“Incerteza no sucesso integral" da dispersão de acções ditou desistência da Vista Alegre

O presidente da Vista Alegre Atlantis, Nuno Marques, diz que os projectos de investimento estão assegurados e não afastada nova tentativa junto do mercado de capitais.

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Grupo VAA teve receitas de 63,9 milhões nos primeiros nove meses, mais 5% face a 2017 Daniel Rocha

O presidente da Vista Alegre Atlantis (VAA), Nuno Marques, garante que “não houve nenhuma falta de interesse dos investidores institucionais” no processo de dispersão de capital em bolsa, ontem cancelado pela empresa.

“A deterioração acentuada dos mercados financeiros vivida em especial desde o lançamento da oferta levou-nos à decisão de suspensão da operação de dispersão, dado haver alguma incerteza no sucesso integral da mesma”, afirmou o gestor ao PÚBLICO, em respostas por escrito.

“Os investidores institucionais (nacionais e internacionais) apreciaram e demonstraram interesse na Vista Alegre”, garante Nuno Marques. No entanto, isso não foi suficiente para manter a operação até ao fim.

Conforme escreveu o PÚBLICO, a estratégia da VAA, que engloba empresas como Faianças Bordalo Pinheiro e a Ria Stone (que produz para a Ikea), passava pela angariação, no mínimo, de 30,5 milhões de euros (30.481.823 acções a um euro), com a dispersão de 17,5% do capital (entre acções detidas pela Visabeira e emissão de novos títulos com aumento de capital). No máximo, a operação poderia render 56 milhões de euros (43.545.470 acções a 1,3 euros), com a dispersão de 25% do capital em bolsa, onde hoje está presente de forma residual.

Uma das condições para que a oferta se concretizasse era a existência de uma procura de, pelo menos, 30.481.823 acções, das quais no mínimo 11.337.279 ligadas à vertente institucional.

Além do encaixe financeiro, que serviria para novos investimentos e redução da dívida, a empresa conseguiria também aumentar o peso das acções dispersas em bolsa (o free float), algo que lhe daria maior interesse e visibilidade no mercado de capitais. Hoje, apenas 2,46% está disperso em bolsa, cabendo outros 3,4% à Caixa Geral de Depósitos e 94,14% à Visabeira.

Sobre os novos investimentos, Nuno Marques assegura que “todos os projectos em curso nas diversas fábricas do perímetro da Vista Alegre estão a ser concretizados nos timings previstos e têm o seu financiamento assegurado através de capitais próprios e capitais alheios (Portugal 2020 + banca tradicional)”. Já no que toca à questão da redução da dívida, nada disse.

Entre passivo corrente e não corrente, os empréstimos bancários estavam nos 32,9 milhões de euros no final de Setembro, 29% acima do mesmo período do ao passado (e dos quais 15,6 milhões estavam no passivo corrente, mais ligado ao curto prazo). De acordo com o relatório e contas de 2017 da VAA, os empréstimos negociados com a CGD e com o BCP implicam condições como a “impossibilidade de distribuição de dividendos, reembolso de suprimentos ou outras formas de remuneração de accionistas”.

Destacam-se também, conforme referiu já o PÚBLICO, os empréstimos de accionistas, que estavam nos 26,9 milhões de euros. Metade deste valor, devido à Visabeira Indústria, devia ser regularizado até final deste mês, num processo ligado ao rearranjo do grupo que conduziu à entrada da Cerutil e da Bordalo Pinheiro na VAA.

Sobre o futuro e uma nova investida no mercado de capitais, o presidente da VAA diz ser possível reiniciar o processo de dispersão de acções em bolsa se se considerar “que todas as condições estão reunidas para tal”. No entanto, acrescenta, “neste momento é prematuro abordar este assunto”.

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