis de protagonista, assim como de negros ou outras raças, e de representação da comunidade LGBT ou de pessoas portadoras de deficiência, por exemplo, tem sido uma constante – noticiada a par da disparidade salarial ou da parca presença desses mesmos grupos nos bastidores da indústria que tem a representação no seu centro. Em 2017 sabe-se que só conseguiram protagonismo em cerca de 25% dos filmes mais rentáveis, por exemplo. No ano anterior só 7% dos 250 filmes mais rentáveis do ano tinham sido realizados por uma mulher.

O movimento #MeToo e organizações como a Time’s Up, fundada para promover combater o assédio sexual no ambiente laboral na esteira da avalanche MeToo, têm dado mais visibilidade ao tema. 

Agora, foi a vez da agência de talentos Creative Artists Agency, que representa actores ou desportistas, e da consultora de media shift7 (fundada pela assessora do Presidente Barack Obama para a tecnologia, Megan Smith) juntarem informação sobre os filmes mais rentáveis de 2014-2017 – associando-se à Time’s Up. Envolvidas neste processo estão Amy Pascal, outrora uma das mais poderosas (e raras) responsáveis dos grandes estúdios de Hollywood – uma das vítimas do ataque informático aos emails da Sony –, e a actriz Geena Davis, que há anos fundou uma organização para promover a progressão das mulheres no sector.

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