Team Sky perde patrocinador e fica com futuro incerto
Cadeia televisiva que financia a equipa irá terminar envolvimento no ciclismo no final de 2019. Formação procura novos investidores para a temporada que terá início em 2020.
Depois de oito anos ao mais alto nível, a Team Sky — que venceu o Tour de França por seis ocasiões, soma uma conquista no Giro de Itália e uma Vuelta em Espanha — vai deixar de existir. A Sky, cadeia televisiva britânica, anunciou que terminará todo o envolvimento da empresa com o ciclismo no final da temporada de 2019.
A Comcast — gigante norte-americana de telecomunicações — tomou conta da empresa britânica em Setembro, numa manobra que ultrapassou os 33 mil milhões de euros e que deixou no ar a decisão que acabou por ser anunciada aos ciclistas na noite de terça-feira, em Maiorca, no centro de treinos da Team Sky.
Citado pelo The Guardian, Dave Brailsford, director-geral da formação britânica, deixou uma palavra aos ciclistas da Team Sky, admitindo a esperança de que, em 2020, o colectivo percorra as estradas sob um novo patrocinador: “Enquanto a Sky vai deixar o ciclismo no final de 2019, a equipa está de mente aberta em relação ao futuro e ao potencial de trabalhar com um novo parceiro, caso a oportunidade surja”.
Dave Brailsford — que está na formação desde o primeiro momento — acredita que este contratempo não terá repercussões no desempenho da equipa na derradeira temporada: “Não estamos acabados, de maneira nenhuma. Ainda temos um ano de corrida à nossa frente e faremos o possível para continuarmos a dar sucessos à Team Sky em 2019”.
O fim de uma era
A equipa criada em 2010 tinha um objectivo claro: levar um corredor britânico à vitória do Tour, prova rainha do ciclismo a nível internacional. A montanha não foi tão difícil de escalar quanto se pensava. Em apenas duas temporadas, a Team Sky conseguiu que Bradley Wiggins mantivesse a camisola amarela até ao final da competição gaulesa que marcou o primeiro triunfo britânico na prova.
Em 2012, Chris Froome, outro dos corredores da Team Sky, terminou no segundo lugar do pódio mas, na temporada seguinte, ocupou o lugar maior em Paris. Com o primeiro triunfo na Volta a França, o ciclista britânico deu início a um período vencedor no Tour, que se estendeu com três vitórias seguidas (2015, 2016 e 2017). O terceiro triunfo consecutivo para a equipa na prova gaulesa coincidiu com a vitória na Vuelta, também com a assinatura de Froome.
A hegemonia da formação britânica causava mal-estar junto das restantes equipas do pelotão. Philippe Mauduit, antigo corredor e director desportivo da UAE Team Emirates mostrou-se descontente, em entrevista ao site Cycling Weekly, com a força dos britânicos: “O principal problema é a forma como eles ganham: não é de forma espectacular. Tudo o que fazem é da mesma forma, com muita arrogância e com um maço de notas no bolso que mostram a toda a gente”.
Apenas sete anos após ter sido criada, a formação da Sky dominava as estradas europeias, alicerçada no forte apoio económico do patrocinador. A cadeia televisiva investiu mais de 150 milhões de libras (165 milhões de euros) na equipa, quantia que transformou a Team Sky na mais rica do pelotão. Na temporada passada (2018), houve sucesso em dose dupla para a equipa de Dave Brailsford: vitória no Tour por Geraint Thomas e o primeiro triunfo no Giro de Itália, por Chris Froome.
A sombra do doping
Depois da primeira vitória britânica no Tour — protagonizada por Bradley Wiggins — um relatório parlamentar sugeriu que o corredor, com o conhecimento e auxílio da Team Sky, usou substâncias ilegais que contribuíram para a vitória na competição em 2012.
Também Chris Froome, vencedor por quatro vezes do Tour, foi implicado em alegações de doping, depois de ter acusado um resultado positivo numa etapa da Volta a Espanha. A análise revelou um resultado positivo à substância salbutamol, um broncodilatador, segundo revelou em comunicado a União Ciclista Internacional (UCI). “A minha asma piorou na Volta e por isso segui o conselho da equipa médica para aumentar a dose de Salbutamol”, explicou o corredor, que acabaria por ser ilibado das acusações na investigação anti-doping.
O facto de não ter sido castigado não impediu, porém, que a reputação do britânico fosse severamente manchada. Chegou-se, inclusive, a falar do afastamento do ciclista do Tour de 2018, o que não se veio a confirmar. Chris Froome participou mas, pela primeira vez em quatro anos, não conseguiu levar para casa a vitória, que ficou para o colega de equipa Geraint Thomas.
Os profissionais da Team Sky esperam, agora, pelo final da temporada e por um novo patrocinador, depois de oito anos como reis das estradas europeias.