Administrações bancárias com visão de futuro 1.0

Contrariamente às administrações da CGD e do BST, há quem no sector prefira um rumo indigno.

Permitam-me que comece por aquilo que tem nota positiva e é merecedor de elogio: saúdo a atitude das administrações da Caixa Geral de Depósitos (CGD) e do Santander Totta (BST) que, em tempo útil, fecharam com os seus trabalhadores e seus representantes processos negociais complexos.

Nestes dois casos, houve da parte destas instituições a preocupação de fazer uma actualização salarial que, sendo igual para todos (0,75%), premeia o mérito, mas em simultâneo protege os que menos ganham (terão actualizações maiores e que poderão chegar aos 2,5%). Igualmente relevante, importa notar que tanto a CGD como o BST atribuíram um aumento mínimo para todos os trabalhadores sem qualquer distinção.

Os aumentos poderiam ter ido mais longe?

Na minha opinião, sem dúvida que sim. Tenho perfeita consciência da frágil linha de gelo em que nos movemos e por isso, todos, accionistas e trabalhadores, têm de conter as suas legítimas expectativas.

Obviamente, os bancos continuam a pagar a factura do despautério e da embriaguez irresponsável das duas décadas anteriores, para não recuar mais. Um legado muito duro que impede ainda hoje as nossas instituições de crédito de ter um rating que lhes permita emissões de dívida nos mercados a longo prazo.

Em todo o caso, a banca encontra-se, felizmente para todos, a recuperar e este ano o sector registará um crescimento de mais de 80% dos seus resultados líquidos. Com lucros desta ordem de grandeza, naturalmente, seria e era de esperar que os trabalhadores fossem recompensados pelo seu esforço, empenho e dedicação.

Porém, após meses de negociações inconsequentes com a Associação Portuguesa de Bancos (APB), o ano está próximo de se encerrar sem que se alcance um acordo geral sobre as actualizações salariais e demais cláusulas de expressão pecuniária.

Contrariamente às administrações da CGD e do BST, há quem no sector prefira um rumo indigno. Um caminho alternativo que assenta na "punição" aos mais velhos em detrimento dos mais novos, e no "sacrifício" dos mais qualificados e com maiores responsabilidades.

Estes administradores, com uma visão 1.0 do futuro da banca, olham para os trabalhadores como um custo e nada mais do que isso. Assim, em vez de premiarem os mais novos e em fase ascendente das suas carreiras, estes “burrocratas”, se me permitem que me apodere por momentos da expressão de Herberto Helder, preferem punir e redistribuir, numa manobra tacanha e digna de gente sem qualquer respeito pelos seus concidadãos. Entre os “burrocratas”, em pleno século XXI, há quem prefira ainda enveredar por manobras eticamente reprováveis e que mais não pretendem do que dividir a classe bancária.

Atitude e pensamento que cheira a mofo, mais ainda nestes dias dominados pelas imagens dos “coletes amarelos” em França. Para que o mal triunfe, basta apenas que os bons não façam nada, observou em tempos, Edmund Burke. É absolutamente lamentável o cenário que se está a desenhar. Em todo o caso, nada que os trabalhadores bancários não resolvam, se necessário, nem que para isso tenham de avançar para um Natal bem "quente".

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